Sexo, drogas e rock & roll. Quando pensamos nesta frase sabemos que a vida é vivida ao limite e no limite. E é desta forma que podemos relembrar a relação de Johnny Depp e Kate Moss, o casal sensação dos anos 1990 por todas as boas razões – o ator e a modelo com carreiras de vento em poupa, ídolos de muitos – e por todas as más razões – consumo de drogas, discussões, destruição. Uma relação de 8 e 80.

Ela era a “best new thing”, na moda, graças às colaborações com a Calvin Klein que a elevaram ao estatuto de ícone fashion. Representava a tendência heroin chic e ganhava cada vez mais destaque no mundo da moda graças às campanhas com a marca norte-americana, como a campanha de roupa interior ao lado de Mark Wahlberg, em 1992, ou do perfume Obsession, em 1993.

Extremamente magra (ao ponto de lhe perguntarem constantemente se sofria de anorexia), mais baixa que outras modelos, sardenta, Kate Moss era a anti-supermodelo por ser exatamente o oposto, em termos físicos, das denominadas supermodelos da época – com Cindy Crawford, Claudia Schiffer ou Naomi Campbell à cabeça.

Ele era um ator com a carreira em ascensão depois de protagonizar “Eduardo Mãos de Tesoura”, de Tim Burton - parceria que se repetiu várias vezes ao longo dos anos - mas que nos anos 1990 apostava sobretudo em filmes independentes.

“Juntamente com (River) Phoenix e Keanu Reeves, ele fazia parte de uma Santíssima Trindade de galãs do grunge. Eles eram o oposto dos rapazes de “Beverly Hills 90210”, ou Brad Pitt e DiCaprio, porque pareciam envergonhados pela sua aparência”, escreveu Hadley Freeman, colunista do The Guardian, num artigo de 2020.

“Eles significavam não apenas um tipo diferente de celebridade, mas um tipo diferente de masculinidade: desejável, mas gentil, masculino, mas feminino. Depp, em particular, era a pinup de quem era seguro gostar. Nós fãs entendemos que havia mais em Depp, Phoenix e Reeves do que a beleza. Eram artistas - tinham bandas! - e eles pensavam realmente em grande", concluiu.

E tudo começou num café da moda

A história de ambos começa em 1994, quando foram apresentados por George Wayne, colunista de famosos na Vanity Fair, num dos cafés da moda na altura, em Nova Iorque, o Café Tabac.

“O Johnny estava a jantar quando a Kate entrou com a Naomi [Campbell] e o GW [George Wayne] agarrou-a e fez a apresentação", escreveu o próprio no Instagram, em 2019.

"Eu não tinha ideia de que eles se tornariam o casal sensação das próximas temporadas, destruindo quartos de hotel em todo o mundo durante a sua união, ainda inesquecível!”, concluiu, voltando a relembrar a ocasião esta semana, a propósito do depoimento de Kate Moss no julgamento que opõe Jonnhy Depp e Amber Heard.

Foi aquilo que chamamos de amor à primeira vista. Kate Moss confirmou-o ainda em 1994, em entrevista à revista Spin: “Eu soube desde o primeiro momento em que falámos que íamos ficar juntos”.

No livro de Fred Vermorel “Kate Moss: Addicted to Love”, Depp descreve a modelo como alguém que “gosta dos Abba e de Big Macs, consegue fazer-me rir como mais ninguém e quando aparece, olho para ela e é o meu anjo. É tão bonita que me deixa completamente fascinado”.

Eles foram intitulados como a nova versão do casal Keith Richards e Anita Pallenberg, outro casal sensação dos anos 1960, pelo estilo de vida: muitas festas, álcool e drogas à mistura.

A relação pareceu intensa desde o primeiro momento. De acordo com amigos próximos do ator, eles não conseguiam estar separados um do outro. "Eles não conseguem manter as mãos, lábios, bocas ou pernas longe um do outro", disse um amigo à revista People.

Duas semanas depois desse primeiro encontro, Kate Moss acompanhou Depp na estreia do filme “Banter”, uma curta-metragem dirigida pelo ator. Os dois foram vistos numa festa no Viper Room (a discoteca em Los Angeles que era propriedade de Johnny Depp, na época, e onde River Phoenix tinha morrido de overdose quatro meses antes).

A presença de ambos nas estreias de filmes começou a ser um habitué. Até que, no primeiro ano de relacionamento, em setembro de 1994, acontece a primeira situação mediática do casal: a destruição de um quarto, no Mark Hotel, um hotel de cinco estrelas, em Nova Iorque. A polícia foi chamada ao local e o ator foi preso.

De acordo com a polícia, na época, o ator estava "em estado de possível embriaguez", na companhia de Moss. Depp disse que assumia a despesa da destruição e as acusações foram retiradas em tribunal com a condição de não causar distúrbios num prazo de pelo menos seis meses.

Johnny chegou a comentar este caso, em 2020, durante a ação que interpôs contra o jornal The Sun, na sequência de um artigo de Amber Heard enquanto vítima de violência doméstica. “Na verdade, eu disse ao segurança quando ele veio ao meu quarto, que estava mais do que disposto a pagar por tudo o que tinha destruído”, afirmou.

O ator também chegou a falar sobre o que tinha acontecido, à luz de rumores de uma possível discussão com Kate Moss.

"Não teve absolutamente nada a ver com a Kate. Quer saber a mais pura verdade sobre o que aconteceu naquele hotel? Havia uma barata naquele quarto do tamanho de uma bola de basebol, e eu, que estava atrás dela, falhei", disse de acordo com o livro de memórias de Kate Moss. Se é verdade? É algo que só Depp e Moss saberão.

É nesta altura que Johnny Depp começa a cultivar a fama de “bad boy”. E as histórias em torno dos dois não param.

O ator chegou a confessar que tiveram sexo em todos os 63 quartos do lendário Chateau Marmont, um hotel em Hollywood. Ou a história em que supostamente encheu uma banheira com 36 garrafas de champanhe no Portobello Hotel, em Londres, para tomarem banho.

Kate Moss também não tinha grande pudor em falar sobre alguns detalhes da relação de ambos – apesar de nunca entrarem em grandes detalhes sobre a vida que partilharam durante os anos de relacionamento.

Outra das histórias mais emblemáticas é a de um colar da Tiffany's, oferta de Depp. No Fashion Film, Kate partilhou a história. "Ele disse: 'Kate, eu tenho alguma coisa no meu rabo, eu não sei o que é, podes ver para mim?'”, relembrou. "Eu só o conhecia há três meses! Coloquei a minha mão na parte de trás das calças e tirei a porra de um colar da Tiffany's. Foi bom não encontrar um furúnculo. Esse colar tem muita classe", acrescentou.

Como casal sensação eram bastante cobiçados no mundo da fama, da moda e da arte. Há dois ensaios fotográficos que ficam para memória futura. O mais emblemático foi feito por Annie Leibovitz.

Mas há também o ensaio feito por François Marie Banier de ambos no seu dia a dia, em situações rotineiras em casa.

Foi através de Johnny Depp que Kate Moss travou conhecimento com Jack Kerouac ou Iggy Pop, e a modelo chegou a confessar que foi graças ao ator que ela ganhou gosto pela leitura.

Eles eram conhecidos por gostarem de festas e Kate Moss chegou a falar que uma das festas de aniversário que mais a marcou foi a do seu 21º aniversário, em janeiro de 1995, no Viper Room, uma festa surpresa organizada pelo ator. A prenda de aniversário foi um vestido branco de John Galliano.

"Ele viajou comigo para todos os lugares ao longo dos anos. É o vestido mais perfeito. Também o emprestei à Sadie [Frost] quando ela casou com o Jude [Law]", disse Moss à Vogue britânica anos depois.

O relacionamento terminou em 1997, mas Kate Moss e Johnny Deep voltaram a estar juntos no ano seguinte, em Cannes. No entanto, a relação terminou definitivamente em 1998. Nesse ano, Depp conheceu Vanessa Paradis, e o resto é história. No ano seguinte nascia Lilly-Rose Depp e em 2002, o casal dava as boas-vindas a Jack Depp.

Ambos falaram sobre o fim da relação em momentos diferentes. O primeiro foi Johnny Depp, em entrevista à Hello, em 1998, assumindo a culpa pelo fim da relação: “Sou eu quem tem que assumir a responsabilidade pelo que aconteceu - eu era uma pessoa difícil de lidar, deixei que o meu trabalho atrapalhasse e não lhe dei a atenção devida”.

"Foi uma loucura porque eu nunca deveria ter ficado tão preocupado com o que as pessoas tinham a dizer sobre o meu trabalho", afirmou, acrescentando que "claro que eu deveria importar-me com os meus filmes, mas quando chegava a casa deveria ter tentado deixar essas coisas para trás. Não conseguia fazer isso e era uma pessoa horrível para se conviver. Confie em mim, eu consigo ser um verdadeiro idiota às vezes", concluiu.

Kate Moss levou mais tempo a falar sobre o término da relação, que descreveu como pesadelo, o que aconteceu em 2012, em entrevista à Vanity Fair. “"Não houve ninguém que realmente tivesse sido capaz de tomar conta de mim. O Johnny fez isso. Eu acreditava no que ele dizia", partilhou.

"Por exemplo, se eu dissesse, 'O que eu faço?' ele me diria. E foi isso que eu perdi quando terminámos. Eu realmente perdi aquele sentimento de ter alguém em quem podia confiar. Um pesadelo. Anos e anos de choro. Ah, as lágrimas!", recordou Moss.

Os nomes de Kate Moss e Johnny Depp voltaram a estar nos tópicos de tendências da internet por causa do julgamento que está a acontecer entre ele e Amber Heard. Moss foi chamada a depor a propósito de uma possível situação de violência entre a modelo e o ator, situação que não foi confirmada por Kate.

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A história partiu da própria Amber Heard quando descreveu uma possível agressão que envolvia a sua irmã. “Quando a vi a cair nas escadas pensei na Kate Moss,” afirmou Heard em tribunal.

Em tribubal, Kate respondeu afirmativamente sobre o facto de ter passado férias com o ator num resort na Jamaica e descreve o episódio de alegada violência.

“Estávamos a sair do quarto e o Johnny tinha saído antes de mim. Tinha havido uma tempestade. Quando estava a sair, escorreguei nas escadas e magoei-me nas costas”, relatou. “Gritei porque não sabia o que tinha acontecido comigo e estava com dores. Ele voltou a correr para me ajudar, levou-me ao colo para o quarto e chamou os médicos”, notou.

Quando questionada se Johnny Depp tinha sido agressivo com ela, foi perentória: “Nunca me empurrou, deu-me pontapés ou atirou-me pelas escadas”, garantindo que os rumores não correspondem à verdade.