Neste momento, Paulo Azevedo continua com as palestras de norte a sul do país, com a peça de teatro ‘Calígula morreu. Eu não’, mas não fica por aqui. Está também quase a chegar um monólogo, o "maior desafio como ator".

Em conversa com o Fama ao Minuto, o ator falou sobre os projetos, a pandemia que trouxe em força o trabalho remoto e o desejo de estar mais presente na televisão.

"Fiz três novelas. Sinto falta, claro. Se me perguntares se aceito? Aceito. Se compreendo? Não", confessou, referindo, ainda assim, que se sente "muito realizado a fazer teatro".

Está a preparar o primeiro monólogo...

Foi algo escrito original - podia ser feito por outro ator completamente diferente, não tem nada a ver com as minhas condições -, onde faço três personagens diferentes com um músico em palco. Já estamos em fase de trabalhar o texto para depois ir para palco.

Como está a ser este desafio?

Muito difícil! O monólogo é grandíssimo. Ainda não me estou a rever em palco, estou a estudar o texto. Mas tenho a perfeita noção que o meu maior desafio como ator vai ser esse monólogo.

Foi um dos artistas que mais sofreu nesta pandemia?

Não! As palestras é como um músico, ando na estrada, faço mil quilómetro por semana e isso notei um bocadinho. Mas também houve a vertente de fazer palestras online. Podes chegar mais longe e a mais público, e foi pandemia que me permitiu ter este projeto do ‘Calígula’.

Eu estava a fazer teatro em Coimbra e quando começaram as palestras tive de deixar de fazer teatro, que é a minha paixão, porque não tinha capacidade para ensaiar regularmente. Como as palestras reduziram muito, houve uma hipótese de casting no Teatro Nacional, chamaram-me, fui e tive a sorte de ser escolhido. Isso permitiu-me ir três meses para Espanha, em plena pandemia, estarmos ali a ensaiar para depois estrear. A pandemia permitiu-me voltar aos palcos, que não podia ser de outra forma se não tivesse existido a pandemia.

Nunca mais vou fazer reuniões ou deslocar-me de Lisboa para o Porto para uma reunião presencial, isso agora já não funciona.

As palestras online mantiveram-se?

Sim. Faço muitas palestras para Angola e para o Brasil, que eram presenciais. Apesar de Angola querer sempre que eu vá presencial, mas o Brasil abriu muitas mais portas a nível do online, e ainda há empresas portuguesas a fazer no online.

E gosta desta nova realidade virtual?

Não. Gosto muito mais do contacto com o público, seja no teatro ou palestras, porque as minhas palestras é um storytelling, é como se fosse uma peça de teatro. A nuance é muito pela reação do público, os olhares, os abraços, e isso não acontece atrás de um ecrã de computador.

E como superou esse desafio?

Ser ator ajuda, porque quando é online eu estou a ver-me a mim, estou a fazer uma palestra para mim. Então, foi um bocado trabalhar a minha imagem. E é um bocado a capacidade de improviso ou de adaptação à nova realidade que me permite fazer palestras online. Se me perguntares se tem mais impacto presencial? Claro que tem! Mas nunca mais vou fazer reuniões ou deslocar-me de Lisboa para o Porto para uma reunião presencial, isso agora já não funciona.

Também trouxe vantagens…?

Claro. Há empresas que tem mil colaboradores e que não era possível pô-los no presencial, no online já é. Ou ter uma reunião com uma empresa…

Não deixo de comer por isso e não deixo de viver por isso, mas sinto falta da televisão

E o teletrabalho, a presença do online, já é mais aceite…?

E vai ficar sempre (o online). Há empresas com quem trabalho a nível de palestras que muitos deles trabalham metade da semana em casa, já não há aquela necessidade de irem para o escritório. Na minha realidade também. Quando tenho reuniões, já não tenho tido presencialmente. Isso abriu outras portas e tem vantagens, claro.

Tem estado mais 'focado' no teatro… E os desafios em televisão, gostava de ter mais oportunidades?

Sim, claro que gostava! Apesar de me sentir muito realizado a fazer teatro. Comecei a fazer teatro com seis anos, são as minhas bases. Mas a televisão, fiz três novelas. Sinto falta, claro. Se me perguntares se aceito? Aceito. Se compreendo? Não. Porque eu posso ter uma deficiência e fazer um professor, ou um advogado. Depende da perspetiva de quem escreve, ou de quem escolhe o elenco, ou da coragem de quem o faz. Não deixo de comer por isso e não deixo de viver por isso, mas sinto falta da televisão.

Eu fui o primeiro, a primeira pessoa com um grau de deficiência tão grande a fazer uma novela em Portugal, por isso já foi feito muito

Sente que em Portugal ainda não se ultrapassou essa barreira de que qualquer tipo de pessoa pode interpretar um papel, não é preciso haver um estereótipo?

Para mim tem que haver papéis específicos, isso entendo, percebo, pode é haver uma adaptação desses papéis.

Mas sente que não há esse esforço para haver a adaptação?

Eu fui o primeiro, a primeira pessoa com um grau de deficiência tão grande a fazer uma novela em Portugal, por isso já foi feito muito. Se calhar abri portas para quem tinha outros tipos de talento e tinha medo de arriscar. Medo do não. Mas acho que ainda falta fazer muito mais, porque podia ser uma continuidade, não só comigo, mas com outras pessoas, ou na área da moda, ou da música...

Quando as pessoas com deficiência, ou de orientações sexuais diferentes ou de género, ou de religiões possam ser encarados não como minorias mas como igualdades, é tudo muito mais fácil. E podia ser algo continuo. Porque isso é a realidade do nosso dia-a-dia, isso existe. E muita vezes o aspeto exterior tem muito mais importância do que propriamente o talento. Esse talento, muitas vezes, é um bocadinho posto de lado, e a nossa sociedade não é aquele aspeto perfeito. Não existe. Por isso, a realidade podia ser muito mais declarada, mais vista... Mas já foi feito muito.

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