'Ninja' é o mais recente tema de Blaya Rodrigues, o qual serviu de mote para a conversa da artista com o Fama ao Minuto. Aos 36 anos, a cantora, que se tornou conhecida no grupo Buraka Som Sistema, volta a cantar em português do Brasil, uma escolha que, segundo a própria, não tem em vista o mercado brasileiro. Canta com "sotaque" porque é brasileira, nota, e porque assim consegue uma maior liberdade no que diz respeito à letra das músicas.

A artista falou-nos ainda da maternidade, uma vez que é mãe de Aura Electra (que trata carinhosamente por Lau) e do pequeno Theo, bem como da sua relação com o corpo, que passou por várias mudanças após ter sido mãe pela segunda vez.

Como é que tem sido a reação do público a 'Ninja'?

Está a correr bem, ouço as pessoas a cantar, ouço na rádio, o que é muito fixe. Depois nos concertos o pessoal apanha logo a letra, mesmo aqueles que não sabem, faço sempre questão de ensinar.

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Canto com sotaque brasileiro simplesmente porque sou brasileira

Nesta música volta a cantar em português do Brasil. O mercado brasileiro é uma meta na sua carreira?

Não... Canto com sotaque brasileiro simplesmente porque sou brasileira. Acho que o público português ainda é um pouco fechado para receber este tipo de letra/composição com sotaque português, penso que com sotaque brasileiro acaba sempre por levar de uma maneira mais leve. Até na nossa forma de falar somos muito mais 'secos', parecemos que estamos chateados ou muito sérios. Com os brasileiros ou os espanhóis é muito mais dançável, a conversa tem muito mais ginga. Mas o meu foco é Portugal.

Mas tem muitos fãs brasileiros...

Ainda bem que sim! [ri-se]. Mas para eu 'furar' lá pelo Brasil tinha de lá estar uns dois meses para fazer coisas.

Neste momento da sua vida não teria essa disponibilidade?

É mais por causa dos filhos. O meu pequenino vai fazer dois anos, não me sinto preparada para ir durante tanto tempo. Se fosse uma semana ia, mas mais do que isso não.

E porquê 'Ninja'? É um nome curioso.

Ninja, como a música diz, eu vou por cima, por baixo, mas nunca toco e os ninjas têm muito esse dom que é passar pelos pingos da chuva e a chuva não lhes tocar.

Como é que responderia às críticas que dizem que as suas músicas são demasiado sexualizadas?

O público em geral ainda é muito fechado em relação ao sexo da mulher, ao prazer da mulher. O prazer do homem leva-se numa conversa mais leve, mais suave, enquanto o prazer da mulher ainda é um bocado tabu. Gosto de mostrar esse lado mais sensual para que as pessoas se sintam mais sexuais ao ouvir estas canções. Estou a ouvir, a dançar e a sentir o meu corpo. Há muitas músicas sobre amor e as pessoas não dizem 'estás sempre a falar sobre amor'. Porque é que o corpo é menos que o amor? São os dois válidos. Da mesma maneira que um artista pode falar um álbum inteiro sobre amor, eu posso falar sobre o corpo da mulher, o corpo do homem, sobre sexo, desejo, sobre rabo, sobre tudo!

No final do dia, eu não faço música só para mexer o corpo, mas para as pessoas se sentirem livres, tanto no físico, como no interiorHá muita gente que não explora o corpo e tem receio disso. Por exemplo, um homem começa a explorar o seu corpo muito mais cedo que a mulher. No final do dia, eu não faço música só para mexer o corpo, mas para as pessoas se sentirem livres, tanto no físico, como no interior.

Quando era mais pequenina e era mais gordinha jogava àquele jogo do 'bate pé' e os rapazes nunca queriam ficar comigo. Acho que fui desenvolvendo esta parte por causa desse lado negativo que houve na minha infância/pré-adolescência

Sempre teve essa consciência do seu corpo ou é algo que foi crescendo ao longo dos anos?

Sempre fui muito à vontade. Quando era mais pequenina e era mais gordinha jogava àquele jogo do 'bate pé' e os rapazes nunca queriam ficar comigo. Acho que fui desenvolvendo esta parte por causa desse lado negativo que houve na minha infância/pré-adolescência. Fui desenvolvendo o explorar-me e de como me sentia bem, não pela validação das outras pessoas, mas pela minha e para perceber como é que o meu corpo funcionava. Mesmo a nível de rap, que comecei a escrever com 14/15 anos, já era muito a cena das mulheres de punho firme. De onde é que isso veio? Talvez da minha mãe que sempre trabalhou muito desde que viemos do Brasil.

Sendo mãe de uma menina quais os valores que faz questão de lhe passar?

Ter mais paciência para ouvir, porque acho que hoje em dia há tantas coisas a acontecerem que o pessoal não ouve os problemas uns dos outros. E é sempre a igualdade. Um tema de que tenho receio é o bullying. Vou tentar que isso não aconteça, mas esse ensinamento vem muito da escola, temos de estar sempre alerta. Internet muito pouco. Quer dizer, agora é nada. Porque a internet é um mundo, eles têm acesso a tudo. E o aproveitar as pequenas coisas.

Ela já tem noção da sua popularidade?

Sim, mas pensa 'é a minha mãe, é o que é'. Já está habituada. Se vai comigo a algum lado e querem tirar fotografias comigo fica à espera. Para ela é normal. Na escola também diz 'a Blaya' e há amigos que me chamam assim.

Ela herdou o seu talento para a dança ou é uma 'vibe' completamente diferente?

É completamente diferente [diz, sem conter o riso]. Sinceramente ela não saiu à mãe. Gosta muito de dançar e percebe muito bem ritmo mas é um dançar muito parecido ao do pai, o que é engraçado. Não sei se será esse o caminho que irá seguir.

Também é mãe de um menino. Sentiu diferença ao educar a Aura (Lau) e o Theo?

Sinto agora, mas porque o Theo tem a Lau e também tem o Benji, que é filho do meu namorado. A minha filha, por exemplo, não se apega a nenhum brinquedo, raramente brinca com coisas. O filho do meu namorado já tem o futebol, os brinquedos, os carros e como o Theo vê o irmão com mais coisas então já se está a apegar ao mesmo tipo de coisas. Ele já é maluco pela bola.

Desde que foi mãe passou por uma mudança física. Foi difícil manter a disciplina?

Muita gente diz que eu emagreci muito rapidamente, mas não, emagreci um ano depois de ter o Theo. Levei as coisas com calma. Comecei no ginásio sem a alimentação, passado uns meses percebi que estava lá há muito tempo e não estava a ver mudanças. Tive de dar o próximo salto, que foi a alimentação. A partir daí, comecei logo a perder peso. É preciso foco, força de vontade, não é só dizer 'quero perder peso', tem de ser algo que queremos mesmo. E não é inventar, é ir ao nutricionista.

E a nível de alimentação foi difícil?

É tudo uma questão de hábito. Havia coisas que tinha mais vontade de comer e se calhar só comia um bocadinho ou então nem sequer comia. Muitas das coisas que temos a nível de alimentação são impulsos. 'Apetece-me isto!'. Mas está tudo ok se comermos outra coisa, vai-nos saciar da mesma maneira e se calhar até nos vai fazer melhor.

Durante essa fase houve momentos em que se sentiu insegura com o seu corpo?

Nunca tive essa sensação porque também levei o meu tempo. Nunca me senti pressionada para obter determinado peso ou o meu corpo ficar de determinada forma. Sempre me senti muito bem, sempre aceitei todas as fases pós-parto. Acho que é assim que faz sentido, porque se colocarmos pressão, às vezes as expectativas não vão coincidir com a realidade e vai tudo por água abaixo.

Não deixa de ser interessante ouvir essa perspetiva sabendo que é artista e que tem de ter confiança para subir a palco.

A confiança é tudo daqui de dentro [diz, enquanto aponta para a cabeça]. Mas se eu estivesse com o peso que estava não conseguia a nível físico fazer algumas danças, então convinha voltar ao antigo peso para aguentar 1h15 de concerto sem parar. É mais por causa disso, porque a nossa autoestima vem toda cá de dentro. Temos de trabalhar o nosso interior.

Quais serão os seus próximos concertos?

No dia 7 de julho terei um concerto no Festival das Cores em Vila Nova de Santo André. No dia 8 de julho será o Festival da Sardinha.

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