Segundo as conclusões da 4.ª edição do Marcas+Consumidores da Centromarca – Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca, num contexto em que o universo do grande consumo (FMGC - Fast Moving Consuming Goods) continua “a perder dinamismo”, o futuro do setor deve passar pela diversificação da oferta (com um maior envolvimento da grande distribuição em campanhas, descontos e marca própria) e pelos novos formatos (como o ‘online’ e as lojas de proximidade nos grandes centros urbanos).
De acordo com o trabalho, o recuo das compras em cada ida ao hipermercado tem sido sobretudo notório, em volume, nas categorias de alimentação (-6%), alimentação animal (-5,3%), higiene pessoal e beleza (-3,1%) e limpeza caseira (-2,5%), registando as bebidas uma evolução nula.
Dentro da alimentação, os frescos mantêm-se como “o maior investimento dos lares dos portugueses", seguidos pelos produtos lácteos, mercearia doce e mercearia salgada. Só o setor das refeições prontas registou um crescimento (+3,4%) em 2017 face ao ano anterior. “Num contexto de um país com sinais crescentes de envelhecimento, com menos pessoas por lar e mais lares sem crianças, o número de ocasiões de compra por lar e de ocasiões por dia de compra diminuiu ligeiramente face a 2016. Que, por sua vez, já vinha de um decréscimo face a 2015”, disse à agência Lusa o diretor-geral da Centromarca, Pedro Pimentel.
Segundo nota, “há uma diferença grande entre o comportamento geral do mercado e o comportamento de cada português na sua casa, isto é, se o mercado está com números bastante positivos, o consumo das famílias portuguesas não tem sido tanto assim”.
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A compensar “de alguma forma” esta tendência - refere Pedro Pimentel - tem estado o incremento do consumo fora de casa, nomeadamente na restauração, quer por via do turismo, quer das próprias famílias.
“Estamos a assistir a um impacto fortíssimo do turismo em termos do consumo, afetando positivamente as vendas. Por outro lado, mesmo em termos das famílias há neste momento alguma transferência do consumo de dentro para fora de casa e, se no período mais forte da crise económica as pessoas se restringiram muito ao consumo dentro de casa, evitando idas aos restaurantes, hoje esse consumo está a regressar”, disse.
Das conclusões da 4.ª edição do Marcas+Consumidores resulta ainda que as marcas de distribuidor (marcas brancas) têm vindo a recuperar terreno face às marcas de fabricante, embora ambas tenham perdido face a 2016: “No primeiro trimestre de 2017 as vendas em volume das marcas de distribuidor voltam a rondar metade do mercado (49%), embora tal parcela corresponda a uma percentagem substancialmente inferior se analisadas as vendas em valor, refletindo um valor unitário bastante menor”, lê-se no trabalho.
Para Pedro Pimentel, é “preocupante registar a evolução” das marcas de distribuidor, “que coloca as marcas de fabricante em dificuldade”, mas Blandine Meyer, da Kantar Worldpanel (empresa responsável pela elaboração do estudo), destaca que “as marcas de fabricante estão em dificuldade também porque a compra está a perder intensidade e porque a pressão promocional não cessa de aumentar, mas as promoções já não produzem o efeito desejado”.
Numa análise mais direcionada para o mercado de beleza (‘beauty’), onde as compras recuaram 3,1% no primeiro trimestre, o trabalho aponta uma “notória redução global do número anual de lançamento de novos produtos” e indica os cremes de rosto e os produtos de maquilhagem como “o foco maior de atenção” dos consumidores. “É notório o esforço de vários retalhistas no alargamento de portfólio e na intensificação de campanhas de comunicação das suas próprias marcas no segmento de ‘beauty’”, refere o diretor-geral da Centromarca.
Comentando esta edição do Marcas+Consumidores, o professor da NovaSBE e responsável da Skipper Management, Jorge Velosa, considera que “este início de ano apresenta alguns sinais contraditórios”. “A alguma euforia que se observa no consumo não tem correspondência no comportamento das compras FMCG dos lares portugueses, fazendo perceber o forte impacto que o turismo está a ter no retalho. Por outro lado, a redinamização das marcas de distribuidor parece estar para durar, até como fator crítico na forte competição entre as principais insígnias da moderna distribuição”, sustenta.
Adicionalmente, diz, “é muito interessante verificar o trabalho que os retalhistas estão a fazer com as suas marcas no segmento de ‘beauty’. Até há pouco tempo este terreno parecia exclusivo das marcas originais, mas o panorama está a modificar-se rapidamente”.
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