Quando pergunto a um viajante, que vai fazer turismo em zona de risco alimentar, se sabe o que fazer para evitar a diarreia, as primeiras respostas são «não beber água da torneira» e «lavar os dentes com água engarrafada».
Podem estar certas, mas estão incompletas. Nem todos conhecem os múltiplos fatores biológicos e sanitários associados à contaminação da água e dos alimentos.
Regra geral, quanto mais nos aproximamos do Equador, maiores são os riscos alimentares. O calor e a humidade favorecem o crescimento de bactérias, vírus e parasitas. A existência destes microrganismos em maiores quantidades facilita a contaminação do corpo (mãos) e da água e alimentos.
Quando existem medidas de higiene alimentar e de saneamento básico eficazes, o risco de doença diarreica do viajante é muito baixo. No entanto, os países das regiões quentes e húmidas são, na maioria, pobres, o que compromete a eficácia destes serviços. Nos cruzeiros, o risco alimentar pode ser maior devido a deficiências de armazenamento, a falhas na confeção ou ainda na conservação dos alimentos preparados.
Da minha experiência, as intoxicações alimentares e diarreias em viagens de cruzeiros têm vindo a diminuir significativamente nos últimos anos. Existem duas razões: os operadores têm vindo a tomar medidas de controlo de qualidade alimentar eficazes e os viajantes estão mais alerta.
Higiene
O incorreto ou inexistente tratamento da água ou esgotos com funcionamento deficiente são problemas comuns que justificam o conceito de «não beber água da torneira». Se o viajante não bebe água canalizada (porque está contaminada com agentes infeciosos), não pode igualmente ingerir nenhum alimento cru que tenha contatado com essa água, diretamente ou por manipulação.
Se a água for fervida (cinco minutos) todos os microrganismos são destruídos. Mas quando os viajantes não podem saber o que se passa na cozinha devem ser cautelosos e considerar todos os alimentos crus ou mal cozinhados como possivelmente contaminados (incluindo o gelo).
Conservação
Os alimentos também se degradam, sobretudo as
proteínas (carne, peixe, marisco), sendo essa degradação associada ao
crescimento bacteriano, potenciado pelo calor e humidade. A preservação
no frio é a forma mais eficaz de evitar a contaminação bacteriana.
Se o
armazenamento e a conservação não forem eficazes, o viajante vai ingerir
alimentos com grande quantidade de bactérias que irão comprometer
estruturas do seu tubo digestivo e provocar náuseas, vómitos, diarreia, a
clássica diarreia do viajante.
Como prevenir?
O risco de ficar doente durante a sua viagem aumenta na hora das refeições:
- Olhe para os alimentos e veja quais lhe podem fazer mal
- Beba só água ou bebidas engarrafadas, em garrafa aberta à sua frente
- Não consuma gelo
- Não coma saladas ou alimentos crus
- Coma fruta apenas descascada por si
- Evite molhos, temperos ou pratos que disfarcem os alimentos
- Coma carne, peixe, marisco confecionados de forma simples, para poder
perceber, pelo cheiro ou pelo sabor, se estão em boas condições; a carne
de aves tem de ser muito bem cozida - Não coma ovos sem estarem bem cozinhados
Como tratar a diarreia do viajante?
A maioria das diarreias do viajante é autolimitada e resolvida com hidratação e dieta.
Pode
ser necessária medicação com antieméticos (no caso de vómitos),
antidiarreicos (diarreia muito frequente, com muitas dejeções por dia) e
antibióticos (diarreia com febre, diarreia com sangue).
A escolha dos fármacos a tomar
deve, no entanto, ser sempre feita por um médico. A automedicação não é recomendada.
Três regras a não esquecer:
1. Se achar que um alimento não está em boas condições, não coma.
2. Não chegue à refeição com muito apetite, porque nesse caso perde a capacidade de recusar um alimento em más condições.
3. Tenha uma reserva alimentar no quarto, para poder alimentar-se no caso de não fazer a refeição.
Texto: Jorge Atouguia (infeciologista)
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