Miguel, depois de anos a realizar projetos de reabilitação e design de interiores, criou a sua primeira coleção de mobiliário e complementos. Qual é que foi a sua maior motivação?
Na verdade, desde sempre que desenho e crio muitas das peças que uso nos meus projetos de design de interiores. Faço-o, não só por gosto e porque a minha formação é em design de equipamento, mas sobretudo porque acredito que cada projeto é único e deve responder às necessidades e gostos de quem nos procura e confia em nós. Com o passar dos anos e com o feedback que recebemos, achámos que disponibilizar a nossa coleção a qualquer pessoa, seja ela um comprador pessoal ou profissional, era o passo mais óbvio a dar. Resolvemos arriscar e estamos muito satisfeitos com a decisão que tomámos.
Idealizar, criar e disponibilizar mobiliário personalizado, à medida, de excelente qualidade, pensado para cada caso, e que é criado para ser vivido, é a minha maior motivação.
E como é que descreve a coleção?
É uma coleção com uma estética intemporal, cuidada, repleta de pormenores que se adapta facilmente a diferentes gostos e estilos. Caracteriza-se pela qualidade da matéria-prima, sobretudo pedra, madeira e metal que são materiais resistentes, que envelhecem mantendo a qualidade inicial e que conferem elevada funcionalidade e durabilidade às peças. Ou seja, para nós, o mais importante não é criar apenas peças que agradam a quem as vê, mas sobretudo que façam parte da vida de quem as usa.
Ao usar materiais nobres, estou a privilegiar a durabilidade, a funcionalidade e a intemporalidade das peças
Tendo em conta que o Miguel é designer de interiores, o processo de criação de cada peça deverá ser complexo. Que fatores envolve?
É um processo muito complexo sim, e se quisermos criar algo esteticamente apelativo, resistente e funcional é fundamental analisarmos o objetivo do uso do produto, as questões do comportamento e resistência dos materiais e, acima de tudo, as preocupações ergonómicas.
A criação de uma peça resulta do equilíbrio perfeito entre estes diferentes fatores e é algo que só se consegue com formação adequada e requer um trabalho contínuo de aprendizagem.
Procura criar peças duradouras e, por isso, dá primazia a materiais nobres e não segue tendências. Não está assim a elevar o desafio?
Sem dúvida que me estou a desafiar constantemente, mas sou fiel aos meus princípios, ao que acredito e respeito. Ao usar materiais nobres, estou a privilegiar a durabilidade, a funcionalidade e a intemporalidade das peças e essa é uma preocupação constante e transversal em todos os meus projetos.
Nos dias que correm, em que existe muita concorrência e influência das redes sociais, como é que se vende uma peça duradoura, tendo em conta que muitos consumidores gostam de ir mudando o “look” das suas casas?
Apesar de não seguir tendências, no sentido que estas se esgotam muito facilmente e criam ambientes repetitivos, não tenho nada contra a mudança ou atualização de algumas peças nos ambientes. Essas adaptações até são bem-vindas, seja para introduzir mais cor, para existir uma adaptação à estação do ano, ou apenas para alterar complementos. Contudo, acredito que as peças chave, aquelas que “enchem" um espaço, que lhes conferem identidade, seja uma sala, um quarto, uma sala de refeições, ou outro, devem manter-se ao longo dos anos e, de preferência, passar de geração em geração porque estão sempre atuais e se enquadram em diferentes estilos e gostos.
São peças intemporais, ecléticas, que se ajustam a diferentes estilos
Quando adquirimos uma peça da sua coleção para a nossa casa, podemos encarar como um “investimento para a vida”? Rondam mais ou menos que valores?
São um investimento para a vida toda tendo em conta a qualidade e tempo médio de vida de cada uma. Mas também são esses os motivos que não as tornam excessivamente caras. São peças intemporais, ecléticas, que se ajustam a diferentes estilos. Como são peças totalmente personalizáveis, nas dimensões, materiais ou acabamentos, cada uma pode ter valores diferentes, e são sempre vistas caso a caso. No nosso showroom, temos peças a partir de 800€.
E também acabam por ser uma solução mais sustentável… a sustentabilidade é algo que o preocupa?
A sustentabilidade é transversal a todas as minhas peças e projetos. Acredito que uma boa peça não tem um prazo de validade, daí recorrer sobretudo a matérias primas naturais e locais. Outro motivo que torna a Miguel Raposo interiors Collection sustentável, é o facto de não existir uma produção em massa. Cada peça é única e cuidadosamente elaborada por artesãos locais, de modo a promover também a economia local.
Visto que tem mais de 30 anos de experiência na área de design interiores, podemos dizer que esta coleção resume a sua filosofia ou é um ponto de partida para novas aventuras/coleções?
A minha coleção é o reflexo do meu mundo criativo e de tudo aquilo que me inspira. Não existem várias coleções, existe apenas uma que vai sendo construída, diversificada com novas peças que se complementam, ou que foram criadas a partir de outras já existentes. O que existe sim é uma vontade constante de continuar a criar e a inovar.
Miguel, que critérios considera que devemos ter em conta se quisermos comprar mobília versátil para casa?
Independentemente do tipo de mobiliário, o mais importante é considerar a qualidade e funcionalidade das peças. Isto porque queremos peças que sejam resistentes, que possam ser usadas no dia-a-dia sem se desgastarem com facilidade. E queremos peças que tenham utilidade, caso contrário estão apenas a ocupar espaço.
E, por curiosidade, quanto tempo demora a criar uma peça? Da conceção à produção?
Como cada peça é feita maioritariamente de forma manual, não existe um tempo estipulado ou um modelo que seja facilmente replicável. Existem fases ao longo do processo que têm de ser respeitadas e que podem durar mais ou menos tempo, e que condicionam o tempo de produção. Contudo, o facto de trabalhar com os mesmos artesãos há muitos anos, facilita e agiliza o processo que pode durar até dois meses entre a conceção e o produto final.
a compra de mobiliário de qualidade é um investimento a longo prazo,
E quem considera ser o seu público-alvo e porquê?
Qualquer pessoa pode ser público-alvo desde que se identifique com a oferta que temos e com a nossa visão. Acreditamos que a compra de mobiliário de qualidade é um investimento a longo prazo, tal como é uma obra de arte ou uma joia. Um dos objetivos da abertura do showroom ao público é precisamente tornar a coleção acessível a qualquer pessoa, sem ser necessário um projeto de design associado para se comprar uma peça.
E como é que funciona o showroom? É preciso marcação?
A Miguel Raposo interiors Collection está em exposição num edifício residencial de três pisos, na Rua da Junqueira, em Belém, simulando diferentes ambientes domésticos e onde é possível ver a coleção em ambiente real. Estas peças expostas estão em comunhão com outras de proveniências distintas, de modo a que quem visita o espaço possa conhecer e perceber o trabalho do Miguel Raposo não só enquanto o autor da coleção, mas também enquanto designer de interiores. O nosso showroom reflete o meu gosto eclético, e o objetivo é que este primeiro contacto com o nosso trabalho seja positivo e que exista uma identificação com o espaço. O showroom está aberto de 2ª a 6f, das 9h às 18h e pode ser visitado sem necessidade de marcação prévia.
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