Celina Carpinteiro, 30 anos, é uma mulher invulgar. Jogou futebol durante anos até que uma lesão a fez desistir da modalidade. Incentivada pelo namorado, começou a pedalar por lazer e, hoje, é a praticante de BTT feminina portuguesa mais premiada da actualidade. Próxima aventura: o Titan Desert 2011. Entre 9 e 14 de Maio, a professora vai percorrer de bicicleta 600 kms do deserto de Marrocos, integrada na Meo Team, uma equipa de que fazem parte, entre outros, os irmãos Rosado, da dupla os “Anjos”, e Marco Chagas e Vítor Gamito, duas lendas do ciclismo.
Julgo que esta selecção foi o colher dos frutos da minha participação no BTT até agora. Não é muito longa, só comecei a competir em 2006. No entanto, tenho conseguido alguns resultados. Cheguei à fase final, com outros cinco candidatos, e felizmente fui escolhida.
Sim. Sou professora de Ciências Naturais (formada em Biologia e Geologia), tenho uma vida profissional preenchida, dou aulas com horário completo e sou directora de turma. Na minha escola, felizmente, tenho uma direcção e colegas que me apoiam muito e que me facilitam qualquer troca que tenha de fazer, porque como professora contratada não posso faltar. É o que vai acontecer durante a semana e meia em que estiver ausente em Marrocos. Vou ter colegas a darem as minhas aulas e depois vou ter duas semanas de trabalho a dobrar para tentar repor e compensar os meus colegas. Mas quem corre por gosto não cansa.
Vem do meu namorado que já fazia BTT há muito tempo. Eu fazia desporto, mas não BTT, aliás, não queria nada com bicicletas. Jogava futebol, mas fiz uma entorse grave e não conseguia correr nem fazer actividades de impacto. Então ele lá me conseguiu convencer a dar uma volta de bicicleta. Tinha 25 anos, comecei a ir a passeios e, desde então, tem sido uma escalada muito rápida. Mas isso deve-se também ao facto de ser do sexo feminino. Infelizmente, somos muito poucas, e em Portugal ainda menos, o que nos permite brilhar mais facilmente.
Acho que sim. As provas que tenho feito têm tido um certo grau de dificuldade, com subidas muito longas de 8 a 10 kms, o que faz cerca de duas horas a subir. O Titan Desert vai colocar-nos outro tipo de problemas, como o calor, a desidratação, etc.. Temos que ter muito cuidado porque podemos chegar a um ponto de exaustão muito grande e a recuperação para o dia seguinte é fundamental.
Muito bem recebida, sou sempre tratada com muito respeito. Nas provas, se preciso de ajuda, sou sempre ajudada e tenho palavras de incentivo que, se calhar, outros colegas não têm. Durante o percurso há sempre pessoas a gritar o meu nome – “Força, Celina” – e isso é muito gratificante. Mesmo no estrangeiro. Ainda agora no Brasil foi incrível. Estávamos a fazer uma subida, estava a chover e passei por dois ciclistas que estavam parados e que gritaram: “Esta é a Carpinteiro de Portugal”. É muito gratificante. Recentemente, na maratona de Leiria, ia a sentir-me um pouco mal e um participante passa por mim e apresenta-se: “Celina Carpinteiro, é um prazer conhecê-la!” (risos). Isso vale mais que uma vitória no final de uma etapa.
Sinto. Já que me atribuíram esse estatuto, eu agarro-o com muito orgulho.
(Texto: Inês Costa)
(Foto: Gonçalo Português)
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