Apresentadora de televisão, atriz, embaixadora e ativista. Todos estes são papéis que Catarina Furtado desempenha há vários anos e que ajudam a torná-la numa das figuras mais influentes e respeitadas da sociedade portuguesa.
Este sábado, dia 27 de maio, volta a dar a cara pela Corações com Coroa (CCC), a associação que fundou em 2012 e que está agora a completar 11 anos de existência. "Apoiar, informar e capacitar" foi sempre o lema desta organização sem fins lucrativos que tem, ao longo de todo este tempo, ajudado inúmeras raparigas e mulheres que a procuram.
O aniversário da CCC é sempre assinalado com uma conferência que discute um tema em particular Este ano, vai falar-se sobre o país que temos - e o que queremos ter no futuro - no auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian, a partir das 15h00.
Em entrevista exclusiva ao Fama ao Minuto, a comunicadora explicou por que motivo é tão importante participar neste evento que contará também com Manuel Luís Goucha e Miguel Esteves Cardoso. Ainda assim, tornou-se inevitável falar dos 11 anos da associação que Catarina representa com tanto orgulho.
Estamos a poucas horas de mais uma edição da conferência anual da Corações com Coroa. Quais são as novidades para este ano?
O ano passado fizemos o nosso 10.º aniversário e celebrámos a data mostrando ao público o impacto do nosso trabalho nas jovens e nas mulheres, nos mais variados projetos. Durante estes 10 anos temos selecionado temas pertinentes que têm impacto nas famílias em geral mas, sobretudo nas mulheres, que são o foco do nosso trabalho. Este ano decidimos falar sobre que Portugal é este que temos hoje e qual o país que queremos ter no futuro.
As mulheres que ajudámos a empoderar e que, neste momento, seguiram as suas vidas, têm um eco em mim gigantesco
O que motivou a escolha do tema, ao qual deu o título 'o Portugal que hoje somos e o país que queremos'?
Estamos a dar conta de vários retrocessos em relação aos direitos humanos. Há muitos preconceitos, racismo, discriminação e, sobretudo, alteração dos dados por parte dos 'ventos' mais populistas e conservadores, que deturpam alguns factos que são concretos. Por isso, achámos pertinente debater as 'fake news' e os populismos para chegarmos a um retrato mais próximo e real do nosso Portugal.
O evento tem uma programação muito completa, embora se destaquem as participações de Manuel Luís Goucha e Miguel Esteves Cardoso. A opção de convidar estas duas personalidades prende-se com algum motivo em particular?
Em relação ao Manuel Luís Goucha, tenho tido sempre cúmplices da área da comunicação social ao longo destes 10 anos. Temos tido pessoas mediáticas que também se preocupam com a construção de uma sociedade mais igualitária, justa e sustentável. No caso do Miguel, as conferências têm sempre uma grande entrevista feita por mim. Se alguém tem escrito durante anos e anos sobre o nosso país, até de uma forma acutilante, irónica e muito observadora, é o Miguel Esteves Cardoso. Fiquei abismada com o 'sim' imediato dele quando lhe fiz o convite. É um dos meus grandes ídolos e estou muito orgulhosa por poder entrevistá-lo. Vai ser um momento grande da minha carreira.
Este ano, a associação completa 11 anos de existência. O que considera terem sido as grandes conquistas da Corações com Coroa durante todo este tempo?
A primeira coisa que me ocorre é agradecer à minha pequena grande equipa. Temos uma equipa constituída por quatro pessoas na sede e mais quatro pessoas no projeto social pioneiro que se chama Corações com Coroa Café, que dá emprego a mulheres em situação de desemprego prolongado. A primeira coisa que devo fazer é agradecer, porque em 11 anos transformámos muitas vidas. O nosso lema é "apoiar, capacitar e informar". As mulheres que ajudámos a empoderar e que, neste momento, seguiram as suas vidas, têm um eco em mim gigantesco. Este é o propósito. Eu sou figura pública há 32 anos mas o que mais mexe comigo é utilizar este meu lado mediático e credível, modéstia à parte, para transformar vidas e apoiar pessoas. É o meu sonho e o que me faz mais sentido. Amo a minha profissão. Se ela estiver aliada a um propósito útil, então é mesmo 'morangos com chantilly'.
Catarina Furtado num evento organizado no Corações com Coroa Café, em Belém© Global Imagens
Que expetativas ainda aponta para o futuro da associação?
Quero que ela esteja mais musculada. Gostava de ter mais pessoas a trabalhar na associação e, para isso, é preciso ter mais financiamento. Acredito piamente no voluntariado mas como assessoria. Não posso nunca encostar-me ao voluntariado da Corações com Coroa, senão o voluntariado tem de ser o meu, senão pode não ficar tão profissionalizada. Gostava de fazer crescer a estrutura para poder ajudar ainda mais pessoas. Nunca dou um passo maior do que a perna.
Uma associação sem fins lucrativos representa isso mesmo. Nós investimos nas pessoas, não temos lucro
Recordo-me que a Catarina havia sublinhado, no ano passado, as dificuldades sentidas pela associação na missão de ajudar, por exemplo, mães solteiras que durante a pandemia ficaram desprotegidas. Agora, a associação já se encontra numa fase mais confortável e com mais condições de ajudar quem a procura do que neste período da pandemia?
É sempre um trabalho inacabado. Uma associação sem fins lucrativos representa isso mesmo. Nós investimos nas pessoas, não temos lucro. O nosso lucro é medido no momento em que a mulher está com o curso superior tirado, ou com autonomia financeira, com saúde psicológica estável... isso exige, de mim em particular, que permanentemente estejamos a pedir apoios e financiamentos. São os privados que podem muito ajudar as associações. Os privados têm de exercer a sua responsabilidade social. Ganhámos mais apoios mas, na verdade, temos de tê-los.
Não podia deixar de sublinhar que este é também um ano em que a Catarina completa 50 anos de vida. Acredita que a Corações com Coroa é um dos maiores legados que o seu percurso profissional, com tantos sucessos, irá deixar no futuro?
Acho que já não consigo distinguir. Sou, acima de tudo, uma comunicadora. Mas ainda dentro disto sou também embaixadora e fundadora desta associação. O legado que deixo? Acho que é tudo. Quando estou a apresentar o 'The Voice', quantas não são as vezes que deixo como que um 'statement' contra o racismo ou a favor da igualdade de género? Tenho sempre essa preocupação, ela está sempre dentro de mim. Quando me tornei mãe, ainda mais. É impossível aceitar que a cada dois minutos uma mulher tem uma morte evitável com questões relacionadas com a gravidez e o parto. Deixo sempre esta continuidade da minha existência enquanto ativista.
As pessoas já me vão percebendo. São muitos anos e, por muito boa atriz que pudesse ser, não conseguiria mentir
E tem sido sempre muito apoiada pelo público. Isso também a motiva a continuar a ter este papel ativo?
Acredito que tenho ajudado com trabalho feito. As pessoas podem dizer 'ela fala muito', mas também podem falar do meu trabalho. O trabalho está feito e é um trabalho de equipa, porque eu não faria nada sozinha. Não perco muito tempo a ver se as pessoas estão do meu lado. Tenho convicções que são constatações do trabalho no terreno, não com base em opiniões. Acredito que é possível criar um mundo mais saudável para todas as pessoas, portanto não vou desistir disso.
Claro que sou muita grata ao público. Não posso dizer que não me interessa o que o público acha, mas não deixo de dizer o que penso por ter receio de que deixem de gostar de mim. E as pessoas já me vão percebendo. São muitos anos e, por muito boa atriz que pudesse ser, não conseguiria mentir.
Leia Também: "Há pouca coisa que podem dizer que me incomode. Já não ligo"
Comentários