A Lisbon by Design, que arrancou pela primeira vez em Portugal em 2021, é uma plataforma que foi criada com o objetivo de celebrar o melhor do design contemporâneo português. Entre 22 e 25 de maio, o Palacete Gomes Freire, em Lisboa, vai ser palco de uma mostra onde 28 artistas, artesãos e estúdios de design vão dar provas do seu talento e revelar as suas criações artísticas ao mundo.

Julie de Halleux explica que foi a sua paixão pelo design de interiores que a levou a criar um evento de vários dias capaz de reunir, no mesmo espaço, o melhor que Portugal tem a oferecer nesta área. Inspirada pelas feiras internacionais, decidiu replicar o modelo na capital dando origem ao que hoje conhecemos como Lisbon by Design. O evento, que já vai na sua 5.ª edição, continua a manter aquela que foi a sua ambição desde o início: “colocar o design de interiores feito em Portugal no mapa internacional.”

O que começou como uma feira de design, acabou por se transformar numa plataforma de visibilidade para jovens emergentes que, ano após ano, passam por um processo de seleção criteriosa, no qual apenas os melhores são escolhidos. Os selecionados têm a oportunidade de expor as suas peças ao lado de nomes conceituados da indústria do design em Portugal. “Tentamos ter sempre uma seleção nova [de participantes] todos os anos. Há artistas, pequenas marcas e fábricas que acabam por regressar, mas sempre com peças novas.”

Lisbon by Design
Lisbon by Design Julie de Halleux créditos: Claudia Rocha

O evento, que acabou por se tornar num ponto de encontro entre arquitetos, designers de interiores e profissionais da indústria hoteleira, é uma boa oportunidade para descobrir soluções inovadoras e disruptivas onde o design contemporâneo dialoga com as mais variadas tradições artesanais. “Nós não podemos ficar com o artesanato antigo. É preciso dar-lhe um toque mais moderno e contemporâneo, senão há muitas técnicas que vão desaparecer, portanto a ideia é reinterpretá-lo. Todos os participantes são artistas que, de um lado, têm a tradição e, do outro, uma nova visão, por isso é que há tantos jovens”, diz.

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Lisbon by Design Barbara Portailler créditos: Claudia Rocha

À semelhança das outras edições, todos os participantes são desafiados a criar uma peça única, feita especificamente para esta iniciativa, que deve ter como ponto de partida a exploração de diferentes matérias-primas com uma forte ligação à herança portuguesa. “Tentamos ter sempre uma grande variedade de materiais [como cerâmica, têxtil, metal, pedra, madeira] mas este ano acho que temos mais mobiliário do que no ano passado,”.

Apesar de não haver um tema definido, Julie de Halleux refere que todas as instalações artísticas têm em comum o facto de explorarem a relação com a natureza, valorizarem materiais naturais e integrarem tradição do saber-fazer e do feito a mão. Uma abordagem que nos remete para um dos pilares centrais da Lisbon by Design: o compromisso com a sustentabilidade. “O foco na questão da sustentabilidade serve para mostrar que esta é a única maneira de continuar a produzir, especialmente ao nível do design”, esclarece.

28 designers, 13 instalações individuais e 6 colaborações artísticas

Lisbon by Design
Lisbon by Design De La Spada créditos: Claudia Rocha

Este ano, a Lisbon by Design decidiu concentrar todas as suas atenções no tema da sustentabilidade, destacando a produção ética e a utilização de materiais circulares, que deverá ter um papel ainda mais preponderante nas edições futuras. Ao longo das várias salas, é possível descobrir de que forma é que muitos designers conseguem reaproveitar artisticamente materiais sem utilidade ou em fim de vida e criar objetos esteticamente apelativos que aliam criatividade, inovação e sustentabilidade.

Para Julie de Halleux, um dos grandes destaques desta edição é a instalação da De La Espada, que contou com a curadoria de Sam Baron, pelo seu lado “mais experimental." "Esta é a primeira vez que estão presentes na feira e ficamos contentes em ver que estão a levar o design até ao limite.” A marca de mobiliário portuguesa conhecida pelas suas peças high-end, que é patrocinadora do evento desde 2024, decidiu integrar a mostra deste ano sob uma condição: criar uma instalação “que surpreendesse e excedesse as expectativas.”

Porque a Lisbon by Design está alicerçada num forte espírito de comunidade que, edição após edição, reúne visitantes de todo o mundo em torno da sua paixão pelo design, Luis De Oliveira decidiu explorar “a emoção de estarmos sentados juntos em comunidade e aquilo que sentimos nesse momento”. Depois de muitos esboços, nasceu uma coleção de sofás e cadeiras, de dimensões desproporcionadas, que nos remete para um mundo mágico: uma clareira numa floresta. “Aqui estamos sentados em cima de musgo, que é confortável e suave, ali em cima de um toro, que é um tronco acabado de cortar, e aqui temos outro tronco”, explica sobre as suas peças onde foram utilizados diferentes têxteis de cor verde com texturas invulgares e muita madeira.

Lisbon by Design
Lisbon by Design Rosana Sousa créditos: Claudia Rocha

Para dar uma nova vida aos desperdícios da indústria da madeira e do mobiliário, Rosana Sousa decidiu criar uma coleção de mobiliário 100% sustentável. A designer do Porto fez das ripas de madeira de carvalho e nogueira, que são posteriormente coladas e prensadas, o seu novo material para a criação das cadeiras e mesas apresentadas na Lisbon by Design. “É muito especial porque, em vez de seguir a abordagem tradicional, onde começo pela ideia e tento encontrar os melhores materiais e técnicas para a sua criação, acontece exatamente o oposto. A coleção nasce dos materiais”. Para a jovem licenciada em design sustentável, o facto de todas as cadeiras e mesas incorporarem múltiplas camadas e diversos tons de madeira, que podem ir dos mais claros aos mais avermelhados, confere um carácter único às suas peças.

Além dos nomes nacionais, nesta mostra de quatro dias poderá descobrir um vasto leque de artistas estrangeiros que, espalhados por diferentes zonas do território, encontraram no nosso país o seu refúgio residencial e criativo, onde produzem peças Made in Portugal. É o caso de Jacek Jan Jaskola. Fortemente inspirado pela força da natureza e pela erosão das pedras, o designer polaco criou um conjunto de candeeiros de grandes dimensões que se destacam pelas suas “formas brutalistas”. “É impossível alguém mudar-se para Portugal e não se sentir inspirado”, diz o designer sobre a sua criação feita a partir de uma mistura de pó de mármore e areia.

Lisbon by Design
Lisbon by Design Jacek Jan Jaskola créditos: Claudia Rocha

Já Caio Superchi, que há sete anos trocou o Rio de Janeiro por Portugal, destaca-se por ser um entusiasta da reciclagem e do upcycling. Ao incorporar este conceito nas suas criações artísticas, o designer tem o desafio de criar a partir apenas de materiais disponíveis no seu atelier, Superchi Studio. Desperdícios de madeira e de metal, que reaproveita do interior de carros, motas e máquinas em fim de vida, são a sua matéria-prima principal. Nesta edição da Lisbon by Design apostou numa linha de candeeiros de mesa e de chão funcionais, ajustáveis e reclináveis, que permite ajustar o foco consoante a necessidade. Faia, carvalho e jacarandá são alguns dos tipos de madeira utilizadas nas suas criações exclusivas de look industrial. “Não existe madeira nova [nas minhas peças]. Todas têm marcas deixadas pelo tempo. São peças únicas e numeradas”, afirma.

Lisbon by Design
Lisbon by Design Superchi Studio créditos: Claudia Rocha

De forma que todos os participantes pudessem explorar novos horizontes e dar asas ao seu lado mais experimental, a Lisbon by Design começou a fomentar parcerias entre artistas e artesãos. Uma iniciativa que começou no ano passado e se estendeu à edição de 2025. “Procuramos criar ambientes de que mostrem o máximo de cada artista. Nós não queremos colocar muitos artistas ao lado uns dos outros. É preciso criar uma cenografia, por isso, juntamos dois, três e, às vezes, quatro [no mesmo espaço]”.

É o caso da Burel Factory e da Blackcork, duas marcas 100% portuguesas, que assinaram uma coleção cápsula de mobiliário. “Este ano, desafiamos a marca a criar uma única coleção assinada por dois designers e com recurso a dois materiais distintos. O que têm em comum? O facto de terem por base dois materiais sustentáveis e naturais”, explica o designer Rui Tomás referindo-se ao burel e à cortiça. Estas duas matérias-primas uniram-se para criar uma linha experimental para a casa composta por cadeiras, candeeiros, bancos modulares e painéis onde predomina a cor. “É o primeiro exemplo de uma marca verdadeiramente sustentável em Portugal”, elucida Julie de Halleux sobre este projeto.

Lisbon by Design
Lisbon by Design Burel Factory x Blackcork créditos: Claudia Rocha

Para que os participantes possam tirar o melhor uns dos outros, a fundadora refere que é essencial que cada artista se sinta confortável em trabalhar com o seu par criativo. “Tudo tem de acontecer de uma maneira orgânica e fluída para que resulte em novas coleções super interessantes”, frisa a fundadora.

Outro exemplo bem-sucedido é a instalação do Studio Mirante, dirigido por Margaux Carel e Clotilde de Kersauson, que convidou a artista têxtil Ana Rita Arruda e o estúdio Petit Bouquet para a criação de um espaço que conseguisse surpreender os visitantes ao unir diferentes texturas e combinações inesperadas. “As esculturas, as flores na parede e os candeeiros são meus e a Clotilde fez todas as colunas”, diz Margaux Carel sobre as suas peças em cerâmica. Já a mestre em feltragem Ana Rita de Arruda ficou encarregue de criar diferentes esculturas em lã,que conferiram uma maior riqueza textura à sala. “Adorei trabalhar com ceramistas porque temos muito em comum. Quer na forma como moldamos as peças com as mãos, quer na maneira como dialogamos com os materiais”, diz sobre este desafio.

Lisbon by Design
Lisbon by Design Studio Mirante x Petit Bouquet x Ana Rita de Arruda créditos: Claudia Rocha

Para adicionar um toque de magia e frescura ao ambiente, o Studio Mirante recorreu ao talento da florista Pauline Daly, que usou as plantas de forma criativa nesta instalação. A fundadora da Petit Bouquet, que tem uma vasta experiência em casamentos, criou arranjos florais verdejantes que, em vez de colocar no chão ou em vasos, foram suspensos no teto. “Estas são as minhas nuvens, a minha atmosfera e a minha selva”, explica a florista.

Workshops, palestras, um prémio de design e um novo espaço

Lisbon by Design
Lisbon by Design Omarcity World créditos: Claudia Rocha

A par das peças em exposição, o tema do eco design e da sustentabilidade está presente nesta edição através de diferentes palestras que vão decorrer entre 22 e 25 de maio. "Contemporary Design and Sustainability", que vai acontecer no fim de semana, é um dos momentos de conversa liderado pelos designers Baptiste Da Silva e Rosana Sousa. “Todas as nossas talks vão ser sobre design sustentável, como reciclagem e upcycling, onde tentamos promover uma abordagem responsável sobre o design”, explica Julie de Halleux sobre esta iniciativa.

Uma das grandes novidades deste ano é a abertura do jardim que, pela primeira vez em cinco edições, vai estar acessível aos visitantes.  Se tiver tempo e gostar de pôr as mãos na massa, pode participar num dos workshops organizados pela Omarcity World. A marca belga, que tem as suas peças de mobiliário feitas em parceira com a Fabricaal expostas por todo o jardim, vai partilhar com os participantes algumas técnicas da arte da tapeçaria. Nesta zona lounge, o público pode descontrair depois da sua visita e, ainda, provar os vinhos orgânicos produzidos pela herdade algarvia Morgado do Quintão.

Para mostrar que vinho e design podem andar de mãos dadas, a Lisbon by Design juntou sinergias com esta quinta produtora de vinhos para a atribuição de um prémio de design sustentável. O designer Vasco Fragoso Mendes, reconhecido na edição de 2024, vai ajudar a selecionar o nome que, este ano, irá seguir os seus passos e viajar até ao Algarve. O vencedor receberá um prémio monetário no valor de 1.000 euros e a oportunidade de fazer uma residência artística no sul do país entre outubro de 2025 e maio de 2026.

“No dia a dia, é difícil para um artista criar, porque está a gerir filhos, escolas e trabalho. E aquele momento em que não tem de fazer nada e pode ir para um sítio onde pode simplesmente estar é um retiro. Esta residência é uma maneira de nós contribuirmos, com o pouco que temos, para o desenvolvimento das ideias e da criação”, explica Filipe de Vasconcellos, CEO do Morgado do Quintão.

Informações

Morada: Rua Gomes Freire 98, 1150-179 Lisboa

Webiste: www.lisbonbydesign.com

Horário: 22 e 23 de maio (16:00 - 21:00) e 24 e 25 de maio (10:00 - 18:00)

Entrada: 10€

De forma a manter vivo o espírito da Lisbon by Design durante 365 dias, a plataforma desenvolveu uma programação que permite aos amantes de design – e ao público em geral – conhecer a fundo os bastidores deste universo. “Durante o ano, a Lisbon by Design organiza visitas privadas aos estúdios de vários artistas para o público compreender e valorizar o trabalho desenvolvido por si. Uma peça artesanal, que vai ser única, vai ser mais cara do que uma peça de plástico fabricada na China. Queremos que o público perceba o seu valor, que são muitas horas de trabalho, com muita paixão e  muito investimento da parte do artesão que deve ser remunerado”, conclui.

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