Para quem acompanha de perto a carreira de Paula Deen sabe que uma das coisas que a distingue das restantes chefs é a sua boa disposição e grande sentido de humor. Talvez para a maioria das pessoas seja uma grande surpresa que o amor pela culinária tenha surgido durante umas das fases mais difíceis da sua vida: em 1966 foi diagnosticada com agorafobia, um transtorno mental caracterizado pelo medo irracional de estar em lugares públicos e contra o qual lutou durante 20 anos.

“Apaixonei-me por tudo aquilo que podia fazer dentro da minha casa, porque era um lugar onde me sentia segura. Onde não tinha de ter medo de nada. Assim apaixonei-me pela cozinha, pela pintura e decoração”, disse em entrevista à Fox News Magazine.

Após a morte dos pais e o fim do seu casamento, Paula Deen precisava de uma solução que lhe permitisse dar a volta por cima e garantir uma fonte de sustento para si e os dois filhos, Bobby e Jamie. Corria o ano de 1989 quando a família se mudou de armas e bagagens de Albany para Savannah onde Deen investiu tudo o que tinha na abertura do The Bag Lady: um serviço de entrega de refeições caseiras que permitiu à americana por em prática os conhecimentos da culinária sulista que tinha aprendido com a avó materna, Irene Paul.

Graças ao sucesso deste serviço de entregas, anos mais tarde Paula abriu o seu primeiro restaurante, The Lady & Sons, que, sem saber, viria a ser um dos grandes impulsionadores da sua carreira e iria transformá-la numa das chefs de cozinha mais queridas da televisão americana.

O lançamento do livro de cozinha The Lady and Sons Savannah Country Cookbook (1997) foi o primeiro passo para a construção de um império que foi aumentando ao longo dos anos. Os diversos livros de cozinha, a sua própria revista, uma linha de roupa e vários programas de culinária garantiram-lhe a entrada para lista de Chefs mais bem pagos do mundo da revista Forbes.

A sua autenticidade, o riso contagioso, o charme sulista e as receitas super calóricas parecem ter sido o ingrediente de sucesso dos programas de televisão Paula's Best Dishes, Paula's Home Cooking e Paula's Party transmitidos até 2013 pelo canal Food Network. “[No meu frigorífico] Vão sempre encontrar leite desnatado, manteiga e maionese. E não necessariamente nessa ordem”, revelou sobre alguns dos seus ingredientes favoritos.

Nesse mesmo ano, o seu mundo voltou a desmoronar após a família Deen ver o seu nome metido num escândalo de racismo. Em causa estava um processo judicial movido por Lisa Jackson, uma antiga manager do restaurante Uncle Bubba’s Seafood and Oyster House, onde acusava Deen de racismo e o seu irmão, Bubba Heirs, de assédio sexual.

Durante o seu depoimento, que em maio de 2014 foi tornado público, Paula admitiu o uso recorrente de termos racistas no passado, algo que enfureceu os seus fãs e patrocinadores. Após cancelar uma entrevista com o Today Show, Paula Deen decidiu sentar-se ao lado de Matt Lauer e dar a sua versão dos factos.

“Não tenho tendências racistas”, foi assim que Paula Deen começou por se defender sobre as acusações que pairavam sobre o seu nome. “Se há alguém que nos está a ver que nunca disse nada que se arrependesse, eles que peguem numa pedra e a atirem com a força necessária para me matar,” concluiu.

Mas o gesto não convenceu o Food Network que, ao fim de 11 anos, decidiu não renovar o contrato com a cozinheira retirando do ar todos os seus programas. A Smithfield Foods, a cadeia Walmart e a Caesars Entertainment Corporation foram outras das empresas que decidiram rescindir os contratos que mantinham com Paula Deen.

Mas o que parecia ter sido o fim de uma carreira de sucesso, serviu como uma oportunidade para Paula Deen se reinventar profissionalmente. Tal como avançou o The Wall Street Journal, durante o verão de 2014 a chef de cozinha embarcou numa digressão pelos Estados Unidos com o Paula Deen Live! onde aproveitou para promover o seu novo projeto The Paula Deen Network: uma plataforma online onde passou a disponibilizar dicas, receitas e diversos vídeos de culinária gravados em estúdio a todos os seus subscritores.

Nas palavras da americana o projeto digital foi uma maneira de manter um contacto mais direto e interativo com o seu público. “Os iPads são muito mais leves de transportar do que uma televisão. Num programa só temos 22 minutos. Os fãs vão ver coisas que nunca viram antes. Vão poder ver realmente quem sou”, disse sobre a plataforma.

Em 2015 abriu um novo restaurante Paula Deen’s Family Kitchen, lançou o podcast Get Cooking with Paula Deen, um programa de rádio What’s Cooking with Paula Deen e um novo livro, Paula Deen Cuts The Fat: 250 Favorite Recipes All Lightened Up, que entrou para a lista de best-sellers do The New York Times.

No ano passado foi anunciado o regresso de Paula Deen ao ecrã da televisão com um novo programa de culinária. Filmado na sua residência em Savannah, o Positively Paula vai centrar-se nos dotes culinários de Deen que irá ensinar a fazer algumas das suas receitas preferidas.