Entre as salas de maquilhagem e cabelos, uma foto e outra, Raquel Strada parou na azáfama dos bastidores do segundo dia da ModaLisboa, esta sexta-feira, para conversar com o Fama Ao Minuto.

Acabada de chegar de uma maratona de Semanas da Moda internacionais, encontrámo-la de olhos a brilhar, minutos antes de arrancar o primeiro desfile. Estamos no seu 'mundo'.

A forte presença nas redes sociais e a paixão pela moda que espelha no blogue 'Blue Ginger', lançado há dois anos, tornaram-na num dos maiores ícones de moda nacional da atualidade.

Falou-nos de como considera as roupas "obras de arte" e de como as vê como formas de expressão. Tem um olhar sensível e visionário sobre a indústria. Viaja muito. Mas vê no futuro um abrandamento do ritmo frenético em que vive, em prol daquele que é o seu amor maior, o marido.

Mais um ano de ModaLisboa. O que espera desta edição?

Espero ver coisas interessantes no desfile Sangue Novo. Gosto muito da forma como a disposição da passerelle está feita. Acho que conseguem ser sempre muito criativos e é muito importante para a forma como mostram a roupa. Criam um espetáculo diferente. Aqui vens ver o que os designers portugueses andam a fazer, mas também vens ver um mini espetáculo. Porque a maior parte das vezes as coisas que vimos aqui nem são automaticamente comerciáveis. A ModaLisboa consegue sempre ter isso: Um espetáculo de moda portuguesa.

A ModaLisboa consegue sempre ter isso: Um espetáculo de moda portuguesa

Considera-se um ícone de estilo?

Não, sou sincera. Gosto muito de roupa e essencialmente de perceber como a indústria funciona. Gosto de texturas, de cores, gosto da forma como as roupas conseguem mudar as pessoas. Sei que a beleza vem de dentro e acredito piamente nisso, mas com a roupa certa, quando te sentes confiante, isso muda a tua atitude perante o mundo. Traz-te felicidade. Eu gosto de brincar com a roupa e sentir esse tipo de confiança. Sinto que algumas pessoas me seguem…

“Algumas”...

[Risos] e isso é bom. É inspirador até para mim. Mas não sinto que sou uma influencer. Acredito que há uma troca e damos todos uns aos outros. Também me inspiro nas pessoas que conheço e falam comigo através do Instagram, que é a rede social que mais uso.

O que é que lhe dizem?

Perguntam muito os sítios onde compro as coisas, como é óbvio. Às vezes enviam-me sugestões, o que também é giro.

E segue essas sugestões?

Claro! Há pessoas que me enviam coisas mesmo giras. Isto das redes sociais, mais do que a ideia de ser influencer, é uma partilha de conhecimento. É sentir que tens um mundo em que tu é que ditas as regras. E não sou só eu que tenho esse mundo, qualquer pessoa pode ter.

A maior parte das miúdas que são influencers hoje em dia não começaram a fazer televisão. Começaram a ter os seus canais de YouTube, as suas redes sociais, e as pessoas começaram a seguir porque se identificam com alguma coisa ou simplesmente porque se inspiram.

O facto é que há cada vez mais pessoas atraídas pela blogosfera. Toda a gente tem legitimidade para falar sobre moda?

Sim. Uma das coisas mais bonitas na moda é que qualquer pessoa pode usar e pode falar sobre. Uma coisa é falar em contexto profissional, analisar tendências, falar de quando um designer muda de uma casa para outra, aí estamos a falar de história da moda e é preciso um bocadinho mais de conhecimento de causa, como é preciso em qualquer área. Se me perguntarem sobre cozinha, também não sou a melhor pessoa para responder, mas sei dizer se a comida é boa ou não consoante o meu gosto porque como todos os dias. Todas as pessoas se vestem, todas têm o seu gosto e têm direito a opinar e perceber aquilo com o qual se identificam. A moda para as massas não é uma coisa que me irrita. É sinal que alguma coisa está a ser bem feita. Se há uma grande fatia da população que gosta daquilo é porque está a correr bem. Acho que têm de existir nichos, mas coisas que são feitas para as massas também são bastante interessantes. Não tens de saber tudo sobre tudo, tens de sentir que para ti aquilo faz sentido e a moda é uma dessas coisas. Toda a gente tem o direito a opinar e não me chateia nada.

Ainda temos que crescer e mostrar ao mundo que existimos

É fácil dedicar-se à moda em Portugal?

É difícil porque não temos escala e torna-se logo mais difícil para marcas internacionais investirem em Portugal tanto quanto seria desejável. Somos um país pequeno e, apesar de termos muito turismo, quem compra aqui também vai às outras capitais. Sinto que a nossa escala ainda é pequenina.

O mesmo acontece com os designers portugueses: Ainda temos que crescer e mostrar ao mundo que existimos. Temos de produzir em maior quantidade para as coisas se tornarem mais acessíveis. Também tem a ver com a massa consumidora. Somos poucos e nunca seremos muito mais, mas se começarmos a exportar podemos aumentar a forma como tudo acontece. É sempre uma questão de escala.

Quais as suas maiores inspirações?

Gosto de coisas muito diferentes. Da Alicia Vikander, que agora vive cá em Portugal, acho que é uma atriz extraordinária. A Alexa Chung é a pessoa que mais admiro. Apesar de ter muitas ascendências, é muito britânica e gosto desse humor negro porque acho que a moda não tem de ser chata nem tem de ser levada demasiado a sério. Gosto muito da Cara Delevingne porque acho que a miúda é completamente louca e adoro isso.

A nível de designers, gosto muito de Filipe Faísca, Dino Alves, Nuno Baltazar, Alexandra Moura. É muito difícil dizer só um. O Luís Carvalho, que é um grande amigo meu, tem feito um percurso extraordinário. Em cinco anos cresceu de uma forma exponencial.

No domínio internacional gosto de muitas marcas, especialmente da Dior agora com esta nova diretora criativa [Maria Grazia], acho que ela trouxe uma lufada de ar fresco à marca. Gosto da forma como trabalha os materiais, como acredita no poder das mulheres, como respeita… Respeita muito o mundo em que está inserida. Acho isso bom: Não sobrepor a tua arte ao mundo em que vives, respeitar o ecossistema.

As roupas normalmente são a vivência ou o sonho do designer

Quando vê peças irrisórias na passerelle consegue compreendê-las ou pensa ‘jamais usaria aquilo’?

Não digo que não a nada. As roupas normalmente são a vivência ou o sonho do designer. [Qualquer peça] em determinada altura pode fazer sentido. Há coisas que podem não ficar bem no corpo, mas tento sempre compreender para além daquilo. Há coisas que nunca vestiria porque era impensável andar com tal peça na rua, mas que são geniais pela forma como são construídas e elaboradas. São autênticas obras de arte e é assim que eu vejo a maior parte da roupa.

Qual a tendência que seria incapaz de usar?

Só os crocs, de resto acho que gosto de tudo.

Algumas [semanas da moda] lá fora não chegam aos calcanhares da ModaLisboa

Marcou presença em várias Semanas da Moda, nomeadamente Milão e Paris. A Moda Lisboa está ao patamar de competir com as edições estrangeiras?

Acho que está. Algumas lá fora não chegam aos calcanhares da ModaLisboa. Às vezes a única diferença é o budget ilimitado. Porque com um budget ilimitado consegues fazer um desfile incrível em qualquer lugar. [As edições estrangeiras] enquanto organização são extraordinárias e estão muito mais à frente. Nos anos 1980 começaram a fazer coisas que estávamos longe de imaginar. Eles são realmente muito bons, mas a única diferença é teres mais ou menos dinheiro. É que é mesmo só isto.

O que quero fazer no futuro é escrever, produzir e fazer coisas enquanto empresária

Existe um estigma em relação às digital influencers e para muitas pessoas as atividades digitais ainda não são vistas como uma profissão. O que tem a dizer sobre isso?

Acho que essa ideia vai passar sempre, mas ao mesmo tempo é bom, é sinal que estás a vender o “sonho”. Não é algo que me aborreça. A Caroline Daur, por exemplo, é uma ‘self made woman’. A miúda tem 22 anos e não tem agência sequer, faz os contratos todos. Ela trabalha com as maiores marcas internacionais, fez a campanha da MAC, negoceia tudo, trabalha de manhã à noite para conseguir tudo o que tem. Ou seja, depende muito da forma como abordas o teu trabalho. As pessoas vão começando a perceber muito melhor como funcionam os digital influencers. Eu também comecei há pouco tempo, faz dois anos. Parece mais tempo, mas não é. A minha profissão principal é ser apresentadora de televisão e o que quero fazer no futuro é escrever, produzir e fazer coisas enquanto empresária - acessórios e coisas do género. Mas acho que as digital influencers vão ser cada vez mais compreendidas porque as redes sociais não existem assim há tanto tempo e é um processo.

Quero passar mais tempo ao lado dele, mas é só porque ele é a pessoa que eu escolhi para estar ao meu lado

Como é conciliar tanta viagem com o casamento?

É difícil, mas com muito amor tudo se consegue. Eu e o meu marido respeitamo-nos muito um ao outro, não tentamos mudar-nos, aceitamo-nos tal e qual como somos e, acima de tudo, queremos o sucesso profissional um do outro. Se tenho saudades? Tenho. Se quero acalmar um bocadinho e quero virar-me para uma frente mais empresarial por causa disso? Quero. Quero passar mais tempo ao lado dele, mas é só porque ele é a pessoa que eu escolhi para estar ao meu lado.

O marido envolve-se nos seus projetos?

Ele é tímido, mas dá-me muitas opiniões assim como eu na vida dele. Partilhamos muito. Sou mais sonhadora e ele tem uma perspetiva mais de negócio. Às vezes põe-me os pés na terra que era algo que eu precisava.