A vida está cheia de surpresas e que o diga Annabeth Gish. Quando, aos 19 anos, comprou o livro 'A Hora das Bruxas', de Anne Rice, estava longe de imaginar que um dia viria a interpretar uma das personagens da série baseada no livro 'Mayfair Witches', que se estreia esta segunda-feira, pelas 22h10, no canal AMC.
O livro conta a história de Rowan (Alexandra Daddario), uma neurocirurgiã de sucesso que tem um segredo que a assombra: mata pessoas com a mente quando a fúria toma conta de si.
Adotada em bebé e sem saber nada sobre as suas origens, decide procurar a sua família biológica. Entretanto, descobre que descende de uma família de feiticeiras e que a sua mãe é Deirdre Mayfair, que vive em Nova Orleães, presa numa casa.
Leia, abaixo, a entrevista à atriz que o Fama ao Minuto publica em exclusivo em Portugal.
O papel é perfeito para mim. Senti-me honrada. Não sou ingénua, sei que Hollywood é um lugar difícil, mas acredito que houve alguma magia neste processo
Pode-nos falar do momento em que descobriu 'A Hora das Bruxas' aos 19 anos e os aspetos sobre a Rowan que a fascinaram?
Ainda tenho o meu exemplar, com 600 páginas, mordidelas de cão e nódoas de chá. Não tinha lido grande coisa de Anne Rice, penso que essa foi a minha apresentação à escritora. Sempre tive interesse pelo fantástico e o livro foi uma janela incrível para o mundo da magia, do empoderamento feminino e da feitiçaria. A manipulação do mal e do bem, da luz e da escuridão - a história apresentou-me isso também.
Adorei que a Anne Rice tenha criado uma protagonista na casa dos 20 anos, neurocirurgiã de sucesso, inteligente, mas que também tinha um lado desconhecido. Lembro-me de chamar o meu agente e de dizer: 'Já li este livro'. Depois descobri que o Mark Johnson e a AMC estavam a fazer uma série baseada nele. Eu já tinha trabalhado com o Mark e a AMC em 'Halt and Catch Fire', experiência que adorei.
A narrativa do poder feminino subliminar ao longo da história é um tópico relevante. Se for sob o pretexto da feitiçaria, se esse for o contexto narrativo, então apoio, porque acredito que há aqui um lado de empoderamento para as mulheres
Como é que conseguiu o papel de Deirdre Mayfair?
Descobri que a Esta [Spalding - criadora] estava envolvida e falei com ela. Nem sequer pensei nisso na altura, só queria dar-lhe os parabéns porque já conhecia o trabalho, o gosto e o intelecto dela. Sabia que era a pessoa perfeita para o projeto.
Entretanto, apareceu a oportunidade de fazer uma audição e pensei: 'Meu Deus, eu consigo fazer isto! O papel é perfeito para mim'. Senti-me honrada. Não sou ingénua, sei que Hollywood é um lugar difícil, mas acredito que houve alguma magia neste processo.
Deve ter ficado muito entusiasmada quando entrou neste universo.
Muito! Uma das causas que apoio é o empoderamento feminino. As histórias de mulheres precisam de ser contadas. A narrativa do poder feminino subliminar ao longo da história é um tópico relevante. Se for sob o pretexto da feitiçaria, se esse for o contexto narrativo, então apoio, porque acredito que há aqui um lado de empoderamento para as mulheres.
É uma metáfora para nós enquanto pessoas - não quero dizer apenas mulheres. Podemos abraçar tanto a escuridão como a luz para o nosso bem
A Deidre passou muitos anos na sombra de sedativos e tranquilizantes, sempre na esperança de manter os poderes e a sexualidade. Pode falar um pouco sobre o 'despertar' da personagem e das cenas que gravou com o ator Jack Huston? Percebe-se uma grande intimidade e ternura nelas, mas não deixam de ser assustadoras.
Queríamos ter um equilíbrio entre a ternura e a intimidade, porque ele é a única pessoa que está com ela num mundo obscuro. Ela está completamente abatida e desencorajada. Ele, como amigo dela, é seu aliado.
E, uma vez mais, isto é uma metáfora para nós enquanto pessoas - não quero dizer apenas mulheres. Podemos abraçar tanto a escuridão como a luz para o nosso bem. Há uma sensualidade na relação com o Lasher [personagem de Jack Huston], porque ela está a usá-lo e ele a ela. Mas também há muita escuridão.
É mesmo uma vida perdida. Nunca pensei sentir-me tão angustiada por ela, mas senti!
Quando a Deirdre finalmente emerge desta névoa induzida, o Lasher diz-lhe que a filha dela está viva e ela fica determinada em conhecê-la. O momento em que ela emerge da casa é tocante. Infelizmente, a sua jornada para se reencontrar com Rowan é cortada de forma abrupta. Vamos falar sobre o final do segundo episódio - como foi gravá-lo?
Foi muito difícil. Estava frustrada tecnicamente enquanto atriz porque usava uma peruca, estava numa cadeira de rodas, tinha lentes de contacto e não podia usar o meu corpo para me exprimir.
Não tínhamos muito tempo para contar a história da Deirdre, nem o seu despertar, por isso, tivemos de o fazer de forma breve. Havia uma licença dramática, mas uma mulher que esteve de cadeira de rodas durante tanto tempo não conseguiria subir escadas. É um momento dramático em que ela fica finalmente livre.
Para mim, foi tocante gravar essa cena, tanto física como emocionalmente, porque representa emoção, movimento, expressão. Foi um momento muito bonito e mítico. Ela finalmente enfrenta a Carlotta pela primeira vez no final do segundo episódio. Recupera o seu poder para depois, infelizmente, vê-lo tragicamente frustrado.
Será que ela teve aquele momento de contacto com a filha no elevador? Foi real? Esta série foi um desafio para mim porque a Deirdre foi muito ferida.
É impossível ficar indiferente à tragédia que é a vida de Deirdre.
Eu sei! É mesmo uma vida perdida. Nunca pensei sentir-me tão angustiada por ela, mas senti!
Quando a Deirdre está a observar os objetos no seu quarto pega num globo de neve e pensa em todas as coisas que poderia ter feito, a reação imediata dela é esmagar o globo. Isso mostra aquilo por que ela passou.
Exatamente. É uma metáfora perfeita para a frustração dela com a vida. E o globo de neve era de Paris. Ela sonhava ir lá.
Na galeria, pode ver algumas imagens da série.
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