Foi na inauguração da exposição 'Retratos Contados de Ruy de Carvalho', na Casa do Artista, que José Raposo se pronunciou sobre esta nova fase da sua vida, depois de ter assumido o cargo de diretor da instituição.

“É maravilhoso porque é a nossa casa. Estar a contribuir para que mantenhamos a nossa casa como o polo cultural que ela é, porque tem várias valências, e também ter a felicidade de estar em contacto com as minhas referências que cá estão. É um privilégio, acima de tudo, poder fazer algo para que esta casa tenha a dignidade e a importância que ela tem de ter. Não é que todas as outras casas por esse país fora que acolhem as pessoas mais idosas não tenham que ter dignidade, só têm que ter, obviamente. Mas esta história do artista é, de facto, às vezes, um pouco difícil de contar”, começou por destacar em conversa com o Fama ao Minuto.

“Os artistas doam às pessoas uma vida inteira com sangue, soar e lágrimas. É uma exposição muito grande, uma vida inteira a ter essa exposição, a darem-se de corpo e alma para que as pessoas aprendam coisas, saibam muita coisa pelas mensagens que os textos interpretados pelos atores lhes dão… Tudo isso que é dado pelos artistas tem que ter uma recompensa especial. Ainda por cima porque nós funcionamos por trabalhos, não temos contratos de longo prazo, não temos uma estabilidade (hoje em dia quase ninguém tem). Mas nesta profissão, como trabalhamos muito a recibos verdes... - E não sou dos que se podem queixar, sou um privilegiado, sem dúvida. Tive sempre trabalho mesmo com a pandemia. Não sou exemplo do que se passou com a minha classe que foi fustigada, como toda a gente sabe, de uma forma muito dura”, acrescentou, frisando que “regra geral, os artistas têm essa intermitência do trabalho”.

“Portanto, quando chegam aos últimos anos da sua vida, têm reformazinhas de 'caracacá', como muitas outras pessoas, claro. Mas a minha experiência é aqui e falo daquilo que sei, das pessoas ligadas à cultura”, continuou.

José Raposo contou ainda que tem estado a trabalhar em conjunto com a ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamentado o facto de o prometido 1% do orçamento de Estado para a Cultura ainda não ter sido atingido.

Estamos a trabalhar em relação a determinados protocolos para melhorar determinados aspetos da Casa do Artista, e isso será revelado na altura própria”, revelou, referindo-se às negociações com a tutela.

Sei também que ao Ministério da Cultura não é injetado o dinheiro como deveria ser. Aliás, este Governo, andamos há que tempos a falar no 1% para a Cultura que nem a isso chega no orçamento de Estado, em relação à cultura. Portanto, a partir daí, está tudo dito. Isso é que é vergonhoso porque em qualquer país, a começar aqui por Espanha, o dinheiro reservado para a cultura tem muito mais dimensão do que em Portugal (em relação ao orçamento geral de Estado)”, lamentou de seguida.

Palavras que chegam no dia em que se homenageou um grande nome da cultura portuguesa, Ruy de Carvalho, a quem José Raposo teceu rasgados elogios.

O Ruy além do genial ator que é, é uma pessoa super afável, generoso, tem uma formação fantástica, dá-se bem com os colegas mais velhos, os mais novos, com toda a gente. É muito fácil ser-se amigo do Ruy. E depois vai para o palco e arrebata-nos completamente. É uma honra ter aqui esta exposição com fotografias que mostram não só um percurso de um grande ator como também nos contam histórias”, disse, referindo-se à exposição fotográfica que retrata a vida de Ruy.

“Tem muito a ver com a Casa do Artista, que é o que acontece com os residentes que aqui estão, que têm história para contar. E é isso que esta direção pretende também. É aproveitar uma manancial cultural, de vida e de sabedoria de toda esta gente que reside na Casa do Artista para aproveitar para haver uma interação com o público mais do que natural”, continuou.

Ainda sobre a exposição, José Raposo frisou: “O Ruy é um símbolo nacional do artista português. Faz todo o sentido que esteja aqui esta exposição maravilhosa, com fotos lindas do grande Ruy de Carvalho. É um orgulho enorme ter aqui esta exposição patente ao público e ainda por cima com esta interação com o teatro. Ou seja, quem o vem ver no palco pode ver a exposição sem pagar um tostão”.

De referir que a exposição 'Retratos Contados de Ruy de Carvalho' pode ser vista na Galeria Raul Solnado, sem qualquer custo, de segunda-feira a sábado, entre as 19h00 e as 22h00, e domingos das 18h00 às 20h00. Neste momento o ator está também em cena com a peça ‘A Ratoeira’, precisamente no Teatro Armando Cortez.

Questionado sobre o que mais aprendeu com Ruy de Carvalho, Raposo respondeu: "O que todos os outros aprenderam. Basta estar com ele, basta vê-lo. Segui sempre as coisas que o Ruy fez porque sou ator e tenho que aprender. Já trabalhei com ele em televisão, não tive a sorte de trabalhar em teatro, que é o sítio onde os atores mais gostam de estar, é no palco, é a nossa casa, porque temos uma interação com o público natural. Uma corrente que existe, temos logo ali a reação de tudo. Sempre disse isto, é o sítio ideal para um ator estar é em cima de um palco. Claro que segui o percurso do Ruy e de outros atores que são os nossos mestres, as nossas referências”.

De recordar ainda que José Raposo falou também sobre o estado de saúde da ex-mulher, Maria João Abreu, referindo que é "uma situação muito complicada".

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