Há algo em nós, Portugueses, entre outras coisas que não são agora para aqui chamadas, que me irrita profundamente: o excesso de importância que atribuímos às origens lusas, por mais remotas que estas sejam, de alguém que vingou no mundo (Freud explicaria, por certo, mas acho que se resume a um certo complexo de inferioridade e necessidade de aprovação externa que não há meio de nos abandonar).
Vou, todavia, abrir uma exceção com André Saraiva (mais conhecido porventura como Monsieur A. ou Mr. A.), radicado em Paris e famoso graças aos seus graffitis. Isto porque no caso dele é gritante o descaso que a imprensa internacional faz da sua biografia, quase sempre ignorando que apesar de viver na capital francesa e de ter nascido na Suécia, ele é de origem lusa. Um facto tão ou mais difícil de descartar se levarmos ainda em conta que o seu nome não poderia ser mais português e que se prepara para abrir um hotel particular (Casa André, para receber os seus amigos, segundo ele) em Lisboa.
Mas adiante. O seu trabalho de street art, mais do que apenas fama, está a permitir-lhe desenvolver negócios paralelos como o Hôtel Grand Amour. Convencido pelo sucesso do Hôtel Amour, aberto anos atrás pela dupla Emmanuel Delavenne and Thierry Costes (agora seus sócios) e que colocou a canalha Pigalle na berra, ele abriu no mesmo bairro (o 10º) este novo hotel de 44 quartos, instalado num belo edifício anterior à era Haussmann, na rue de la Fidélité. Cada quarto é diferente, decorado com mobiliário vintage que foi trazendo de mercados e feiras de cidades como Paris, Nova Iorque ou Tóquio, traz amenities da Hermès e tem como inspiração peças de arte assinadas por colegas seus como Helmut Newton, Alexandre de Betak, Guy Bourdin, Olivier Zahn, Carlotta Khol or Glenn O’Brien.
O toque arty é muito forte, assim como uma certa provocação — os corredores, por exemplo, foram atapetados com a alcatifa de motivos fálicos que ele desenhou, juntamente com Pierre Frey, e que já podia ser vista no seu clube noturno, igualmente em Paris, o Castel. E nada de televisores, algo que Saraiva detesta, mas em compensação os hóspedes que chegarem mais cedo e ainda não tiverem o seu quarto pronto poderão usufruir, sem custos extras, de sauna, chuveiros e armários.
Nos andares de baixo, abertos ao público, o Grand Amour dispõe ainda de um restaurante (a decoração é uma homenagem ao icónico La Coupole), que serve durante todo o dia um menu típico de bistrô e carta de bons drinques a partir das seis da tarde, um lounge com lareira e, à semelhança do Amour, um salão jardim-de-inverno mais um pátio a céu aberto. Por sua vez, os preços por noite seguem a mesma linha descontraída e são bastante acessíveis para os padrões da Cidade-Luz — o que vem a calhar.
Por João Miguel Simões, texto e foto (follow me on Instagram @jmigsimoes)
Hôtel Grand Amour | França, 18, rue de la Fidélité, Paris 10ème. A partir de €130/noite.
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