Porto, Rua Miguel Bombarda. Tarde fria de janeiro. Ao contrário dos meses de verão, contam-se pelos dedos as pessoas que descem a rua e que entram nas galerias de arte. Pedro Vaz, estudante, acompanha uma amiga estrangeira numa primeira visita a este «bairro especial e vanguardista, povoado de jovens modernos, fanáticos das calças slim, do iPhone e que sonham ser artistas», como descreveu o diário espanhol El Pais numa incursão recente pela cidade invicta. É frequentador assíduo da artéria, uma das ruas europeias com mais galerias de arte. São 16!
«Venho habitualmente às inaugurações e gosto de ver o que se passa no mundo da arte», assume. O estudante, que segura na mão um iPhone com uma capa que reproduz o quadro «O Beijo» de Gustav Klimt, inclui-se numa das categorias de pessoas que têm por hábito visitar museus, exposições e frequentar inaugurações. Gosta de arte e quer estar a par das novidades. Outro tipo de visitantes são os artistas ou estudantes de arte que procuram inspiração, turistas que estão a decorar a casa e colecionadores que querem investir.
O primeiro estabelecimento da Rua Miguel Bombarda, chegando a esta via a partir da Cedofeita, é a Trindade. É uma pequena galeria que trabalha com jovens artistas e que apresenta obras com preços acessíveis e com facilidades de pagamento. Paula Sá, a proprietária, admite que para algum público o circuito dos museus e galerias possa parecer elitista e intimidatório. «As pessoas têm receio de entrar porque pensam que são obrigadas a comprar ou acham que as obras são muito caras, o que nem sempre é o caso», assegura.
Obras de arte para todas as bolsas
As galerias situadas na zona pedonal junto ao Palácio de Cristal (São Mamede, Quadrado Azul e Presença, por exemplo) têm um acervo de autores reconhecidos e praticam preços mais altos mas as pequenas galerias e os espaços que apostam em coletivas têm obras que podem ir dos 100 aos 600 euros. Uma girafa de cores garridas e de generosas dimensões chama a atenção do público que passa em frente à Trindade. Os vizinhos reparam e ficam à porta a comentar os trabalhos da exposição «Queres namorar comigo?», concebida a partir das ilustrações para o livro de João Ricardo e patente até meados de março de 2015.
A artista é Ana Sofia Gonçalves, professora de artes visuais desde 2004, pintora, ilustradora e autora dos cenários de vários programas e espetáculos idealizados por Fernando Alvim, como «É a vida Alvim» do Canal Q. Representada há 10 anos pela Galeria Trema de Lisboa, Ana Sofia Gonçalves considera que na capital «as pessoas vão à galeria porque já têm esse propósito». «No Porto é diferente. A galeria tem uma montra e quando as pessoas passam, veem a girafa e entram», refere.
No verão e em dia de inaugurações, a Rua Miguel Bombarda enche-se de visitantes. «São milhares de pessoas que passam por aqui e nas inaugurações uma galeria pequena que costuma ter 15 visitantes diários recebe centenas. As casas mais emblemáticas na zona pedonal podem chegar a 1500 visitantes num dia», conta a proprietária da Trindade. Durante o ano, o sábado é o dia mais movimentado. Segunda e terça-feira os mais sossegados, o que leva a que cada vez mais galerias apenas abram as portas entre quinta e sábado.
Com a chegada das companhias aéreas de baixo custo, o Porto tornou-se mais cosmopolita e acolhe cada vez mais pessoas de todos os cantos do mundo. Nas redondezas da Rua Miguel Bombarda, multiplicam-se hoje lojas de design contemporâneo, de roupa vintage ou com propostas dos melhores estilistas nacionais e espaços gourmet. Desde 2013, há mais alemães, franceses e norte-americanos a ver e a comprar arte na cidade nortenha, embora Lisboa continue a ser mais apelativa para os investidores de arte estrangeiros.
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O que move o mercado da arte em Lisboa
Na capital, chineses, angolanos e brasileiros já são os principais consumidores de moda, acessórios high-end e do turismo de luxo. O interesse destes visitantes internacionais expande-se, desde há alguns anos, ao setor das artes plásticas. Na era da austeridade, as galerias apostam na internacionalização. Marcam presença em feiras, fazem parcerias com entidades congéneres e até clientes estrangeiros, uma ação que se tornou comum, até para contornar os efeitos da crise.
A Galeria 111, uma das mais antigas de Portugal, fechou o espaço que tinha no Porto há mais de 40 anos, mas espera agora concretizar o sonho de abrir uma galeria no estrangeiro, eventualmente em Londres. «O mercado está cada vez mais global e hoje os nossos bons clientes do Porto deslocam-se com frequência a Lisboa. Foi uma decisão que nos custou tomar porque temos uma grande ligação ao edifício da galeria mas, para a programação que apresentamos e para o esforço que fizemos, o retorno não justificava», explica o proprietário, Rui Brito.
O que a crise (não) mudou no mercado
Em 2014, ano em que a 111 assinalou o seu 50º aniversário, houve sinais de retoma, mas ainda ténues, apesar do encerramento do espaço portuense. A crise teve algumas consequências positivas como o fim dos preços especulativos e a valorização de artistas consagrados com grande movimentação no mercado secundário. «O mercado de arte português continua com boas oportunidades de negócio», assegura.
«Algumas pessoas precisam de liquidez e colocam as suas obras no mercado e estas, por sua vez, são adquiridas por investidores e colecionadores atentos aos artistas e obras certos a preços mais baixos e de oportunidade. Apesar da crise, muitas vezes, estes colecionadores preferem investir um valor mais alto num artista com uma carreira sólida do que em artistas mais jovens e com valores mais acessíveis», refere ainda Rui Brito.
Situada no Campo Grande, a galeria recebe um público muito abrangente. «Os portugueses estão cada vez mais interessados em arte, visitam exposições, estão cada vez mais informados, mas nem sempre os que mais acompanham são os que têm maior poder aquisitivo», adianta o galerista. Da lista de clientes portugueses destacam-se, essencialmente, médicos, advogados e empresários.
Galerias de arte online:
Com ateliê no Porto, aqui a base do negócio é a Internet. Na galeria online é possível escolher e comprar todas as obras e os interessados podem, inclusive, encomendar peças por medida dos artistas de que mais gostam.
- Centro Português de Serigrafia
Aqui pode encontrar gravuras, litografias, fotografias e arte digital a preços acessíveis, especialmente para quem é sócio.
Nas suas 25 galerias espalhadas pelo mundo estão representados 500 artistas, selecionados a partir de uma base com mais de 10 mil candidaturas. O valor das pinturas estão predefinidos e só variam em função do formato.
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Galerias a visitar em Braga:
- Galerias Emergentes DST, na Rua do Raio, 175
- Mário Sequeira, na Quinta da Igreja, na Parada de Tibães
Galerias a visitar no Porto:
- Pedro Oliveira, na Calçada de Monchique, 3
- Trindade, na Rua Miguel Bombarda, 141
- Ap’Arte, na Rua Miguel Bombarda, 221
- Presença, na Rua Miguel Bombarda, 570
- Quadrado Azul, na Rua Miguel Bombarda, 578
Galerias a visitar em Lisboa :
- São Mamede, na Rua da Escola Politécnica, 167
- 111, no Campo Grande, 113
- Vera Cortês Art Agency, na Avenida 24 de Julho, 54 – 1º E
- Cristina Guerra, na Rua de Santo António à Estrela, 33
- Trema, na Rua do Jasmim, no Príncipe Real, 30
Texto: Rita Vaz da Silva
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