Objectivamente o que é que este livro conta?
Procura ter aquilo que nós sabemos que aconteceu, isto é, um homicídio, visto de uma forma diferente dos que estão contra o Renato ou contra o Castro. Conheço o Castro profissionalmente, e procurei tratar este tema como trato todos os outros, sem ser minimamente influenciado pelo facto da vítima ser um camarada de profissão.
O homicídio está claramente tratado no livro?
Publicar este livro serviu para poder mostrar, independentemente daquilo que sentimos ou pensamos, que se tratou de um homicídio que teve motivos fortes porque só motivos fortes é que fazem este matar aquele. O que se conclui lendo este livro, é que aqueles dois seres tinham uma relação que interessava a ambos, mas com motivações diferentes. Quando um dos personagens não aguentou mais o preço que pagava para ter aquela relação, soçobrou e liquidou o outro.
Este livro não vitimiza ninguém?
Está, na minha opinião, para além das expressões: "coitado do Renato" ou "coitado do Carlos", e da emoção que a morte provoca.
Fala das eventuais motivações psicológicas?
Um dos argumentos utilizados é que se tratou de um surto psicótico e no livro ficamos a perceber o que isso é. Para me ajudarem na parte técnica consultei catedráticos da matéria: Quintino Aires e Paulo Sargento, professores universitários, que têm dedicado a vida a matérias clínicas e forenses; e também consultei juristas para mostrar as diferenças que existem entre o ordenamento jurídico português e o norte-americano.
Ouviu amigos do Carlos Castro e do Renato para escrever este livro?
Isso era incontornável. Falei com pessoas que se deram com o Renato e com amigos do Castro. Fiz questão de ouvir os que os conheceram e estiveram por dentro da relação.
A publicação não está a acontecer um pouco tarde?
Não sei se é tarde, mas este livro é escrito depois da espuma das emoções. Por isso é um livro isento, sem parcialidades. O próprio momento emocional faz-nos esquecer alguns detalhes e todos sabemos que é nos detalhes que está a solução dos problemas da vida.
A sua especialização no crime já o motivou a escrever quantos livros?
Escrevi sobre o Cabo Costa, a Maria das Dores, dois sobre a Maddie, sobre o caso das crianças desaparecidas e o Rui Pedro, e o caso D'Orey, que, na minha opinião ainda não está resolvido, ou seja, sobre estas matérias já escrevi sete ou oito livros.
Que balanço faz deste livro?
Ninguém é bom juiz em causa própria, por isso faço questão de fazer aqui uma ressalva: Não sou escritor, escrevo matérias em formato de livro! Sou apenas um escrevedor, isto é, não sou um artista, sou um artesão.
É um jornalista que conta histórias em forma de livro?
Prolongo algumas histórias e publico-as em livro, que não são mais do que peças jornalísticas noutro suporte e com maior dimensão. Tenho o maior respeito pelos escritores.
Aprecia livros policiais?
Curiosamente não. Nem acho que escreva livros policiais, escrevo sobre crime. O policial é um género literário e eu não sou escritor. Profissionalmente leio tudo o que tiver que ler, mas, quando leio por hobby, prefiro temas históricos.
Para além do jornalismo, é vereador da Câmara de Odivelas. Divide-se por inúmeras actividades profissionais. Está a apreciar a experiência política?
Escrevo crónicas para a revista "Tvmais", estou no "Querida Júlia", na SIC, a falar de crime duas ou três vezes por semana, escrevo livros e sou vereador. Quanto à experiência política, como sabe, concorri a presidente da Câmara e perdi por um por cento. Acabei por ficar vereador porque como fui eleito, achei que seria uma traição às pessoas que votaram em mim, e estou a gostar, embora não tenha nenhum pelouro.
A actividade dos autarcas é reconhecida e respeitada?
Acho que não, e é um trabalho muito pouco conhecido. Aliás, a minha opção em candidatar-me foi uma opção de cidadania. Achei que tinha chegado aos 50 anos e estava na altura de participar.
Os seus filhos lêem os seus livros?
O mais novo tem nove anos e já vai lendo os livros do pai... Se o pai estiver na televisão também quer ver e vai acompanhando. Ele era muito pequenino quando a Maddie desapareceu, e já nessa altura me fazia muitas perguntas. O meu filho mais velho tem 23 anos e lê tudo o que eu escrevo. É um vaidoso com o pai!
Ser pai é a experiência mais gratificante da vida?
Os filhos são o que nos fazem sentir gente. É uma felicidade muito grande ser pai!
Hernâni Carvalho
Este artigo tem mais de 13 anos
Entrevista com Hernâni Carvalho "Morrer em Times Square" é mais um livro da responsabilidade de Hernâni Carvalho, que conta toda a verdade sobre o caso Castro/Seabra. O jornalista ouviu os psicólogos clínicos e forenses, Paulo Sargento e Quintino Aires, que explicam quais terão sido as motivações para o terrível crime que abalou Nova Iorque. Em entrevista ao SapoFama, o especialista em crime adiantou a sua visão independente e imparcial dos factos, falou dos seus inúmeros ofícios e da sua grande paixão... os filhos.
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