A novela "Anjo Meu" acaba de estrear na TVI. Já teve reacções ao seu personagem "Duarte Vilela"?
O meu personagem só apareceu no segundo episódio e a reacção que tive foi a de uma amiga sobre o meu cabelo que achou muito giro (risos) e da minha mãe a dizer que tinha gostado muito, algo normal da parte de uma mãe.
Qual o seu papel nesta novela?
Sou um artista plástico que estudava em Brooklyn (Estados Unidos), na Escola de Belas Artes, onde conheceu a namorada, a "Teresa" (Joana Duarte). Ela vem para Portugal ter com a família e ele vem com ela. Quando chega cá a sua personalidade contrasta com a mentalidade portuguesa dos anos 80, de uma pequena aldeia do Alentejo.
Não é a primeira vez que o Francisco e a Joana Duarte contracenam. Como está a ser este reencontro?
Somos muito amigos. A primeira vez que fizemos par amoroso foi nos "Morangos com Açúcar", depois nos "Olhos nos Olhos", no "Meu Amor" e agora em "Anjo Meu". Esta é a quarta vez que contracenamos e já estamos mais que habituados a isso.
É difícil fazer cenas íntimas com uma amiga?
A Joana é tão minha amiga que é como se fosse um rapaz, até costumo chamar-lhe João na brincadeira. Somos os dois profissionais, temos confiança um com o outro e não há qualquer tipo de limitação entre nós.
O seu personagem, o "Duarte Vilela", é um rebelde. Existe alguma semelhança entre o "Duarte" e o Francisco?
Não sou propriamente um rebelde que ponha tudo em causa, portanto, acho que não terá muito a ver comigo. O "Duarte" também não é bem uma pessoa que vai mudar alguma coisa. Tem é uma personalidade mais "open mind" (mente aberta). Para ele, a vida é simples e o "diz-que-disse", tão típico de Portugal e das famílias portuguesas, quase que o diverte.
Esta personagem obrigou-o a alguma preparação especial?
Sim. Obrigou-me a ver algumas imagens dos anos 80 como os videoclips do Sting, por exemplo. Vi também um documentário que o Paulo Pires me sugeriu do pintor Basquiat. Tive de pesquisar como eram as pessoas nos anos 80. A minha personagem irá começar a trabalhar numa olaria e, por isso, também tive o apoio de uma amiga da minha mãe que trabalha como oleira.
A sua mãe (Teresa Côrte-Real) é actriz, assim como a sua avó materna (Madalena Braga). Tiveram alguma influência na escolha da sua profissão como actor?
Não. Quanto muito tiveram influência no facto de eu admirar este meio e de estar envolvido nele desde pequeno. Sempre fui muito ao teatro, estive muito nos bastidores do Teatro Nacional Dona Maria II (TNDM), onde a minha avó materna era actriz, e no Teatro Experimental de Cascais, onde a minha mãe é actriz. Sempre convivi com muitos actores desde pequeno, sempre vi os ensaios e as estreias da minha mãe e da minha avó. O meu avô materno também era contra-regra no TNDM.
Então como chega a actor?
Aconteceu por acidente. Estava na faculdade, queria ter dinheiro para as minhas coisas e estava inscrito em agências. Trabalhava no Pavilhão Atlântico para ganhar o meu dinheiro, quando surgiu o casting dos "Morangos". Fiquei e, a partir daí, os trabalhos têm vindo a suceder-se. Cada vez gosto mais e sinto que posso evoluir. Aprendi a gostar, mas não era um sonho que tinha.
Como tantos actores da sua geração, ficou conhecido pela sua participação em "Morangos com Açúcar" (2005). A série é realmente uma escola de actores? Sente saudades desse tempo?
Sinto. Foi, sem dúvida, o projecto mais importante que tive. Mudou a minha vida. Estava na faculdade a tirar Relações Públicas e Publicidade, ia seguir um determinado percurso e os "Morangos" mudaram completamente a ideia do que queria para a minha vida. Foi ali que conheci pessoas extraordinárias e a maioria dos meus colegas dos "Morangos" ficaram meus amigos para a vida. Ali, aprendi a gostar de representar.
Acabou por não terminar o curso de Relações Públicas e Publicidade?
Não terminei. Para se trabalhar neste meio também temos que aprender e é isso que quero agora. É esta a área que gosto, quero e me dá prazer. Também me agrada a área da realização. Neste momento estou a fazer um workshop com o John Fray, um actor americano e gostava de estudar no Brasil com a Fátima Toledo. De maneira nenhuma vou voltar ao meu curso.
Vivemos em tempos de crise. Esta conjuntura não contribui para arrefecer esses planos, essa vontade de ir para fora?
Esta crise se calhar é o que me dá vontade de fazer alguma coisa por mim, principalmente para ter mais ferramentas para conseguir não ser afectado por ela. Se se tornar insustentável a situação no país, se calhar ir para fora será benéfico para nós, jovens. A solução não passa pela atitude do "estamos em crise, então, deixa-me ficar fechado em casa, encher a despensa e ficar à espera que isto passe". Mais do que nunca temos que correr atrás dos nossos objectivos e fazer algo por nós.
Sente que faz parte da chamada ‘Geração à Rasca'?
Claro que sim. Sinto-o na pele. Sempre se ouviu falar na crise, de Portugal ser um país pobre, etc.. Mas antes não era eu que pagava as minhas contas ou tinha que fazer contas à vida. Hoje já sinto na pele os impostos que aumentam e os salários que diminuem.
É uma pessoa que se preocupa com a situação actual do país? Com aquilo que se passa à sua volta?
Sim. Gosto muito de viajar, é uma das coisas que aproveito para fazer quando não estou a trabalhar. Apercebo-me que o nosso país, não sendo o pior, de terceiro mundo, é um país muito injusto. Aqui é difícil começar um projecto do zero e ter sucesso. Mas foi aqui que nasci, aqui trabalho e aqui gosto de viver. Por isso, também acho que não será o fim do mundo...
Como ocupa os tempos livres?
O Verão é sempre passado ao pé da praia, no mar. Gosto muito de cinema, teatro, também gosto de estar no meu quarto a fazer as minhas coisas, sem ninguém a chatear-me. Devoro filmes, faço colecção de DVD. Vou muitas vezes para o Porto e Braga ter com os meus amigos do Norte.
Mantém a sua vida privada longe do grande público e ninguém lhe conhece uma namorada. É uma opção sua ou não tem tempo para namorar?
Claro que tenho, mas essas coisas não se escolhem por termos tempo ou não. Não se procura uma namorada, as coisas acontecem quando têm de acontecer. Também não namoro com facilidade. É preciso muita coisa, na minha maneira de ser, para namorar com alguém. Neste momento estou bem assim. Também não faço questão, quando tiver uma namorada, de dar uma conferência de imprensa a apresentá-la. Prefiro que seja uma coisa minha.
Escolheu o cenário da clínica CM2C para fazermos esta entrevista. Tem alguma preocupação especial com a estética?
Sim. Aqui na clínica já usufruí da depilação a laser e vou fazer agora um branqueamento. São coisas que valorizo, acho que é importante termos cuidados e gostarmos do nosso aspecto. Não acho que seja um assunto exclusivo das mulheres.
Faz exercício físico, tem cuidados com a alimentação?
Sim. Não sou obcecado em comer apenas coisas que fazem bem, mas também não como tudo aquilo que me apetece. Tento ter uma alimentação mais ou menos equilibrada, porque cada vez mais o meu corpo reflecte aquilo que faço.
Francisco Côrte-Real
Este artigo tem mais de 13 anos
Entrevista com Francisco Côrte-Real Filho e neto de actrizes, Francisco Côrte-Real, 24 anos, cresceu nos bastidores do Teatro, mas nunca quis ser actor. Demasiado tímido, sentia-se incapaz de enfrentar multidões. Aos 18 anos entrou "por acidente" na série "Morangos com Açúcar", da TVI. Tomou-lhe o gosto e hoje é um dos actores mais requisitados da sua geração.
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