Com o álbum «Lu-pu-i-pi-sa-pa», que significa Luísa, na língua dos pês, a cantora voltou à infância. E é fácil que o mesmo aconteça a qualquer adulto que oiça o disco. Até porque fala de experiências comuns a todas as crianças, tanto hoje como no passado. Prova disso são os temas abordados. Na lista figuram a amizade, a escola, o bullying e as primeiras paixões. Mas, para Luísa Sobral, tudo isto tem pouco de nostálgico. «Acho piada falar dos temas que me interessavam na altura, mas não sou daquelas pessoas que gostaria de voltar à escola primária», refere a intérprete de «João» e de «Xico», dois dos temas que deverá apresentar no palco do Centro Cultural de Ílhavo, no próximo dia 28 de junho.
«Adoro a minha vida agora, até porque acho que me angustiava mais com a dia a dia em criança», afirma ainda. Nem todas as angústias sobre as quais fala foram vividas na primeira pessoa, mas Luísa Sobral tem consciência que os mais jovens se vão identificar, porque as vivem ou conhecem alguém que as sente, daí insistir nelas. E exemplifica isso com um episódio recente. «Em criança era gordinha, não tinha um bocado do dente da frente e usava uns óculos enormes, mas sempre me senti bem comigo. E costumo fazer referência a isso nos espetáculos, antes da canção que fala sobre o bullying. Noutro dia, uma miúda veio ter comigo, após um concerto e deu-me um papelinho», revela.
«Gosto muito da Luísa, porque não se importa com as aparências», podia ler-se no bilhete. «Espero ter contribuído para que ela não ligue a certas coisas», refere a cantora, que a 3 de julho sobe ao palco na Torre de Belém e que no dia 16 de agosto atua no festival O Sol da Caparica. Para Luísa Sobral, a música também é isto, apesar de não querer parecer moralista. O seu último disco, «Lu-pu-i-pi-sa-pa», era algo que a cantora queria fazer há já algum tempo, mas só agora sentiu ser o momento certo. «Primeiro era importante que as pessoas conhecessem o meu som. E sem ser para crianças, para que este fosse um desvio temporário do meu caminho e não a minha identidade», explica.
Do jazz ao folk
A opção apanhou muito do seu público de surpresa. Contudo, a sua identidade está lá em todas as sonoridades usadas. Tal como nos anteriores trabalhos sente-se o jazz e o folk. A grande diferença é que, neste, as letras são todas cantadas em português. «Tentei que a abordagem fosse a mesma, porque não queria que soasse a um disco para crianças, no sentido em que acho que a música infantil é muito limitada e limitativa e não era isso que eu desejava fazer. Queria dar-lhes um tipo de música que não fizesse os ouvidos limitarem-se a três acordes ou melodias muito básicas, até porque as crianças estão muito mais prontas para receber coisas novas do que os adultos», conclui.
O percurso de Luísa Sobral
Estudou na Berklee College of Music, em Boston, nos Estados Unidos da América, depois de ter concorrido a um programa de talentos na televisão. Duranta a sua estadia por terras americanas foi nomeada para Best Jazz Song, no Malibu Music Awards (2008), Best Jazz Artist, no Hollywood Music Awards, International Songwriting Competition (2007) e, ainda, The John Lennon Songwriting Competition (2008). Em 2011, lançou o seu primeiro disco, «The Cherry On My Cake», com o qual conseguiu um disco de platina. Dois anos depois, surge o segundo trabalho, «There’s a Flower in my Bedroom». No final de 2014, editou «Lu-pu-i-pi-sa-pa». No fim de 2015, tenciona lançar outro disco.
Texto: Rita Caetano
Comentários