'Programa Cautelar': é este o nome do novo desafio de Filomena Cautela enquanto apresentadora de televisão e que marca o seu regresso ao pequeno ecrã. Trata-se de um formato inovador e, de certa forma, arriscado, uma vez que irá abordar temas da atualidade que geram debate.

Esta segunda-feira, dia 17 de maio, a anfitriã confessou-se nervosa na apresentação do formato que decorreu no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa.

O Fama ao Minuto esteve presente neste momento tão importante na vida de Filomena Cautela e numa conversa (em conjunto com outros meios de comunicação) ficámos a conhecer mais a fundo este projeto, cuja estreia está marcada para o dia 29 de maio, na RTP1.

Um objetivo: Mudar um bocadinho o mundo à nossa volta, o nosso mundo

"Isto é sair completamente do meu pé. A maior parte das pessoas conhece-me pelos últimos 10 anos da minha vida, [mas] antes disso também trabalhei, e já na altura a minha premissa era a mesma: se cada um de nós não tentar mudar o mundo um bocadinho à sua volta, também andamos aqui só a passear", começa por referir, notando que este formato é serviço público puro e duro.

Sei que este programa em qualquer outro canal não se faria

"Sinto-me uma privilegiada por trabalhar na RTP", nota, agradecendo pela oportunidade em poder apostar num programa à sua escolha. "Sei que este programa em qualquer outro canal - a não ser que se pudesse ter provado antes que podia ter grandes audiências -, não se faria. É por esta e por outras que é tão importante termos um serviço público de televisão", defende, notando que apesar de conhecer a "fórmula" que dá audiências, a RTP teve a ousadia de querer ir além.

Filomena revela que a ideia foi dela e de mais duas pessoas. Este programa ir-se-á basear no trabalho de investigação intensivo feito por oito jornalistas/guionistas. Levantando um pouco a 'ponta do véu', a comunicadora desvendou os três primeiros temas (numa temporada que contará com seis episódios) que irão ser tratados: a desinformação online, a guerra das audiências e o racismo.

"Queremos falar de fenómenos que acontecem, que são reais e factuais, e queremos fazer uma pesquisa enorme sobre o assunto, com pessoas de várias áreas, ideologias, lados políticos e descobrir o que é só facto, o que é verdade", esclarece.

O conhecimento tem de parar de ser só para as elites

"O conhecimento tem de parar de ser só para as elites. Todos temos opiniões públicas sobre um assunto, então o conhecimento profundo tem de chegar a mais gente, essa é a premissa deste programa. O conhecimento profundo tem de ser falado, explicado, debatido numa linguagem simples e acessível a todos", explica.

A apresentadora revela que cada programa, que durará 45 minutos, terá um grande convidado e outros com participações mais reduzidas. "Pode aparecer qualquer pessoa a qualquer altura. Essa é a coisa boa deste programa. Quando se achar que alguém vai estar meia hora a falar do assunto, vai cair a Ágata de paraquedas", diz, entre risos.

O desafio de conquistar os telespectadores

Questionada sobre se considera que o programa irá ditar uma viragem na televisão em Portugal, de forma franca Filomena responde que não. "Acho sinceramente que não vai resultar", chega mesmo a dizer, no meio de um sorriso nervoso.

"É um horário difícil para um programa deste género [sábado à noite] e exige uma coisa que os telespectadores habituais de televisão não estão muito confortáveis ou habituados, que é: curiosidade e o tentar perceber melhor o que se está a dizer. É uma predisposição para", explica, notando que o público terá de ter uma vontade de mergulhar no tema e fugir ao que habitualmente vê no pequeno ecrã.

É o primeiro programa da minha vida que estou a fazer em que as audiências não podem ser a nossa principal preocupação

"As pessoas que não estão habituadas a ver isto, se decidirem ficar e não mudar para aquilo que já viram 400 vezes, aí pode resultar. Mas essa não é a nossa preocupação. É o primeiro programa da minha vida que estou a fazer em que as audiências não podem ser a nossa principal preocupação", garante.

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Filomena Cautela na apresentação do seu novo programa na RTP© DR/RTP

A apresentadora sublinha também que o seu objetivo não será mudar mentalidades ou opiniões, mas antes informar o público de forma descontraída e acessível. "Queremos é que as pessoas se divirtam e fiquem curiosas em relação àquele assunto. Queremos que as pessoas, que já têm opinião sobre tudo e mais alguma coisa e fazem questão de a mostrar publicamente, tenham mais informação e ferramentas para encontrar a sua própria opinião".

"A forma mais fácil de chegar ao coração das pessoas é a arte. É direto, não há cá cabeça ou racionalidade, vais direto ao coração", nota, referindo que o "humor" pode ser uma importante arma para falar de coisas sérias.

Temas que prometem: Guerra das audiências e racismo

Cautela refere que o segundo programa - 'Guerra das Audiências' - será o mais divertido dos primeiros quatro, pelo menos. Nele participarão dois convidados que ninguém está à espera. Considera igualmente "irónico" abordar o assunto estando no primeiro canal, uma vez que a batalha é travada entre a SIC e a TVI.

"O mote é simples: nós já sabemos quem é o mais visto em Portugal. E quem era o mais visto há 10 anos. Agora, isso é o retrato do nosso país? Os líderes de audiências nos últimos 30 anos são um retrato daquilo que consumimos enquanto sociedade? Isso é importante para toda a gente", destaca.

É um dos temas mais difíceis. Mas tínhamos de o abordar, senão seria cobardia

Já quanto ao racismo disse: "É um dos temas mais difíceis que temos em mão, mas tínhamos de o abordar, senão seria uma cobardia. Para isso é preciso trazer informações - com os estudos que estão a ser feitos e as histórias das pessoas".

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O racismo e a guerra das audiências são dois dos temas que prometem dar que falar© DR/RTP

As mudanças que Cautela sentiu após o programa

Este foi um desafio particularmente exigente e que levou a apresentadora a mergulhar num grande volume de pesquisas. Conta-nos que foram meses de "conferências de quatro horas seguidas", "teses de mestrado, artigos, crónicas, estudos", e de "reunir com pessoas em plena pandemia".

"O que me mudou a mim foi: não temos de nos manifestar ou ter uma opinião formada sobre tudo, mas se a temos e a queremos partilhar, seja com uma ou um milhão de pessoas, então temos de saber o máximo possível sobre o que estamos a falar, senão é uma contaminação tal que estamos todos a caminhar para um sítio que pode ser muito feio e que nos pode prejudicar pessoalmente", reflete.

Este programa ensinou-me uma coisa que eu já tinha ideia mas que agora sei que é verdade: humanismo não é política

"Este programa ensinou-me uma coisa que eu já tinha ideia mas que agora sei que é verdade: humanismo não é política. Os direitos humanos não são ideologia, são duas coisas diferentes. Os direitos humanos e o humanismo têm de ser transversais à política toda, se não forem, alguma coisa está errada", defende.

O futuro de Filomena Cautela... que se prevê fora da televisão

Abrindo o coração, embora haja sempre a possibilidade de as coisas não correrem como se espera, Filomena acredita que o seu futuro profissional após este programa será fora da televisão, mais precisamente no teatro.

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Filomena Cautela adivinha o seu futuro longe da televisão © DR/RTP

"Acho mesmo que a próxima coisa que vou voltar a fazer profissionalmente é ser atriz. Não tenho ambições dentro da televisão, não tenho nada de querer chegar a algum lado", afirma.

Este programa vai ser 'ou vai ou racha'. Vai ser o principio e o fim de um ciclo para mim

"Este programa vai ser 'ou vai ou racha'. Vai ser o principio e o fim de um ciclo para mim. Sinto que é uma vontade minha. Se deixar de apresentar televisão é com este programa que eu quero fechar. Tenho muita vontade de voltar só a ser atriz. Tenho muitas saudades, é uma profissão muito bonita. É menos pressionada", confessa.

"Uma das razões pelas quais eu saí do '5 Para A Meia Noite' é porque estava a sentir-me pressionada e cansada. Cansada de manter o programa sempre naquela fasquia e na loucura. Sentia que já não estava a dar o que queria dar e que o formato merecia", revela por fim, recordando o projeto pelo qual sempre recebeu os maiores elogios e do qual nota ainda não sentir saudades.

O seu desejo é brilhar no Teatro Urgente, até porque os clássicos já estão bem entregues.

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