Atualmente a viver em São Pedro do Sul, foi precisamente nesta cidade que Pedro Barroso conversou com o Fama ao Minuto no Grande Hotel Thermas, um local frequentado por si.
Apesar de estar mais afastado da ficção televisiva, não significa que não continue a apostar na carreira. E a sua vida não é feita só da representação, tendo embarcado noutros projetos, como uma produtora de conteúdos e a Amara (onde produz medalhas em braille, iniciativa que foi criada para ajudar o afilhado, Périto, e que tem vindo a crescer).
"Tenho outros talentos, a representação é um deles, aquele que mais me fascina e é por onde quero ir. Agora, neste tempo de pausa aprendi a dizer que não", disse.
Em certo tempo, aceitou os vários projetos que lhe eram propostos e chegou a fazer mais do que um em simultâneo. "São alturas que te dão um balanço, uma bagagem gigante". Mas, neste momento, não quer esse "desgaste".
Trabalhar no pequeno ecrã, diz, "é um trabalho como outro qualquer", e explicou que "hoje em dia não é o dinheiro que o move, é o propósito". A representação não é só televisão, estando a dar continuidade ao projeto 'A Poesia e a Música', que gostava de levar a todos os cantos do país.
Viver numa aldeia não é sinónimo de dias mais calmos, até porque o dia-a-dia continua preenchido e os objetivos mantêm-se. Apesar de estar longe do 'seu' mar, o coração continua cheio, agora de uma outra forma, com o carinho das pessoas que o rodeiam e com as novas histórias que lhe chegam de forma simples e serena. Uma vida mais "leve" e que lhe tem dado "muito prazer", junto da companheira, Mariana Marques, e do filho que têm em comum, o pequeno Santiago, que nasceu em abril.
Mas antes, começamos por recordar os primeiros passos na arte de representar. Em miúdo dizia à mãe que queria ser fotógrafo da Reuters, mas foi na representação que encontrou o seu lugar.
Começamos pelos 'Morangos com Açúcar', pois és um dos atores dessa geração. Como foi para ti essa experiência?
Foi muito positiva. Antes dos 'Morangos' já tinha feito uma série na RTP, 'P.I.C.A.', muito especial, que me deu outro tipo de bagagem. Fiz um filme e só depois é que fui parar aos 'Morangos', portanto, já vinha com uma bagagem, uma lição, um tato diferente. Sempre fui muito focado naquilo que tinha que fazer em relação ao meu trabalho, quando descobri que a representação era um talento que podia explorar. Muitas das vezes, acabava de gravar e ia para um curso de representação.
Não foram só atores que saíram dos 'Morangos', foram realizadores, câmaras, técnicos. Foi uma escola de formação muito intensiva para muita gente. Foi um marco na televisão. Mudou a televisão portuguesa, trouxe uma nova geração, novos atores, novas caras para o cinema… Trouxe uma abertura muito grande. Os 'Morangos com Açúcar' foram muito importantes e também na minha formação.
Na altura, quando a proposta me foi feita, tive uma da SIC e aceitei a da TVI. Fizeram uma proposta de ficar para a temporada de verão e inverno, portanto, um ano. O compromisso foi grande. Eram seis dias por semana, éramos todos jovens, mas foi uma série que me trouxe bastante saber. Às vezes olho para trás e penso que faria de forma diferente, com os 'Morangos' olho para trás e acho que para a altura estava muito bom. Fez parte da minha maturidade enquanto ator. Olho com carinho para esse momento da minha carreira.
Televisão é um exercício muito grande, traz-te muito aprendizado, é um grande compromisso
Foi uma formação intensiva…
Em termos de responsabilidade, de número de cenas, concentração… Éramos um grupo muito grande, sempre a trocar de sítio. Tudo aquilo envolve um trabalho de televisão que às vezes as pessoas não percebem que é desgastante. Há dias em que gravas estúdio e a seguir tens de ir 200 km para gravar naquele décor, e depois regressas a casa, comes, dormes e tens de estar preparado para o dia a seguir. É um trabalho muito grande quando queres singrar.
Televisão é um exercício muito grande, traz-te muito aprendizado, é um grande compromisso. Mas foi na televisão que me formei para depois conseguir, se calhar, catapultar para outras áreas.
Essa oportunidade muitas vezes é dada, esse primeiro papel desafiante, e depois tu tens que dar provas
Sentes, então, que a participação nos 'Morangos' abriu outras portas?
Abriu. Depois da série muito provavelmente alguém viu que estava aqui um talento, se calhar dos 20 e tal tiraram três ou quatro e eu tive o privilégio de ser um desses do meu grupo. E tive oportunidade de trabalhar noutros papéis. Depois, na altura, salto para a novela da noite, 'Meu Amor', onde ganhámos um Emmy com um personagem já com uma linha emocional muito densa. Foi um prazer imenso trabalhar com três pessoas por quem tenho um carinho gigante, a Margarida Marinho, o Nicolau Breyner e a Lídia Franco. Eu era um benjamim naquilo e fui muito acarinhado por eles.
Essa oportunidade muitas vezes é dada, esse primeiro papel desafiante, e depois tu tens que dar provas. E foi aí que eu acho que também dei um salto. Depois de uma linha juvenil, consegui mostrar alguma maturidade a nível emocional na construção de um personagem.
Tens um curso de piercings, também gostas de fotografia… Apesar de teres outras experiências, como é que seguiste a representação?
Foi de uma forma natural. Houve uma situação familiar que me fez ir até ao Algarve durante o verão - decidi ter um verão diferente e quis ter o meu primeiro trabalho que foi servir às mesas, fui reconstruir relações familiares. Juntei esse dinheiro de lá e comprei uma prancha de bodyboard, uma máquina fotográfica e fui tirar um curso de piercings. Um colega meu tinha um estúdio e eu ficava responsável pela parte dos piercings e geria com ele.
Estava a fazer melhoria de notas e tinha as manhãs livres. Há uma altura em que decidi ir para um curso de representação e nos primeiros dias foi-me feita uma proposta pela diretora do curso, que me perguntou se me podia levar a um casting. Disse que sim e fiquei com o papel.
A minha primeira experiência foi numa novela da noite da TVI, 'Fala-me de Amor'. Decorava, dizia as coisas organicamente, não percebia nada de câmaras. Era um personagem que era para ter três episódios e acabou com 38. Portanto, cresceu bastante. Mas foi aí que percebi que estava aqui alguma coisa, que me sentia bem, que me sentia à vontade e que haviam ferramentas.
Eu não estudei teatro, não vim dessa formação. Foi um percurso autodidata. Durante muito tempo era quase como se fosse 'de onde é que ele vem, o estranho'
Depois acabaste por fazer vários papéis em televisão… De todos os papéis que interpretaste até aqui, qual é que tem mais características do Pedro?
Nenhum, o que é incrível. O personagem tem que ter coisas tuas, és tu que depositas, é o teu corpo, a tua voz, a tua energia que está ali. O que me apaixona nisto é ter o poder de embarcar na história. Eu olho para um personagem e não olho como algo fictício, olho como algo real e, se calhar, esse pode ser um fator diferenciador, ou a forma como trabalho, numa linha mais intensa - ir atrás como fui para a comunidade cigana ou no papel da SIC que quis mesmo ir dormir para o estúdio no décor da sucata e trocar os dentes…
No Castro, este último personagem que fiz na SIC [em 'Golpe de Sorte'], foi um salto muito grande. Tinha feito uma paragem de um ano e na altura pensei que já não queria representar mais. Tinha dúvidas se seria capaz, se conseguiria ir buscar as emoções, se estava destreinado, se queria aquilo. Há medos que habitam dentro de ti e tu voltares é uma grande conquista. Na minha cabeça, honestamente, sabia que queria estar outra vez nomeado entre os melhores. Se era para voltar, o meu desafio era esse. Ter ganho o prémio outra vez foi incrível.
Este foi o único personagem em que um dia sai para ir para casa, estava no carro a ouvir uma música e tive um momento em que me caíram as lágrimas porque ainda não tinha desligado, pela intensidade
O que representa para ti esse reconhecimento?
Não tem a ver com os prémios. Tem a ver com o caminho que traças, com o meu percurso. Eu não estudei teatro, não vim dessa formação. Foi um percurso autodidata. Durante muito tempo era quase como se fosse 'de onde é que ele vem, o estranho'. E há coisas que eu sabia que coabitavam dentro de mim. Tu percebes quando tens um talento e depois cabe-te a ti trabalhá-lo ou não.
Tinha um compromisso muito grande comigo que era trabalhar intensamente. Houve momentos em que fui falho com a minha carreira, com os meus colegas, comigo e com a vida, mas nunca com aquele que era o compromisso emocional de trabalhar e crescer. Isso nunca foi um tiro no pé da minha parte.
O percurso que fiz com o Roni [n'A Herdeira'], a entrega, a intensidade… Esta loucura do Castro, o ter que voltar, os momentos em casa de meter as mãos à cabeça, cair uma lágrima e dizer que, se calhar, não era capaz de voltar aqui... E começas dentro da caixinha mágica a descobrir que consegues desmoronar uma emoção ou outra, que consegues ir buscar a voz, começas a sentir-te confortável... Este foi o único personagem em que um dia sai para ir para casa, estava no carro a ouvir uma música e tive um momento em que me caíram as lágrimas porque ainda não tinha desligado, pela intensidade. Às vezes gravávamos durante 12 horas…
Temos atores a catapultarem-se para fora... Foi uma das minhas apostas durante este último ano, aprimorar o meu espanhol e inglês. Houve castings que foram para fora
Que tipo de personagem ainda não fizeste e que gostavas de fazer?
Não consigo catalogar. Cada vez mais temos acesso a coisas tão interessantes, no mercado televisivo, e temos atores agora a catapultarem-se para fora... Foi uma das minhas apostas durante este último ano, aprimorar o meu espanhol e inglês. Houve castings que foram para fora. É nisso que tenho trabalhado. Existem propostas completamente fora da caixa por vezes. Aquilo que posso dizer é que gosto de uma linha emocional completamente disruptiva. Gosto de personagens que se rasgam por dentro, não gosto de fazer o protagonista, gosto do antagonista. É isso que me move.
Porque preferes ser o antagonista?
São personagens que têm outra cor, dá para tu colorires mais. Tem mais emoções…
Tem mais liberdade?
Sim! Não acredito que ninguém seja mau por natureza, portanto, como é que tu explicas. Há uma história para contar, onde é que está o ponto de viragem daquela criança ou daquela pessoa para ter este tipo de comportamento, o que é que o levou aqui… São personagens que me dão outro tipo de sabor… Desafia-me muito mais.
Fazeres um bom trabalho em televisão durante meses és um atleta de alta competição das emoções
Mas achas que essa escolha pode também ter a ver com o facto de te identificares mais a nível pessoal, ou seja, se calhar revendo um bocadinho a tua história?
É um bocadinho por aí. Tem a ver comigo, com a minha inquietude, com a minha vontade de querer mais, com a minha curiosidade. São personagens que me servem melhor, que consigo, inclusive, sentir-me mais concretizado a depositar a energia que tenho. Mesmo hoje em dia, as pessoas que trabalham comigo, muitas vezes dizem-me para abrandar porque não têm o meu ritmo. E, se calhar, vem de uma matriz que desenvolvi. A televisão, um dia de estúdio é altamente exigente. Fazeres um bom trabalho em televisão durante meses és um atleta de alta competição das emoções.
É uma viagem que proporcionamos às pessoas que termina com um texto do Périto. Encerra de forma muito genuína e mágica
Há pouco referiste que estavas a estudar espanhol e inglês e que a intenção agora é internacionalizar a carreira...
É uma das minhas intenções, com calma. Não houve nada agora que tenha desejado pressionar para esta fase. Neste momento a minha vida requer um outro tempo. Setembro, outubro, vamos ver o que é que estes tempos nos trazem.
Outra coisa que me alimenta bastante é o espetáculo de poesia. O mundo da representação não é só a televisão. Tive a possibilidade e a sorte de me cruzar com o Paulo [Lima], com quem tenho este projeto de poesia que é incrível. Não é só algo que me expande, como consegui cumprir aqui um bocadinho o legado que é o livro da minha mãe, alguns dos poemas são dela.
Pedro Barroso no espetáculo 'A Poesia e a Música'© Miguel Gaspar
Também tem poemas teus...
Sim, e depois tem dois textos específicos que é o 'Cântico Negro', do José Régio, e do primeiro monólogo que fiz… É uma viagem que proporcionamos às pessoas e que termina com um texto do Périto, que fez no último dia das gravações. Ele estava presente e o Paulo disse para ele ir falando, e eu complemento no final. Portanto, encerra de forma muito genuína e mágica.
Não ir fazer um projeto por fazer, pela necessidade da televisão e pelo dinheiro que podes ganhar. Acho que tem que existir outra coisa que me mova, e é bom quando chegas a esse patamar
E voltar à rotina da televisão que tinhas antes não é um objetivo, neste momento?
Não digo que não, mas estou num momento muito tranquilo da minha vida. Eu e a Mariana [Marques] temos dois negócios que correm muito bem… Aquilo que me trouxe este espaço foi que voltei a humanizar-me muito mais. Lisboa – não tem a ver com as pessoas – requer um espírito menos leve. E aqui tenho a possibilidade de descobrir talentos, voltar a coabitar noutro tipo de energia e valores que gosto, desenvolver projetos, se calhar fazer crescer o meu agregado familiar… E acho que depois as coisas naturalmente acontecem. Se me dissessem para fazer um projeto hoje, eu não ia. Se me dissessem amanhã, eu também não vou. Setembro, outubro…
Mas não penso, não pressiono, sei que as coisas vêm no momento certo e, acima de tudo, tem de ser um desafio, sentir que dou um salto até mesmo em termos de carreira. Não ir fazer um projeto por fazer, pela necessidade de fazer televisão e pelo dinheiro que podes ganhar. Acho que tem que existir outra coisa que me mova, e é bom quando chegas a esse patamar.
A primeira casa onde ficamos aqui na aldeia foi a primeira casa a ter rádio na aldeia
Como é que é esta nova vida? É uma tranquilidade…?
Não, não dou descanso a ninguém. Na verdade continuo com as mesmas rotinas. E esta é uma zona incrível em termos de qualidade de vida. As pessoas dão abraços, são sorridentes, estão disponíveis, convidam-te para apanhar mirtilos… Acho incrível e hoje em dia prefiro isso do que me convidarem para ir a um restaurante todo 'xpto' de Lisboa. Acho mais fixe fazer stories enquanto estou a apanhar batatas. Hoje estou aqui, estou feliz, estou bem. Em setembro, amanhã, tudo pode mudar.
Sentes que reencontraste uma melhor versão de ti aqui?
Acho que é disso que se trata, como é que tu amadureces, como é que cresces, como é que lidas contigo, como é que acresces valores aos outros, como é que aprendes. Existem aqui coisas muito bonitas. Gosto muito daquele meu cantinho mágico. Estou em casa, vou ao café…
Nunca fui de ir ao café, mas às vezes saio de casa depois das reuniões ou das filmagens e, de repente, estou a ouvir histórias de uma outra realidade - e gosto de ver os tios do café a jogar às cartas, das conversas deles, de histórias de há 50 anos, dos tempos em que tiveram que emigrar, do quão difícil foi há alguns anos… A primeira casa onde ficamos aqui na aldeia foi a primeira casa que teve rádio na aldeia. As pessoas juntavam-se para ouvir as notícias da guerra...
E a tranquilidade, independentemente da dor, que ele hoje em dia diz que vai voltar a ver, que tem isto e que acredita, que lutou - e lutou muito para uma criança. Ele é tão especial
E como está a correr o projeto das jóias em aço, das medalhas em braille, a Amara?
Corre muito bem. Não acredito num produto se não tiver história. Gosto de conseguir acrescentar. A Amara está a crescer e vamos agora passar a ter expositores feitos de madeira pelo Pedro - uma pessoa que trabalha connosco e que trabalha muito bem com madeira -, em lojas, isto será anunciado em breve. Passamos a entrar nas lojas, vamos escolher parceiros de norte a sul para termos aqui uma linha específica, mais comercial…
Estou muito contente e orgulhoso do trabalho que a Mariana, essencialmente, fez. Ela é que organiza, sistematiza, planeia… É incrível, passamos ali um momento menos tranquilo com o Santiago, foi muito duro, mas como é que ela consegue encaminhar as coisas da forma certa. Até mesmo enquanto projeto, enquanto marca, enquanto casal, porque tem que existir uma amizade, uma cumplicidade até mesmo parceiros de negócios… Estamos muito felizes.
Sentes que aprendeste muito com o Périto?
E continuamos a aprender. Não me vou esquecer do dia em que o Périto entrou pela primeira vez na minha casa [em São Pedro do Sul]. Eu e a Mariana estávamos preocupados, tínhamos a piscina e tínhamos que estar de olho nele… Dissemos-lhe onde ficava o quarto, a casa de banho… A dada altura ele disse que queria ir à casa de banho e disse logo: 'Já sei onde é que é'. E a tranquilidade, independentemente da dor, com que ele hoje em dia diz que vai voltar a ver, que tem isto e que acredita, que lutou - e lutou muito para uma criança. Tinha quatro anos quando perdeu a visão… Ele é tão especial.
Recentemente entrevistaste a tua mãe para o programa 'Júlia'. A família é um elemento muito importante na tua vida…
Sim, a família, mas a minha mãe é realmente o ponto mais importante, é a pessoa que me compreende melhor, que mais me acompanhou. A pessoa que me entende melhor em termos criativos e emocionais. É um grande alicerce, é muito presente. É minha mãe, mas é minha amiga. É uma pessoa com quem gosto muito de partilhar, de trabalhar, de crescer.
É importante não te pressionares para acreditar igual todos os dias, há dias em que não acreditas da mesma forma. Houve vezes em que quis andar depressa demais. Mas acredito que tudo acontece na altura certa
É a melhor amiga além de ser mãe?
Sim… Eu sou muito independente. Acho que às vezes a minha mãe fala mais com a Mariana. Mas se eu não digo nada ela suspeita que algo pode estar a passar-se. Cada relação é uma relação, e nós temos a nossa que é especial à sua maneira. Ela é uma pessoa muito importante para mim, sempre acompanhou a minha carreira, sempre me fez evoluir, nunca me cortou as asas e esteve sempre lá nos momentos mais difíceis em que tive que me reconstruir, e sem me julgar. E é nisso que eu também acredito.
Errar é humano, falhares é humano, mas importa um processo de empatia, essa empatia com a dor dos outros é muito importante. Todos nós as temos, há uns que camuflam mais, mas tu não estás bem o tempo inteiro. Tu não tens a certeza o tempo inteiro. É um processo de cada um, mas depois é bom teres pessoas que sejam tuas ouvintes, tuas encaminhadores, que caminhem contigo, e é disso que é feita a vida.
Após tudo o que já viveste, quais os conselhos que consegues dar a ti próprio?
Estares conectado com o teu instinto é muito importante. Não perder o meu lado em estar conectado com o meu instinto, não deixar de [respirar] e continuar a ter o coração, não deixar de ser o entusiasta, ser mais sereno com as emoções… Isto são coisas que vais aprimorando. Se calhar, sempre fui muito mais emocional e às vezes o meu racional não estava tão pro-ativo. As emoções é aquilo que muitas vezes te podem fazer oscilar e são coisas que podes trabalhar ao longo do tempo.
Há dias cinzentos, há dias menos sorridentes, dias em que parece que o peso nas costas volta. É importante não te pressionares para acreditar igual todos os dias, há dias em que não acreditas da mesma forma. Houve vezes em que quis andar depressa demais. Mas acredito que tudo acontece na altura certa.
Sinto que teve de partir de mim, de não ter receio de dizer que me estou a sentir sozinho, perdido ou ansioso. E é quando passas a ser mais honesto contigo e com as pessoas à tua volta que as pessoas também se aproximam
Hoje sentes que não estás sozinho?
Sinto que há muita gente que se pode aproveitar das tuas fraquezas, tem a ver com a natureza do ser humano, há sempre alguém que vai tentar prejudicar-te, tirar partido de ti, faz parte do mundo. Mas acredito que cada vez que te expões, há mais pessoas contigo, que as pessoas te entendem melhor.
Os ciclos de amizades vão mudando, são ciclos de vida. Sinto que também aprendes a escolher melhor, tentar ler melhor as pessoas, não vais deixar que as pessoas te acompanhem por um certo determinado tempo. Porque existe um propósito para aquela pessoa ali estar, um tempo certo para as relações, existe um tempo de crescimento.
Sinto que eu próprio cuido melhor de mim, logo também houve um espaço para que as pessoas se aproximassem e entrassem na minha vida, e dar lugar a outras coisas. Sinto que teve de partir de mim, de não ter receio de dizer que me estou a sentir sozinho, perdido ou ansioso. E é quando passas a ser mais honesto contigo e com as pessoas à tua volta que as pessoas também se aproximam. Às vezes aquilo que pode parece arrogância, às vezes quando viras as costas é só porque não estás bem ali. Passei também a deixar que cuidassem de mim.
Existem coisas a aprender mesmo enquanto casal, há uma dinâmica diferente e isso é muito bonito
Quem é o Pedro hoje em dia?
Se olhasse de fora ficava contente de ouvir uma história assim partilhada. A vida são altos e baixos, é a tua reconstrução, a tua maturação, o teu crescimento, foco nas coisas e o legado que deixas. Existe aqui um número imenso de possibilidades para o futuro. Fico muito contente de olhar para mim, mesmo com os meus dias menos bons. O meu dia a dia continua a ser corrido. O meu maior orgulho é de não ter desistido e continuar aqui. E isso é muito bom, continuar a lutar, a querer melhorar para poder construir mais. Existem mais coisas para acontecer.
Que conselhos esperas que o teu filho receba?
Acho que ele tem uma mãe incrível com valores sólidos e dona de uma tranquilidade… Se ele quiser a serenidade da mãe, o sorriso da mãe, o nervo positivo do pai, a ambição, o querer ir atrás, o querer descobrir… Existem tantos conselhos no meio deste caminho que eu se calhar vou beber dele sem saber que me está a dar, tanta coisa que vou aprender com ele…
Existem coisas a aprender mesmo enquanto casal, há uma dinâmica diferente e isso é muito bonito porque descobres coisas da pessoa que está contigo, descobres coisas em conjunto, um outro nível de amor, paixão, compromisso.
Não lhe posso dar conselhos nenhuns agora, aquilo que posso dizer hoje, se calhar é errôneo lá à frente. Na verdade, com o leque de experiências que vivi, positivas e menos positivas, de alguma forma se o puder encaminhar ou puder dar a mão para o afastar de algumas coisas… No entanto, teve pessoas que me tentaram dar a mão e é um caminho que é só teu, portanto, eu tinha que passar por ali.
Nesse aspeto tenho uma mãe incrível e um avô incrível, que nunca me largaram, nunca me desampararam. Tenho as minhas referências. Não há vergonha. É para o bom e para o mau. E estar presente, que é a coisa que mais desejo. Nesta altura é isto que eu quero, é esta casa, esta quinta, são estes desafios, estes projetos e é ali.
A fé ajuda, acho que o amor cura. Aquilo que me curou ao longo do tempo foi o amor
Onde gostavas de te imaginar daqui a cinco anos?
Continuar a ter o nosso projeto aqui. Vejo-me aqui com a nossa casa, se calhar a trabalhar já com um pisar lá fora…
Sentes que a fé cura?
Nunca soube muito bem explicar porque é que fui fazer os caminhos de Santiago de Compostela a primeira vez, senti que era alguma coisa maior que tinha que largar, conectar. Acho que posso dizer que voltei a ganhar fé depois de a minha avó falecer. Foi no Japão a primeira vez que voltei a rezar, a conectar-me com alguma coisa de uma forma muito mais fiel, fidedigna. A fé ajuda, acho que o amor cura.
Aquilo que me curou ao longo do tempo foi o amor dos amigos, eu deixar que as pessoas entrassem, foi o Périto, numa altura em que o processo era muito difícil, foi o amor dele… O amor ajuda muito na dor. Há alturas em que tens amor mas não o deixas entrar, em que não estás nada recetivo, outras que nem estás ciente daquilo que está próximo. Às vezes pressionamos para que as coisas aconteçam e nós, enquanto seres humanos, temos que respeitar que há um tempo para a dor, há um tempo para a maturação, há um tempo para sarar a perda, há um tempo para sarar uma relação… Há um tempo…
Hoje és feliz?
Hoje estou feliz. Tenho sido muito feliz nos últimos tempos. Estou feliz com aquilo que tenho, com aquilo que criei, com a família que escolhi, com os meus projetos, com aquilo que são os meus sonhos.
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