Depois de ter conhecido Portugal há largos anos, Tássia Camargo decidiu mudar-se para Lisboa em outubro de 2017, onde tem continuado a sua carreira no mundo da representação.

A viver uma nova vida, com novas personagens na ficção nacional, tendo integrado o elenco da novela 'Valor da Vida', da TVI, a atriz brasileira esteve à conversa com o Fama ao Minuto.

Uma conversa em que fala abertamente sobre o que a levou a deixar o Brasil para abraçar Portugal e partilha o que mais gosta naquele que é agora o seu país, a sua nova casa.

Além disso, quase a completar 60 primaveras, não deixa de abordar ainda o bem-estar e corpo pois, garante: "não me incomodo com rugas".

Com origens italianas e portuguesas, foi em Portugal que procurou uma nova vida… O que mais destaca no povo português?

Admiro milhares de atitudes dos portugueses. Destaco uma em especial: o português não permite a intervenção de nenhum país nas suas leis e tampouco permite que os estrangeiros façam o que bem entenderem no seu território. Cuidam, exigem respeito e orgulham-se do seu país e património.

Acredito que já teve a oportunidade de conhecer alguns locais portugueses. Qual o que a deixou mais fascinada?

É difícil responder porque cada lugar tem a sua magia e tradição. Estive recentemente em Tomar, cidade onde há 30 anos fui eleita rainha do Carnaval da cidade. Depois de três décadas, retornei à cidade na Festa dos Tabuleiros, que eu nunca tinha visto. Fiquei encantada em ver crianças com as suas famílias inteiras a participar nessa festa que já acontece há tanto tempo. É tão bonita essa união em torno da preservação das tradições em Portugal.

Conta com uma ligação de alguns anos com Portugal - e como referiu, já foi rainha do Carnaval em Tomar nos anos 1980. O que sentiu quando pisou pela primeira vez as terras portuguesas?

Conheci a 'terrinha' em janeiro de 1990 e fui direta para Tomar. Depois conheci outras regiões do país. Fiquei encantada ao conhecer a origem da minha família, conhecer de onde os meus parentes, por parte do meu avô materno, viveram em Portugal.

Nessa altura integrava o elenco da novela ‘Tieta’, que acabou por se tornar numa das mais icónicas produções televisivas da ficção braseira. Como lidou com o sucesso deste trabalho? Quais as melhores recordações que guarda?

Sempre fiz o meu trabalho com muito amor e dedicação, estive na faculdade de cinema, estudava muito cada personagem. É a minha profissão! Nunca permiti que o sucesso fizesse com que me esquecesse das minhas origens, dos meus amigos, da minha família, da minha história. O sucesso para mim é uma recompensa que eu sinto no carinho das pessoas que pedem até hoje um autógrafo, uma foto, ou simples abraço. É muito bom ver que o público aprova o teu trabalho durante décadas. É o maior prémio que um artista pode conquistar. O que mais desejo é que os meus fãs chorem e riam comigo, que acreditem na minha personagem.

Em Portugal já começou a dar os primeiros passos na ficção nacional, uma vez que integrou o elenco da novela ‘Valor da Vida’, da TVI. Como foi fazer parte deste projeto e como está a viver esta nova fase?

Foi sensacional. Conheci e tornei-me amiga de grandes atores, consagrados, talentosos. Aprendi muito com eles e com toda a equipa.

Um trabalho que marca também o seu regresso à representação, após ter tirado um tempo sabático. Já começava a sentir falta de dar vida a novas personagens?

Falta de estar nas novelas do Brasil, não senti. Fazia muito trabalho em teatro, que amo! Na verdade, quando o meu empresário em Portugal, Rodrigo Nabarros, da agência BMagic, disse-me que a TVI queria que eu fizesse uma personagem na novela de Maria João Costa, claro, fiquei empolgada porque o nível do trabalho dela é incrível. O meu tempo sabático foi porque a qualidade das novelas brasileiras já não era a mesma. E as produções portuguesas são maravilhosas. Aqui a qualidade existe e muito. Hoje estou a ver 'Amar Depois de Amar' e encantei-me com a trama, direção, elenco, autores e as imagens cinematográficas.

Saí do meu país chamado Brasil não apenas pela tranquilidade. Saí por não suportar mais o fascismo, sem generalizar

A personagem em ‘Valor da Vida’, Aminah, é diferente das que fez ao longo da sua carreira. Existe algum papel que gostasse de interpretar mas que ainda não teve oportunidade de o fazer?

Eu digo sempre que "não existem pequenos papéis, existem pequenos atores”. Mesmo com quase 41 anos de carreira, cada vez que entro em cena, que faço uma gravação ou subo ao palco... é sempre uma estreia. Gosto de estudar a personagem, a novela, o guião. Sou muito dedicada.

Como já revelou, a falta de segurança no Brasil levou-a a procurar em Portugal mais qualidade de vida e segurança. Sente que o seu país vai conseguir voltar a ser seguro e que esta é uma fase que vai ser ultrapassada?

Saí do meu país chamado Brasil não apenas pela tranquilidade. Saí por não suportar mais o fascismo, sem generalizar. A esperança é a última a morrer, mas penso que com este retrocesso do atual governo desgovernado, levará mais de 30 anos para algo melhorar. Brasil este que, infelizmente, algumas pessoas acreditam ainda que o ex-presidente Lula não é um preso político. Achar que apenas um partido é corrupto é hipocrisia. A corrupção existe em qualquer país, sob qualquer forma de governo, historicamente é muito antiga, recorrente. Pensar que a corrupção acabaria se eliminar alguns partidos não contribui para que sejam colocadas rédeas, a fim de possibilitar um resgate. Precisamos, mais do que nunca, de nos informar, ler bons livros, termos conhecimento para nos posicionar. O mundo sabe que a Lava Jato é claramente vista como farsa, menos neste Brasil que baixa a cabeça para os americanos. Sou realista.

Se tivesse esse poder, o que faria para tentar melhorar, neste momento, as condições no Brasil?

Como estou num momento mais realista, não tenho poder, não faço parte de nenhum cargo político, tampouco quero ter. Como cidadã faço a minha parte para um Brasil melhor.

Veio para Portugal mas deixou parte do seu coração no Brasil, uma vez que veio com um filho mas outro acabou por ficar no Brasil, assim como a sua neta, a sua mãe… Visita-os com regularidade? O que mais custa nesta distância?

Sofro ao saber que eles não têm um futuro digno, que a minha neta talvez nunca saiba a verdadeira história do meu Brasil.

Recentemente, sofreu um ataque de coração, como revelou na altura nas redes sociais. Como se sente neste momento? Completamente recuperada e com força para continuar a fazer aquilo que a faz feliz?

Animadíssima, vivíssima e com garra e alegria sempre. Sem humor seria insuportável viver. A vida é o hoje, o agora!

O que a deixa mais feliz e o que a deixa irritada?

Feliz de ver que os portugueses conhecem a sua história. Irritada por ver muitos no Brasil, sem generalizar sempre, que não conhecem a história do próprio país e que são literalmente manipulados pela imprensa golpista.

Há 38 anos que não como doces, não bebo refrigerantes e nem como fritos. O meu enfarte é genético

Também nas redes sociais, recordou recentemente uma das vezes que posou para a Playboy. Continua a sentir-se bem com o seu corpo? Hoje voltava a posar para a mesma publicação?

Tenho orgulho de ser uma senhora de quase 60 anos, faltando apenas um ano e meio, pois estou a viver os meus 59. Orgulho-me disto porque vivi o melhor da arte em geral, convivi com os melhores da música, do teatro, do cinema e da TV. Não me incomodo com rugas, incomodo-me quando algo está a prejudicar a minha saúde, como os seios grandes, que me dão dores nas costas. Se eu posaria de novo? Sim, mas somente se fosse com o grande fotógrafo JR Duran porque nunca deixou-me vulgar nas fotos. Seria engraçado....

Qual a rotina e o que faz para o seu bem-estar e para manter-se em forma?

Há 38 anos que não como doces, não bebo refrigerantes e nem como fritos. O meu enfarte é genético. Continuo com a mesma alimentação, mas controlo com remédios o colesterol. Sou 'algólotra', palavra que inventei agora (risos) porque bebo muita água... não sei sair de casa sem a minha garrafinha. Bebo uns seis litros por dia e amo fazer passadeira.

Ao longo dos anos, viu partir algumas pessoas que lhe eram muito próximas. A morte é algo em que pensa com frequência?

Não penso na morte, mas quando perco alguém que conheço - ou quando vejo uma mãe que nem conheço, mas que perdeu um filho, sinto muita dor porque sou uma pessoa normal e sinto tristeza. Mas fico forte, sou forte e tenho que ser. Na minha morte não penso, não tenho medo de morrer, tenho medo de “vegetar” como ser humano. Isso, sim, abala-me, mas não fico a pensar nisso.

Como é que lida com as perdas, com o luto?

Choro tudo o que tenho que chorar e sigo em frente.

Já disse que veio para Portugal para ficar. O que espera dos próximos tempos?

Vivendo os meus 59 anos tenho mais passado do que futuro e, por isso, vivo intensamente o presente.