Um dos campos em que a arquitetura paisagista tem vindo a trabalhar de forma mais evidente, pela capacidade que possui em responder às condicionantes que se colocam, é a intervenção em áreas de elevada sensibilidade ambiental. Com uma elevada procura por parte da população urbana, cada vez mais ávida de cenários naturais e tranquilos, essas áreas, pela sua reduzida capacidade de carga, enfrentam um desafio importante.

Não se encontram, na maioria das vezes, preparadas para receber de forma adequada grandes fluxos de pessoas que, em última análise, sobretudo nos meses de maior calor, acabam por comprometer a sua integridade e os valores que as tornam tão atrativas. Praias, áreas ribeirinhas, florestas, são diversos os exemplos de áreas que, quando sujeitas a uma utilização intensiva, sofreram danos irreparáveis.

Da mesma forma, intervenções desajustadas podem revelar-se igualmente lesivas, já que o recurso a materiais e a técnicas construtivas de natureza urbana podem comprometer tanto o contexto cénico e visual, como também podem induzir elevados custos de manutenção. Uma situação que, no contexto atual, obriga a uma estratégia de intervenção que não pode ser implementada de qualquer maneira.

A arquitetura paisagista, enquanto disciplina com um campo de conhecimentos focados na compatibilização da presença do homem na paisagem, numa relação equilibrada para todos os seus intervenientes, tem vindo a apresentar soluções que são capazes de responder tanto às exigências das pessoas, como com a necessidade de preservação dos valores intrínsecos que são responsáveis por essa procura das pessoas.

Vestígios de atividades humanas remotas

Um bom exemplo de uma intervenção numa área de elevada sensibilidade ambiental, para muitos, foi a requalificação do Sítio das Fontes, na freguesia de Estombar, no concelho de Lagoa, no Algarve, nos primeiros anos da década de 2010. Localizado ao longo das margens de um esteiro do Rio Arade, aí se encontram um conjunto de nascentes do maior aquífero da região algarvia, o Aquífero Silves–Querença.

O parque municipal, ainda desconhecido de muitos, tem 18 hectares, apresentando uma notável diversidade de paisagens (agrícolas, sapais, matos, entre outros) e, pela configuração da topografia, oferece uma vista notável sobre o rio Arade e suas margens. Do ponto de vista histórico e cultural, este lugar é igualmente importante, encontrando-se vestígios de atividades humanas remotas.

O meio de transporte mais utilizado é, paradoxalmente, o automóvel, obrigando a uma deslocação de, no mínimo, de cinco minutos para aí podermos chegar. A sua construção arrancou em 1989, promovendo-se então a requalificação do moinho de maré, da casa do moleiro e do sistema de rega, com um notável sistema de levadas, como os que encontramos ao longo do barrocal algarvio.

Foi também construído o atual parque de merendas, que tirou partido de uma colina com uma vista notável para o rio, o circuito de manutenção e um pequeno cais de embarque, muito utilizado por caiaques. Mais recentemente, nos primeiros anos da década de 2010, foi construído um centro de interpretação da natureza, aproveitando-se um antigo assento de lavoura abandonado.

Um ponto de fuga ao reboliço da cidade
Um ponto de fuga ao reboliço da cidade

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A riqueza ecológica que importa preservar

Além da elevada adesão a que este parque é sujeito, o mais relevante desta intervenção é a sua capacidade de integração com o lugar. Tendo tido a capacidade de aumentar a capacidade de carga local, o recurso a técnicas e materiais locais (a pedra calcária, a terra batida, o muro de pedra, a madeira, entre outros) confere-lhe uma elevada integração visual, numa reinterpretação formal coerente e bem conseguida.

A ambição do projeto tem sido elogiada. Com intervenções mais recentes, temáticas mais contemporâneas foram introduzidas, tal como a questão do consumo energético ou a sinalética com valor pedagógico. Foram implantados painéis fotovoltaicos para abastecimento do centro de interpretação ambiental e a iluminação pública presente no parque de estacionamento foi substituída por luminárias com painéis fotovoltaicos integrados.

As espécies representativas dos biótopos presentes são apresentadas em sinaléticas práticas que ajudam os visitantes a ler a complexidade e riqueza ecológica que este lugar oferece. O percurso de manutenção foi, no seguimento da intervenção, complementado com nova sinalética e instruções para os exercícios a praticar, tornando-o ainda mais acessível à população local e aos visitantes de fora.

Como conclusão, podemos afirmar que mais que uma obra terminada, o parque municipal Sítio das Fontes é um lugar com uma capacidade de fruição excecional (tal como a população urbana, sempre ávida de novidade, procura nestes locais) e onde os seus responsáveis têm tido a capacidade de o ajustar às mudanças dos tempos, o que acaba por se refletir na elevada aceitação e utilização por parte das pessoas.

Texto: João da Costa Rodrigues (arquiteto paisagista) e Luis Batista Gonçalves (edição digital) com Câmara Municipal de Lagoa (fotografias)