João Valentim, 31 anos. Este é o nome de uma das promessas do entretenimento português. Atualmente a trabalhar com Cristina Ferreira no seu programa na SIC, foi na TVI, mais precisamente no ‘Você na TV’, que o repórter começou a sua carreira televisiva. De sorriso fácil, João falou sobre o seu percurso até chegar ao pequeno ecrã e das lições que teve de aprender.

Nunca teve o seu caminho definido. Chegou a ingressar no curso de Estudos Portugueses e Lusófonos, acabando por desistir, e mais tarde decidiu tentar Ciência Política e Relações Internacionais, mas também não era isto que o preenchia.

Ao entrar em contacto com uma câmara de televisão pela primeira vez, aí sim, sentiu-se verdadeiramente realizado.

O que queria ser em criança?

Nunca decidi o que é que iria ser quando era pequeno. Acho que foi tudo acontecendo por acaso. Quis ser veterinário, mas nunca fiz nada para esse caminho. Só tive de me decidir no 12.º ano e escolhi Estudos Portugueses e Lusófonos na [Universidade] Nova de Lisboa. Estive lá um mês, não aguentei, então mudei para Ciência Política e Relações Internacionais, mas também não foi a minha cena. Parei, tive um ano sabático, como dizem.

Foi a olhar para a Clara de Sousa que decidi que queria ser jornalista
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João Valentim na infância © Facebook/João Valentim

Quando é que pensou que o seu futuro poderia estar na televisão?

Foi a olhar para a Clara de Sousa que decidi que queria ser jornalista. Inscrevi-me num curso, os meus pais não queriam que fosse gastar dinheiro. Sou do Algarve, tinha de pagar casa, pagar o curso, só aí já davam 500 euros. Em dois anos fui. Vi os estágios e convidaram-me para fazer um na TVI. Estive seis meses na informação. Fazia geralmente peças de fim de semana, aquelas mais longas, um doce ali, uma quinta acolá.

E o entretenimento? Em que altura passou a ser uma opção?

Os meus editores na altura olharam para mim e disseram: 'Acho que tinhas mais jeito para o programa do Goucha'. Quando acabou o estágio, a minha editora escreveu uma carta de recomendação (ainda hoje a tenho) a falar bem de mim e entregou-a à Cristina [Ferreira]. Na época havia uma coisa que era o reforço de verão por causa das férias. Então ligaram-me.

Como foi essa experiência?

No primeiro mês as coisas não correram muito bem, porque éramos três e desses eu era o mais fraco, supostamente… mas depois aquilo deu uma volta tão grande que fiquei cá em cima. Começaram a ver a minha forma de fazer as coisas, porque não faço as coisas de forma normal. É o que vier, saber ouvir as pessoas e ser criativo. Entretanto, uma colega minha engravidou e fui para o lugar dela durante a licença de maternidade. E depois uma outra colega saiu.

Nos primeiros meses sofria muito, nunca aparecia ao pé deles [Cristina Ferreira e Manuel Luís Goucha]

É diferente trabalhar com o Goucha e com a Cristina?

É. Com a Cristina é muita adrenalina, porque ela toma atenção a tudo, o Goucha é sobretudo ao português, caso eu diga alguma coisa mal. Já sofri muito [diz, entre risos]. Uma vez disse ‘miupo’ [míope] e não correu muito bem. Como tenho sotaque algarvio, há palavras que às vezes 'como'. As pessoas pensam que estou a falar mal. Então, tento falar mais pausadamente para ter a certeza de que entendem o que estou a dizer.

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João ao lado de Manuel Luís Goucha © Facebook/João Valentim

A Cristina tem bases de informação. Corrige-me tudo, o Goucha desde que esteja tudo bem não me corrige muito. Nos primeiros meses sofria muito, nunca aparecia ao pé deles quando fazia uma reportagem com medo que me dissessem que alguma coisa estava mal.

E os seus pais como é que reagiram quando começaram a ver o Valentim na televisão?

Puxam para trás [a emissão] e estão sempre a perguntar se vai passar alguma coisa minha. O meu pai é mais crítico, se não gostar de alguma coisa diz logo, a minha mãe não, está sempre tudo bem, desde que não use a mesma roupa [risos]. Reagiram muito bem e acho não estão preparados quando a parte má da fama chegar, algo que irá acontecer, inevitavelmente. Por exemplo, quando mudei [de canal] pus isso no Facebook e levei com muitos comentários negativos.

Disseram-me que a TVI me tinha dado tudo, que era um ingrato

Mas as pessoas criticaram?

Sim, sim. Disseram-me que a TVI tinha-me dado tudo e que era um ingrato.

Costuma responder a esse género de comentários?

Respondi a uns quantos... às vezes respondo. Porque é que não posso responder? Está no meu Facebook, a insultarem-me na minha própria casa, era só o que faltava...

Qual foi a pior crítica que lhe fizeram?

No princípio havia um site que tinha um fórum inteiro a falar mal de mim, era horrível, mas desde que o Goucha e a Cristina gostassem, isso é que era importante.

Disse à Cristina que devia ir para a SIC e devia levar-me

Quando soube que a Cristina ia embora percebeu que ia com ela?

A Cristina convidou-me no dia em que toda a gente soube. Algo muito engraçado, porque numa certa manhã [muito antes de se saber a mudança] eu disse à Cristina que devia ir para a SIC e que devia levar-me. Ela riu-se, foi para aí em maio. No dia em que foi o 'boom' ela ligou-me, estava eu na praia, e ela disse-me: ‘Olha, fiz aquilo que me disseste. Vou para a SIC e tu vens comigo’. E eu disse: está bem. Depois tive de aguentar de agosto até novembro. Só me decidi quando me ligaram estava eu a fazer uma reportagem na Escócia.

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João com Cristina Ferreira © Facebook/João Valentim

Teve pena de deixar o Manuel Luís Goucha?

Tive, tive muita pena. Já estava habituado, era uma equipa que conhecia.

Uma pessoa que queira trabalhar com a Cristina como é que tem de ser?

Tem de ser verdadeira, criativa, persistente e saber ouvir.

Quais foram as diferenças que sentiu entre a SIC e a TVI?

Na TVI trabalhava mesmo para a TVI, aqui trabalho para uma produtora que é a Plural, que faz o programa. Primeiro entrei num programa que já tinha uma engrenagem, agora estamos a começar tudo de novo, estamos a conhecer-nos. É uma questão de hábito. Com calma entra nos eixos.

Gosto muito de fazer as aldeias e os bairros, com pessoas típicas. Não gosto muito de passadeiras vermelhas
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Um momento marcante para o repórter: "Conheci a Dona Esperança num dia repleto de chuva. Tem 95 anos. Uma vida cheia de vida. Quando me apresentei, em trabalho, sorriu-me e disse-me que era muito jeitoso. No decorrer da reportagem pedi para que me desse o braço muito carinhosamente. Para mim, não passou de um gesto simples. Quando chegou a estúdio, ao programa da Cristina , contou-nos que nunca pensou em dar o braço a outro João. O marido já falecera há mais de 20 anos. Chamava-se João. Fiz a Esperança feliz. Mas ela não sabe como aquilo aqueceu o meu próprio coração", contou no altura. © Facebook/João Valentim

Qual é o tipo de trabalho que mais gosta de fazer?

Gosto muito de fazer as aldeias e os bairros, com pessoas típicas. Não gosto muito de passadeiras vermelhas.

Já não sei se olham para mim porque sou bonito ou porque sou da televisão.

O que a televisão tem de mau?

Acho que é a invasão da nossa privacidade. No outro dia estava a sair de casa e encontrei um senhor que olhou para mim e disse: ‘Já mudou de carro, qualquer dia muda de casa’. Isso é uma coisa má, saberem tudo da tua vida. Tinha mesmo um carro de novo e ia mesmo mudar de casa.

No outro dia foi um amigo meu à minha casa, que também é da televisão, e passou por umas vizinhas. Elas perguntaram: ‘Tu és o não sei das quantas?’ e ele disse que não. Depois tocaram à minha porta a perguntar se ele estava lá.

Não podes fazer tudo à vontade, por exemplo, na praia, ou mesmo dizer palavrões. A nossa primeira imagem é a que conta. Aqueles que menos esperas conhecem-te, o que é muito estranho. Já não sei se olham para mim porque sou bonito ou porque sou da televisão [risos].

Pedem-me muitas coisas, mandam nudes, muitos a dizerem-me coisas obscenas

Quando regressa à sua terra no Algarve como é que as pessoas reagem?

Querem sempre que vá com elas ao café, mas nunca vou. Quando vou a uma feira ou algo do género com a minha mãe, ela repara quem está a olhar para mim. Por acaso sou muito despistado, só se alguém me aparecer à frente é que tomo atenção. Pedem-me muitas coisas, mandam nudes [fotografias em que as pessoas surgem nuas], muitos a dizerem-me coisas obscenas. Convites para tudo e mais alguma coisa… pessoas casadas, solteiras, com filhos. Recebes coisas chocantes às vezes.

Quando me fazem muitas perguntas sobre o Goucha e a Cristina corto logo a amizade

E notou a aproximação de pessoas interesseiras?

Geralmente, quando me fazem muitas perguntas sobre o Goucha e a Cristina corto logo a amizade. Aliás, tenho pessoas de quem me aproximei muito porque nunca me fizeram perguntas sobre isso. Na minha terra, então, ganhei muitos ‘primos’. Eu sou simpático, mas não dou muita confiança. Hoje em dia é difícil entrar no meu circuito. Dificilmente alguém entra na minha casa, dorme na minha casa ou alguém dorme comigo, não no sentido de amor, mas de amizade.

O que gostava de fazer em termos televisivos?

Gostaria de ter feito um programa, agora já não é possível, que era o ‘Somos Portugal’. Dentro da SIC, sinceramente, não há nada que me chame a atenção.

Tenho de aprender muito com o Goucha, porque ele prepara-se muito

Do que precisa para se tornar um apresentador ‘a sério’?

Preciso de concentrar-me, de estudar mais, pois faço tudo intuitivamente e pode resultar como não pode. Tenho de aprender muito com o Goucha, porque ele prepara-se muito. Preciso de ler mais e de ganhar vida. O daytime é muito difícil, todos os dias estás ali três horas.

A Cristina é a pessoa mais criativa que conheci até hoje

E nisso a Cristina Ferreira é muito boa?

Sim, ela é muito boa a dar ideias. Constrói-me a reportagem num instante. Ela é muito criativa, a pessoa mais criativa que conheci até hoje. Se fizesse publicidade seria a ‘rainha da publicidade’. Ninguém acreditava que ela ia ganhar, mas eu sempre disse o contrário. Ela tem tudo muito bem pensado, com uma estratégia de redes sociais. Não se faz assim por fazer. A Teresa Guilherme diz uma frase: ‘Até o melhor improviso é aquele pensado’. Eu não concordo, porque quando vou fazer um direto digo tudo ao contrário do que tinha pensado.

Em televisão faz-se pouco amigos

E em televisão no geral, como é que são as coisas?

É tudo muito narcisista. Tudo muito eu, eu, eu. Em televisão faz-se pouco amigos. Já trabalhei com dezenas de pessoas e tenho muito poucos amigos. Aprende-se a não dizer certas coisas. Em televisão é preciso trabalhar. Não há fins de semana, horários. Não te cansa fisicamente, mas sim psicologicamente.

Se pudesse pedir uma regalia no contrato o que seria?

Fazer viagens ao estrangeiro.

Como é que se imagina no futuro?

Gostava muito de voltar para o campo, porque aqui acho que não há qualidade de vida. Gostava muito de voltar para o Algarve e criar um turismo rural. As pessoas normalmente não acreditam nisto, porque acham que sou muito citadino.