Imagem da monumentalidade do Estado
Novo, a Praça do Império, em Belém, foi projetada
pelo arquiteto Cottinelli Telmo para a Exposição
do Mundo Português de 1940. A sua
localização, fronteira ao Mosteiro dos
Jerónimos, tornou-a no palco privilegiado
da exposição. O topónimo, atribuído por
edital da Câmara Municipal de Lisboa em
24 de abril de 1948, foi escolhido numa
perspectiva de valorização de expansão
quinhentista, característica da
toponímia do Estado Novo.

A Exposição do Mundo Português,
evento comemorativo dos 800 anos da
Independência de Portugal e dos 300
anos da Restauração da Independência,
ocorreu de 23 de junho a 2 de dezembro
de 1940, na periferia da cidade de Lisboa,
em Belém, à beira do Rio Tejo, na
chamada barra do Restelo, apoiada pela maravilhosa torre
de Belém e tendo como grandioso pano de fundo o Mosteiro
dos Jerónimos.

Estendeu-se por uma superfície de 560.000 m2,
em dezenas de edifícios, numa apoteose vibrante de volume e
cor, proporcionando aos visitantes uma viagem e um resumo
brilhante da vida portuguesa. Apenas alguns vestígios da
Exposição chegaram até nós, como a Praça do Império,
o Padrão de Descobrimentos e o Jardim da Torre de Belém.

Veja a GALERIA DE IMAGENS DA PRAÇA DO IMPÉRIO

Até 1940 só se tinham realizado certames internacionais e nacionais
de caráter industrial, comercial ou colonial. A Exposição
do Mundo Português foi a primeira exposição de história, com a
expressão dum grande documentário de civilização, comemorativa
da expansão de oito séculos portugueses.

No século XVII, o local onde atualmente se situa o Jardim
da Praça do Império era uma zona de praia, a praia do Restelo, como lhe chamavam.
Projetada por Cottineli Telmo para a Exposição de 1940, a praça
em frente ao Mosteiro dos Jerónimos foi então reordenada e dotada
de um jardim quadrangular, projeto do arquiteto Vasco Lacerda
Marques. Os trabalhos de jardinagem ficaram a cargo de Gomes
Amorim. A praça foi ainda ornamentada com alguns grupos
escultóricos e empedrada com calçada portuguesa.

Veja na página seguinte: A estrutura do jardim

José Ângelo Cottinelli Telmo (1897-1948) estudou Arquitetura
na Escola de Belas Artes de Lisboa e realizou diversos filmes como «A Canção de Lisboa».

No entanto, foram as suas obras
arquitectónicas que o tornaram conhecido. No início da carreira,
em 1922, concebeu o Pavilhão de Honra da Exposição do Rio de
janeiro e o Pavilhão Português da Exposição de Sevilha em 1929.

A fábrica da Standard Eléctrica na Junqueira em Lisboa e a cidade
universitária de Coimbra foram obra sua.

Concebeu grande
parte dos projetos arquitetónicos de edificações ferroviárias do
seu tempo. Foi o
arquiteto-chefe da Exposição do Mundo Português,
em 1940. Traçou o plano da Praça do Império e da sua Fonte
Monumental e ainda o Monumento aos Descobrimentos, assim
como a Porta da Fundação.

A estrutura do jardim

O Jardim da Praça do Império inscreve-se num quadrado fronteiro
ao Mosteiro dos Jerónimos com 175 m de lado e uma área total
de cerca de 3 ha, sendo 1,5 ha de zona verde. Destaca-se pela coerência
e harmonia dos arranjos e do traçado arquitectónico, com
grandes espaços abertos cobertos de relva e envoltos por pequenas
sebes, estátuas, bancos em pedra e uma magnífica fonte luminosa
(Fonte Monumental de Belém) ao centro.

Ponto de passagem obrigatório, o Jardim da Praça do Império
encontra-se na confluência de grandes monumentos desta zona, nomeadamente
o Centro Cultural de Belém (à data da Exposição o terreno estava
devoluto), o Mosteiro dos Jerónimos, o Planetário Calouste Gulbenkian,
o Museu da Marinha e o Museu Nacional de Arqueologia.
A estatuária e Fonte Monumental de Cottinelli condizem
com a traça do Padrão de Descobrimentos, da mesma época.

A Fonte Monumental, ponto mais atrativo do jardim, está
decorada com um friso exterior de brasões das colónias Portuguesas.
A sua estrutura compreende essencialmente uma bacia
superior onde se dispõe o equipamento hidráulico distribuidor
para a realização dos efeitos ou dos jogos de água, uma câmara
de manobra, no espaço interno, onde estão instalados os equipamentos
eletromecânicos, eléctricos, luminosos, de comando e acessórios, em um tanque ou lago que envolve o corpo central.

Os efeitos hidráulicos, que associados dão variados jogos de água
constituindo um programa de 63 composições diferentes em
aproximadamente 45 minutos. Este conjunto proporciona um
belo espetáculo de luz e cor.
Além do elemento de água central marcado pela Fonte, existem
4 lagos periféricos encimados por dois imponentes grupos
escultóricos representando figuras míticas de dois cavalos com
cauda de animais marinhos, pelo escultor António Duarte.

Veja na página seguinte: A vegetação usada para embelezar o local

Para a arborização e jardinagem da monumental praça,
foram plantadas 300 árvores e arbustos, 75 000 sardinheiras,
800 mil metros quadrados de relva, 50.000 plantas de estação e
44 ciprestes, sublinhando assim o espírito de grandiosidade que
presidiu à organização da Exposição do Mundo Português.
Os alinhamentos de ciprestes, cedros-do-buçaco e as oliveiras,
dão-lhe um carácter evocativo da paisagem portuguesa.
Como curiosidade, ainda resiste num dos canteiros do lado
do Mosteiro dos Jerónimos, uma âncora que serviu como peça de
um relógio de sol, que dava as horas na metrópole e nos territórios
ultramarinos.

Nos pavimentos de calçada portuguesa, destacam-se os motivos
decorativos com os signos do Zodíaco em três das principais
entradas do jardim. O Jardim da Praça do Império sofreu diversas alterações e
benefícios ao longo dos anos, como é o caso da recuperação da
Fonte Monumental em 2004, aquando do Campeonato Europeu
de Futebol, mantendo no entanto todo o mecanismo original.

Posteriormente à Exposição de 1940, foram desenhados
em mosaico-cultura, 30 brasões das cidades e províncias de
Portugal Continental, Insular e Ultramarino e brasões da Cruz
de Cristo e da Cruz de Avis, nos canteiros envolventes à fonte
luminosa. Dependendo apenas da imaginação e habilidade de
alguns dos jardineiros da época, as diferentes cores eram obtidas
pelo talhe conjunto de várias plantas como o buxo (Buxus semprevirens)
e a santolina (Santolina chamaecyparis).

Obra de elevado valor patrimonial

O valor histórico deste jardim é elevado por surgir no âmbito da
Exposição do Mundo Português em 1940. A toponímia evocativa
da grandiosidade dos feitos portugueses confere a este jardim um
valor único. O projeto inovador de Cottinelli Telmo para a praça,
como elemento intensificador da componente monumental da
exposição, juntamente com a criação de uma Fonte Monumental
que proporciona um espetáculo de luz e cor inovador para a altura,
aumentam ainda mais o valor histórico deste jardim.

O valor sociocultural da Praça do Império é alto, pois ao
encontrar-se associada à Exposição do Mundo Português e ao
período do Estado Novo, permitiu criar uma memória distinta
nos portugueses. É um espaço muito procurado, especialmente
pelos turistas, que visitam as atrações de Belém, e encontram
nesta Praça um local muito agradável para repousar e gozar da
frescura de um jardim urbano, potenciada pela sua vegetação
mediterrânica.

As características referidas tornam evidente o
elevado interesse turístico da Praça do Império.
De salientar o ambiente único que se vive na Praça
do Império, intensificado pela presença do Mosteiro
dos Jerónimos e do Centro Cultural de Belém.
Para além da estatuária de valor artístico, da Fonte
Monumental de elevado interesse arquitectónico,
este jardim é único na existência de um conjunto
de brasões em mosaico-cultura.

A Metodologia de Caracterização e Classificação
dos Jardins Públicos de Interesse Patrimonial,
desenvolvida pelas autoras1, foi aplicada a 31 dos jardins
públicos da cidade Lisboa, permitindo avaliar a
qualidade e interesse dos mesmos. O valor histórico,
paisagístico e sociocultural da Praça do Império
dão-lhe uma classificação de 46 valores (sendo o
valor máximo 50), ficando em 4º lugar no ranking
dos 10 melhores jardins públicos da cidade.

Texto e fotos: Elsa Isidro e Ana Luísa Soares (arquitetas paisagistas)