A P28, em parceria com o Museu de Olaria de Barcelos, apresenta a mostra Resgate que coloca dois artistas frente a frente, num diálogo onde a escultura e o barro são a linguagem primordial. De um lado, o Mestre José Maria, artesão/artista nascido na aldeia de Ribolhos, Castro Daire, em 1906, que quando confrontado com a ameaça da industrialização não abandonou o barro e a sua arte, mas reinterpretou-a. O artista que começou por criar objetos domésticos utilitários deu assim um novo rumo à sua arte passando a moldar figuras, inspiradas na vida rural e no quotidiano da Serra de Montemuro. As peças presentes na mostra surgem a partir do espólio da colecionadora particular Alexandra Ribeiro Simões.

Por outro lado, a exposição conta com Anabela Soares, artista do ateliê da P28 e membro do coletivo Manicómio, que usa o barro como meio de inscrição de traumas passados de onde nascem as suas impactantes criações que intitula de "monstros". A sua arte, que é um exercício catártico que atravessa medos e ansiedades, já desde 2015 que integra regularmente exposições coletivas e individuais.

O meio caminho onde se encontram é esta exposição que agora abre portas e que junta a ousadia de José Maria de Ribolhos e a arte disruptiva de Anabela Soares. Mas porquê um resgate? "É um resgate em diversas dimensões, mas sobretudo o resgate a um tempo" explica Luís Alegre, curador da exposição. "Seja o tempo social da olaria tradicional que o Zé Maria preservou na sua reinvenção artística, ou o tempo subjetivo da Anabela que encontrou na cerâmica uma forma de inscrever a sua experiência pessoal e reconstruir o seu interior".

Várias perguntas se colocam na mostra que é um diálogo constante entre dois artistas que, separados por tempo e contexto, partilham uma relação essencial com a matéria — o barro. Mostrar que a arte rotulada como popular pode também ter valor de expressão artística cultural e pessoal, é um dos objetivos. "Esta mostra leva-nos a pensar, refletir e questionar sobre estas peças em barro que são muito mais do que meros objetos de valor comercial", explica Luís Alegre