Pedro Chagas Freitas usou nos últimos dias as redes sociais para tornar público um texto no qual presta o seu profundo agradecimento a Tássia Camargo. Inesperadamente, a atriz brasileira foi um grande apoio para o escritor durante o internamento do filho, Benjamim.

"A Tássia Camargo perdeu uma filha aos dois anos. Não há metáfora que aguente isto, não há anestesia para essa amputação. Quando uma mãe perde um filho, não enterra uma criança; enterra-se a si própria em várias camadas. Ninguém volta. No máximo, continua-se.

A Tássia podia ter ficado ali: soterrada. Podia ter ficado amarga, seca, opaca. Podia ter olhado para o mundo como se tudo fosse uma ofensa pessoal. Em parte, seria justo. Mas não. A Tássia escolheu o improvável: ser ainda mais humana, ainda mais intensa", começou por notar Pedro Chagas Freitas.

Tássia Camargo, de 64 anos, viu a filha Maria Júlia morrer no dia 14 de janeiro de 1996, aos dois anos de idade, vítima de uma doença rara, a rubéola congênita tardia. Além de Maria Júlia, teve ainda dois outros filhos: Diego e Pedro.

A atriz brasileira, recorde-se, deixou o Brasil, por questões de segurança, e mudou-se para Portugal - onde vive desde 2017.

"Durante o internamento do Benjamim, em plena sala de espera da incerteza, houve poucas presenças tão constantes, tão generosas, tão absolutamente comoventes. Raros foram os dias em que a Tássia não escreveu, não perguntou, não quis ajudar. Com palavras, com energia, com atenção verdadeira. Nunca decorativa, nunca forçada. Genuína, dolorosamente genuína. Falou-nos do que viveu, da sua menina, da sua Maria Júlia, que onde quer que estivesse estava a cuidar de nós; falou-nos do que sentia: das vibrações que o Benjamim lhe transmitia, da beleza do seu olhar, da esperança que sentia nele. Estava a dizer-nos que procurava proteger, à distância, a vida de uma criança como se fosse a dela. Talvez fosse. Quem perdeu uma filha pequena guarda um radar, uma forma de escuta que os outros não têm.

Ainda hoje, pergunta por ele, pergunta por nós. Um gesto simples, que vem de um abismo. Quem vem do abismo e ainda assim é luz é um milagre. Ou é a Tássia. Vi-a pela primeira vez em Tieta: o Brasil parava para a conhecer. Ali, percebi que era uma atriz maior. Hoje, percebo que é uma alma rara.

Obrigado, Tássia. Pela arte, claro, mas, acima de tudo, pela coragem de continuares a iluminar", elogiou o escritor português na sua emocionada partilha.

O filho de Pedro Chagas Freitas, Benjamim, foi diagnosticado com uma doença rara, a deficiência de alfa-1 antitripsina, o que o levou a precisar com urgência de um transplante de fígado.

O menino, atualmente com sete anos, ficou três meses internado até receber o aguardado transplante. Benjamim teve alta em agosto do ano passado. "Três meses depois, a liberdade. Pode ser apenas por alguns dias, mas vai saber pela vida toda", enalteceu na altura o escritor.

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