O início da transmissão de "Vila Faia" foi um pouco turbulento. Uma parte dos actores não se mostrou satisfeita com o horário de exibição. Que balanço faz deste quatro meses em que a novela está no ar?
Há sempre diversos balanços a fazer, mas o de uma novela transmitida duas vezes por semana é complicado no que diz respeito à resposta do público, por ser diferente, intermitente e irregular. A elaboração da personagem do Henrique Gouveia teve, sem modéstia, um resultado credível, apelando ao de que menos nobre tem o ser humano. É sempre convidativo explorar os baús mais recônditos, os que tresandam a mofo. Os podres do nosso género, o humano, são sempre caminhos ricos para desvendar.
Fale um pouco sobre o seu novo trabalho, a série "Pai à Força".
Pretende-se que seja uma série transversal, ao bom estilo de algumas séries familiares e tão abrangente quanto possível, até por se tratar de um projecto para a estação pública. Poderia demorar-me em elogios infindáveis ao trabalho efectuado por toda a equipa e principalmente pelo "Pai" da série, o Jorge Marecos. Mas direi apenas que o resultado estético e a densidade dramática ultrapassam qualquer tipificação ou estereótipo que possamos ter já nas nossas poluídas cabeças.
Já passou por todos os canais portugueses, em diferentes projectos. Que projecto lhe deu mais gozo fazer até agora?
Tenho uma série de preferências por motivos diferentes. Por isso, nunca poderia mencionar um projecto em particular.
O que falta concretizar na sua carreira de actor?
Tudo. Sou demasiado novo para ver um fim. Mais, se visse um fim ou uma meta final numa profissão de descoberta, de criatividade, de exploração, mesmo que de mim próprio como ponto de partida, estaria à beira da morte, pronto para a derradeira viagem exploratória. Os limites nunca alcançados dentro de nós fazem-me ter uma atracção especial pelos abismos, pelo transcendente, qualquer que seja a direcção que nos impusermos. Os extremos sempre mais rasgados são papéis que muito me atraem.
O que se imagina a fazer daqui a 20 anos?
Imagino-me a trabalhar na Nasa como engenheiro aeroespacial, pronto para largar do Cabo Canaveral. Sempre além. Que é como quem diz na descoberta...