Estamos numa das rodovias mais cénicas do planeta, que vai desde Vietri sul Mare a Positano, a sul de Nápoles e do imponente Vesúvio. O nome que lhe pôs, Costa Amalfitana, remete-nos para um passado pré-Garibaldi no qual a península Itálica era uma manta de retalhos de reinos, repúblicas e cidades-estado, cada qual senhora do seu nariz e tão forte nas artes da guerra como nas do comércio e da estética. Nesta costa quem mandava era a cidade de Amalfi, capital da República-Ducado do mesmo nome, que durou pouco mais de um século, entre o 10º e o 11º da nossa Era.

Amalfi desde cedo despertou a cobiça de rivais vizinhos ou mais distantes, de Lombardos a Napolitanos, de Bizantinos aos Toscanos de Pisa. O interesse destes povos era mais pela posição estratégica de Amalfi, tanto militar como comercial, do que pela assombrosa beleza da sua costa. Nesses tempos idos a estética não imperava em Itália como acontece hoje. Foi apenas no século XIX que se revelou a vocação turística desta zona, o que lhe veio devolver a prosperidade perdida para outras cidades de maior dimensão que foram crescendo aquilo que as montanhas e o mar não permitiam que Amalfi crescesse.

As povoações que se agarram à rocha e descem até ao mar ao longo da estrada estreita e sinuosa, rivalizam em beleza e charme. Cada qual oferece um encanto particular: Atrani, conhecida por ser a mais pequena cidade do Sul de Itália, com pouco mais de 900 habitantes; Positano, onde ficam alguns dos mais luxuosos hotéis do mundo, como o Casa Angelina, o La Sireneuse ou o Covo dei Saraceni; Amalfi com as suas ruas medievais e magnífico Duomo; Furore com o “fiorde” que desemboca no mar numa pequena enseada que no Verão se enche de banhistas; Ravello, situada mais acima na montanha e oferecendo a melhor vista de toda a Costa Amalfitana. A lista de povoações continua pela Costa fora, e inclui Cetara, Maiori, Tramonti, Minori, Praiano e outras tantas. Todas elas merecem uma paragem para ver igrejas seculares, praias de areia negra, pequenos restaurantes sobre o mar, plantações de limões que produzem o melhor limoncello de Itália, e tantas outros motivos de interesse.

Sendo um dos destinos turísticos mais cosmopolitas do mundo, a Costa Amalfitana não perdeu nada do seu quadro bucólico e pouco humanizado. O desenvolvimento imobiliário continua refém das restrições que os elementos naturais (graças sejam dadas a Deus por isso) forçam ao homem, que ainda assim encontrou formas inteligentes e de grande criatividade ao nível da engenharia para aqui viver.

A sofisticação que é o tom comum a esta zona está patente nos deslumbrantes hotéis e restaurantes, nas lojas de marcas de luxo que nos surpreendem em cada canto das pequenas povoações que se sucedem ao longo da Costa, e nos próprios turistas que percorrem a estrada em carros descapotáveis e de alta cilindrada. Tudo o que nos rodeia é bonito. Dir-se-ia, estamos num cenário vivo do “Dolce Vita” de Fellini, até porque se respira um ambiente de anos 60 em toda a Costa Amalfitana, como se a modernidade dos dias de hoje ainda não tivesse vencido as montanhas e aqui se implantado como no resto do país. É provável que a Costa se mantenha assim no futuro, com esse elevado grau de pureza que é difícil encontrar em destinos turísticos. Mas, pelo sim, pelo não, quanto mais cedo a for visitar maior será a certeza de a encontrar como ela está hoje, natural e encantadora.

 
Miguel Júdice