O Gerês, cuja formação teve lugar há 400 milhões de anos, ainda é um paraíso por descobrir para muitos portugueses. Para quem visita Terras de Bouro, no distrito de Braga, o Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) – que resulta da união Serra da Peneda e Serra do Gerês, tem uma extensão de 69 mil hectares e abrange cinco municípios diferentes - é um dos grandes atrativos deste concelho.
Apesar de os passeios pedestres serem uma boa forma de descobrir a região, que se destaca pela sua beleza paisagística e riqueza faunística e florística, o que não faltam são propostas de atividades que podem ser feitas de janeiro a janeiro, que vão desde o turismo de natureza ao de aventura, passando pelo náutico e de saúde e bem-estar.
GASTRONOMIA E ALOJAMENTO: Jante no Abocanhado e pernoite no Leiras do Tempo Cottage
Maria Helena Ramos, proprietária do restaurante ‘O Abocanhado’, é a personificação em pessoa da arte de bem receber. Após apaixonar-se pela região, foi a pouca oferta de restauração que a fez mudar-se do Porto, juntamente com o marido para a aldeia típica de Brufe. Sem qualquer experiência na área da cozinha aventurou-se na abertura do seu próprio negócio que, no final do ano, completa 20 anos de existência. “Achei que a aldeia era muito visitada e vi que realmente tinha potencial. A minha grande aposta foi escolher um local bem posicionado”, conta ao SAPO Lifestyle sobre o espaço que abriu com a ajuda de sócios locais.
Este é um dos tesouros gastronómicos mais bem escondidos da aldeia pois, tirando o letreiro, esta é uma estrutura que passa despercebida a quem por ali passar. Apesar de não ser bom para o negócio, para Maria Helena Ramos é um motivo de orgulho. “A nossa preocupação é que este fosse um elemento que estivesse perfeitamente integrado na paisagem”, refere sobre o projeto do restaurante assinado pela dupla de arquitetos António de Portugal e Manuel Maria Reis e que lhe valeram dois prémios internacionais de arquitetura, um deles precisamente de integração na paisagem.
Construído na zona limite do PNPG, o seu grande terraço - que tem vista privilegiada para o Rio Vale do Homem e que é um dos seus pontos atrativos – recebe os mais diversos eventos, alguns privados. “Já tive casamentos de [casais] americanos. Vieram de autocarro e, no final, deixavam os sapatos e iam descalços”, diz, entre risos, ao recordar uma das muitas histórias que tiveram como palco o seu restaurante.
Apesar da escassez da matéria-prima, Maria Helena Ramos tem o cuidado de abastecer o seu restaurante com bens alimentares provenientes de produção local. “Na minha cozinha tentamos valorizar os produtos locais sempre que possível. É uma cozinha tradicional, com cuidado em termos da confeção e da apresentação”, explica sobre o conceito do restaurante. No menu, os pratos de carne e os grelhados têm um lugar de destaque, sendo possível escolher entre cabrito, garnisé, veado ou posta. A tibornada de bacalhau – confecionada com grelos, morcela, bacalhau, batatas e broa – é uma excelente opção para os fãs de peixe.
Mas se este é um local que não se vê da estrada, como é que os clientes aqui chegam? O passa-a-palavra é o segredo do negócio. “É curioso que são muitas vezes os meus clientes que chegam às unidades hoteleiras e dizem ‘Eu quero ir ao ‘Abocanhado. Digam-me como é’”, revela a proprietária deste estabelecimento que só encerra em novembro e janeiro e quando o tempo não dá tréguas. “Há uma altura do ano em que fica de noite muito cedo e fechamos ao jantar.” Devido à sazonalidade da oferta gastronómica da região, os clientes voltam mais do que uma vez nos meses de inverno. “Está tudo fechado por aí. Não há nada para comer por isso vêm cá uma e duas vezes.”
Em 2014 deixou para trás uma carreia de 25 anos na Associação Empresarial de Portugal (AEP) para se dedicar de corpo e alma a uma nova extensão deste negócio: um bar, que abre portas para encontros com estrangeiros, e um projeto de alojamento local. “Senti que havia necessidade de complementar este projeto que tinha da restauração. Fiz o bar [Pisco - Wine, Food and Soul] para criar uma outra oferta em termos de alimentação, algo mais leve, mais light e mais saudável, e o pernoitar, porque como isto era distante, eu via que as pessoas iam e vinham, era um esforço, e muitas vezes nem podiam beber muito”, refere. E assim nasceu o projeto Leiras do Tempo Cottage que contempla seis casas – duas de tipologia T1 com kitchenette e quatro T0 - que estão dispersas pela aldeia. Algumas destas habitações encontram-se a escassos metros de distância do restaurante e são de fazer perder a cabeça.
O exterior em pedra contrasta com o interior em madeira onde os hóspedes vão encontrar uma decoração aconchegante e com personalidade, onde o novo e o antigo se fundem na perfeição. Ao visitar estas casas percebe-se, de maneira muito clara, que tudo foi pensado ao pormenor e que a proprietária não poupou na qualidade de cada detalhe, seja nos colchões, nos têxteis de cama, nas mesas de cabeceira ou até nos mármores utilizados nas casas de banho. “Para além da qualidade dos materiais, tenho que vender experiências”, afirma Maria Helena Ramos enquanto nos faz um tour pelos diferentes alojamentos. Ficar num T0 pode custar 190€ por noite, sendo que todos os hóspedes têm à sua disposição uma piscina com vista para as montanhas e uma zona de estar comum a todas as casas, onde todas as manhãs é servido o pequeno-almoço. O único senão é mesmo este não ser um local aconselhado a crianças, pois para além de se tratar de uma zona de repouso, os perigos espreitam em cada esquina devido aos precipícios existentes no local.
Este alojamento que até ao momento só trabalhava com uma plataforma dedicada a programas de percursos pedestres e albergava praticantes desta modalidade oriundos do Reino Unido, vai estar disponível para reserva online a partir do fim de julho.
Mas nem tudo corre de feição a esta empresária nortenha que só passados praticamente sete anos desde que iniciou o projeto de recuperação destas seis unidades, é que vai começar a rentabilizar a 100% estes espaços. O principal motivo é a falta de funcionários que tem dificultado, e muito, o arranque deste novo negócio. “Tenho tudo fechado porque não tenho gente para trabalhar”, salienta a proprietária que, até no próprio restaurante, é obrigada a meter as "mãos na massa" quando a ajuda é escassa.
Para ajudar a alavancar o Leiras do Tempo Cottage, Maria Helena Ramos pretende associar-se a uma plataforma de reserva online, mas apenas numa fase inicial. “Tenho poucos quartos e, tal como o restaurante, quero muito isto de boca”, colmata.
COMÉRCIO LOCAL: Ir às compras à Loja do Parque
“Centro de valorização e promoção dos produtos locais” pode ler-se no letreiro que está afixado à porta da Loja do Parque. Com portas abertas há pouco mais de um ano, este estabelecimento dedica-se à comercialização exclusiva de produtos da Reserva da Biosfera Gerês-Xurês, que inclui o PNPG e o Parque Natural Baixa Limia-Serra do Xurês (PNBLSX).
Rita Barros e Pedro Casinhas são os proprietários desta loja cuja abertura sempre foi uma ambição do casal que, até ao início da pandemia, se dedicava exclusivamente à Keen Tours, uma empresa familiar de animação turística focada no turismo de natureza e aventura. “Aquilo que nós fazemos é mostrar o território com um enfoque muito grande em conteúdos científicos, na fauna, na flora, na arqueologia, na antropologia e normalmente com um ritmo mais lento, mais contemplativo”, explica o empresário sobre este projeto que arrancou em 2017 e se mantém em funcionamento em paralelo com a loja.
Nas tours que organizam pelo Gerês, o transporte, a preparação da merenda e o equipamento necessário fica a cargo do casal. Da parte do cliente só é preciso boa-disposição, uma grande dose de energia e muita vontade de partir à descoberta da região. Os percursos são feitos a pé, sendo incorporadas diversas atividades que se prolongam durante o dia e que podem ir desde a apicultura à oficina de pão, passando pelo pastorear das cabras pelos montes. “Como trabalhamos com um público internacional, principalmente os europeus, queriam levar para casa parte dos produtos que consumiam, mas os que viajavam em low-cost tinham limitação da bagagem e às vezes perguntavam-nos como os ter. E nós, desde o início, que pensamos em criar uma loja online”, refere.
A pandemia foi o empurrão de que precisavam para concretizar este sonho que tinha ficado para trás. A freguesia de Covide foi o local escolhido para porem em marcha este projeto que abriu portas num espaço cedido ao casal pela Fundação Calcedónia, criada em 1996, por Maria Adelaide, que pretendia valorizar a produção do território.
Na Loja do Parque é possível encontrar um bocadinho dos aromas e dos sabores do Gerês. Cosméticos, chás, compotas, marmeladas, cervejas artesanais, azeite, cogumelos desidratados, fumeiro ou queijos são alguns dos produtos expostos nas prateleiras de madeira. Quem entra nesta pequena loja não fica indiferente às bolachas e ao mel que fazem as delícias de quem por lá passa. Aliás, há quem faça centenas de quilómetros para vir de propósito a Covide adquirir estes produtos que só são vendidos localmente e produzidos nos municípios da reserva da biosfera.
“Tentamos, ao máximo, incorporar produtos locais. Por norma são produtores individuais e damos preferência a mulheres”. Porquê? “Porque os negócios no feminino tendem a durar mais tempo e são mais sustentáveis.” Uma das curiosidades deste espaço é o facto de grande parte dos produtos comercializados serem produzidos no interior da loja.
Apesar de a Loja do Parque ter pouco mais de um ano de atividade, o balanço que o casal faz é extremamente positivo, a todos os níveis. “Tem sido uma experiência incrível. Temos aprofundado algumas relações e encontrado pequeninos produtores fantásticos”, afirma Pedro Casinhas que os conhece, um a um, pelo nome, sendo notável o amor e dedicação que, juntamente com a mulher, colocou neste negócio.
O seu sucesso acabou por trocar as voltas a este casal, levando-os a abrir a loja física antes da online - que ainda “continua na forja” - e a mudaram-se definitivamente para Covide. “Há três meses que vivemos cá. Mudámo-nos de Braga para aqui”, realça Rita Barros de sorriso no rosto.
TURISMO DE AVENTURA: Montar a cavalo
Chama-se Gerês Equi’Desafios e junta o melhor de dois mundos: desporto e natureza. Esta empresa de animação turística, criada em 2002, por uma dupla de amigos, dedica-se a atividades de montanha e náuticas que podem ser realizadas durante todo o ano, por todo o PNPG.
“As atividades que têm mais procura são os cavalos, os tours de jeep, o arborismo e o paintball”, afirma Henrique Rodrigues sobre as preferências dos visitantes. Mas o que é que faz com que, ano após ano, os passeios a cavalo continuem a conquistar miúdos e graúdos? “Já é uma tradição muito antiga no Gerês”, explica o sócio-gerente que tem o único centro hípico federado no PNPG. “Antigamente os guardas do parque faziam vigilância a cavalo e quando isso acabou começaram a fazer passeios na Vila do Gerês. Há imensas famílias que já estiveram cá há 20, 30, 40 anos ou mais e que já tinham andado a cavalo com os pais.”
Apesar da popularidade, nem o turismo equestre saiu ileso, em 2020. Com a paralisação das atividades durante o período pandémico, os proprietários foram forçados a reduzir o número de cavalos – de 18 para 13 exemplares de várias raças – e a encerrar portas durante um ano. “O turismo nacional foi o que nos salvou”, recorda sobre o período difícil que viveu e que, felizmente, está a conseguir pôr para trás das costas com o levantamento das restrições e desconfinamento.
De forma a proporcionar momentos únicos a todos aqueles que visitam o PNPG, a Gerês Equi’Desafios realiza passeios para todos os gostos e tipos de experiência no que a cavalos diz respeito: de 15 minutos para os mais pequenos, de 30 minutos para famílias com crianças e de 60 minutos para pessoas com ou sem experiência - que é o best-seller da empresa e tem um custo de 30 euros. Para pessoas com mais experiência existem duas opções: passeios de duas horas ou de vários dias a cavalo pelas aldeias típicas do Gerês. “O passeio de três dias fazemos normalmente para [a aldeia típica de] Santa Isabel do Monte. É um programa específico para ver os garranos, os cavalos selvagens [uma raça típica do Gerês].” Um programa de turismo equestre deste tipo com tudo incluído fica à volta dos 490 euros por pessoa. Independentemente da duração, todas as atividades desenvolvidas pela empresa são realizadas na presença de um guia com formação específica na área de forma que tudo decorra em segurança, algo que, devido à facilidade burocrática e inexistência de entraves que existe no acesso à atividade, não se verifica em todas as empresas de animação turística que atualmente operam no Gerês. “Nós temos sempre a preocupação de ter, pelo menos, um monitor com formação e certificado em cada área, seja na escalada, nas cordas ou na água”, salienta sobre o seu projeto que, atualmente, conta com nove funcionários a tempo inteiro.
Seja pela serra ou pela aldeia, a experiência da equipa da Gerês Equi’Desafios é determinante de forma a facilitar o processo de decisão do percurso a fazer com cada grupo. “O monitor quando põe as pessoas em cima dos cavalos vê logo qual é o percurso que vai fazer”, esclarece. Para além da empresa de turismo, o empresário é detentor da Gerês Casas, uma plataforma dedicada a todos aqueles que procuram alojamento dentro do PNPG e de uma agência de viagens, a Gerês Holidays, que auxilia no planeamento das férias e disponibiliza programas de multiatividades de diversos dias para escolas. Existe ainda uma app com o mesmo nome (android e iOS) que foi criada com intuito de funcionar como um guia gratuito para todos os visitantes do PNPG e onde é possível encontrar informação sobre rotas turísticas, pontos de interesse de visitação e os restaurantes mais próximos.
Tendo em conta que o inverno é a época mais difícil para a Gerês Equi’Desafios, especialmente os meses de novembro, dezembro e janeiro, a equipa aproveita essa altura do ano para reestruturar a sua oferta. “Aproveitamos para fazer a manutenção e criarmos programas novos”, conclui.
TURISMO NÁUTICO: Fazer um passeio de barco
São mais de uma centena os barcos que estão ancorados na Marina de Rio Caldo, mas à nossa espera encontra-se uma embarcação que pertence ao município de Terras de Bouro, o barco “Rio Caldo”.
As temperaturas elevadas que se fizeram sentir durante a nossa visita casaram na perfeição com este passeio onde nos é dada a conhecer um pouco da história da Albufeira da Caniçada, que tem 76 metros de profundidade e abastece as cidades de Esposende e Vila do Conde, e toda a zona envolvente.
“Estamos a navegar em pleno Rio Cávado, que vem do braço de Salamonte, e temos as duas pontes que dividem os dois concelhos: a margem direita pertence ao concelho Terras de Bouro e a margem esquerda ao lado de Vieira do Minho”, refere Manuel Rodrigues, piloto da embarcação que, todos os anos, transporta casais, famílias e grupos interessados em conhecer mais o Gerês.
Apesar de o trajeto não ser sempre igual, existem alguns locais de passagem obrigatória. O primeiro são as pontes do Rio Caldo, construídas em 1954 pelo engenheiro Edgar Cardoso, seguindo-se a antiga mansão do jogador de futebol Cristiano Ronaldo, que atualmente pertence a Pepe. Goste-se ou não, para António Cunha, Vereador do Turismo da Natureza, este imóvel é uma atração de valor incalculável para o município. O último local é a Barragem da Caniçada onde é possível avistar uma obra da autoria de um dos maiores artistas portugueses de arte urbana: Vhils.
“Temos muita procura de passeio em grupos”, diz António Cunha sobre o Rio Caldo que, entre 15 de julho e 31 de agosto, realiza passeios diários de 45-60 minutos. Com partida às 16h, a embarcação só arranca com 25 tripulantes a bordo ou mediante aluguer privado (150€). Os interessados podem fazer a sua reserva diretamente com a Câmara Municipal de Rio Caldo, a Marina de Rio Caldo ou online. Mas as atividades náuticas não são as únicas capazes de proporcionar momentos de lazer e o verão não é a única época do ano em que se pode conhecer melhor este local.
As caminhadas pelo PNPG são uma boa forma de explorar parte desta área protegida, que ganha outro encanto durante os meses mais frios. António Cunha faz o convite e explica porquê. “As outras épocas do ano, em termos visuais e de paisagem, para mim são mais interessantes do que o verão, mas essa é a época sempre com mais turistas. As cores do outono aqui são absolutamente deslumbrantes, para quem conhece a zona da Mata da Albergaria, e na primavera, com os roxos e os amarelos da Serra Amarela e não só, a serra ganha uma tonalidade diferente. Na prática temos quatro épocas diferentes, portanto é um turismo que pode ser feito 365 dias por ano. As pessoas às vezes olham para as cascatas e acham que aquilo devia ter outro impacto, porque no verão não tem um caudal muito significativo, e às vezes ganham imponência no inverno e até nesse aspeto estamos a criar condições de visitação porque algumas são bastante perigosas de acesso.”
SAÚDE E BEM-ESTAR: Tratar de si nas Termas do Gerês
Todos os anos, entre 1 de maio e 31 de outubro, as Termas do Gerês abrem as suas portas para dar início à época termal. Tendo em conta os benefícios e propriedades terapêuticas da água desta região, são muitas as pessoas que se deslocam de várias partes do país para fazer “a limpeza” ou “a desintoxicação da alma”. Independentemente do termo utilizado, todos têm um objetivo em comum: tratar da sua saúde ou vir em busca do tratamento para uma maleita.
São cada vez mais as pessoas, de todas as idades, que dão entrada no Águas do Gerês - Hotel, Termas e Spa para se submeter à Cura Termal: um tratamento que tem a duração de 14 dias e que consiste na ingestão de água termal conjugada com a dieta geresiana. Mas a que sabe esta água que é famosa pelas suas características únicas e curativas e que é a base de grande parte dos tratamentos desta estância? “É uma água que tem um cheiro a ácido sulfúreo, mas não é uma água sulfúrea. A constituição base é bicarbonatada sódica, e a sua ação é estimular a função da vesícula, da produção da bílis e a contração da vesícula. Portanto quando as pessoas vêm cá têm que fazer uma dieta que potencie os efeitos da água, por isso é que lhe chamamos dieta geresiana”, explica Susana de Menezes Basto, diretora clínica das Termas do Gerês, que deixou Guimarães para se dedicar a este tipo de medicina complementar.
A dieta geresiana, a água termal e a atividade física são os três pilares das Termas do Gerês. Aqui, abusar e exagerar são verbos que ficam à porta a partir do momento em que a cura termal é iniciada e onde tudo é controlado ao milímetro. Após a tradicional consulta de nutrição, é prescrito aos termalistas residentes a quantidade de água indicada para si e o plano alimentar que deverão seguir durante a sua estadia seja neste ou noutro hotel da vila do Gerês que também disponibiliza esta dieta.
No buffet de pequeno-almoço existem opções específicas para os termalistas sendo que a única desvantagem é a oferta reduzida. “Mesmos os pratos que são servidos, em termos calóricos, de quantidade e tipologia de alimentos é a nossa nutricionista que faz. É tudo muito balanceado, tem que ser aquela quantidade e não mais que aquilo”, elucida sobre este tipo de alimentação que, obrigatoriamente, tem de ser complementada com a ingestão de água que deve ser feita em cinco períodos específicos do dia: três de manhã e dois de tarde. As tomas devem ter um intervalo de meia hora e ser intercaladas com caminhadas, daí o termo “passear das águas.” O objetivo principal é desintoxicar e desinflamar o corpo, sendo especialmente eficaz no tratamento de doenças de fígado, vesícula, hipertensão, diabetes e reumatismos crónicos.
Ao longo dos 12 dias, o termalistas residentes têm direito a três consultas médicas, sendo essencial virem à primeira “porque ninguém pode beber águas sem prescrição” e à última “para vermos os resultados a curto prazo”. Mas, ainda assim, há quem se desloque até às termas todos os dias, como é o caso dos termalistas itinerantes que fazem quatro tomas de manhã antes de darem início ao seu dia de trabalho e as restantes duas são-lhes entregues nuns termos.
A quantidade prescrita a ingerir é calculada com base no IMC de cada termalista, que vai variando ao longo do tratamento. “Primeiro começa-se com pequenas quantidades para o organismo se ir adaptando”, refere a Diretora Técnica sobre este processo, cabendo ao funcionário da buvette servir, no copo graduado, a medida indicada no seu boletim. Mesmo dentro das quantidades prescritas pelo médico, este tipo de água pode causar diversos efeitos secundários, como enjoos, sono ou dores musculares, e dar origem a uma crise termal. “É uma coisa que acontece em todas a termas do país.”
Apesar de não existirem quaisquer contraindicações em crianças e adolescentes, a Cura Termal não é indicada para pessoas com cancro. “Nós não queremos, de todo, perturbar o tratamento principal e nem queremos substituir nada. Às vezes algumas pessoas dizem ‘Doutora venho para aqui e vou parar com os medicamentos’ e eu digo ‘Nem pense numa coisa dessas. Os medicamentos são fundamentais. Isto é um complemento’”, salienta. Apesar de ser comparticipado pelo Serviço Nacional de Saúde, a maior parte dos termalistas opta por cuidar de si nas termas graças à recomendação de amigos ou familiares. A hidropinia - que consiste na ingestão de água e dieta geresiana - tem um custo de 100 euros. No fundo, aquilo que encarece um programa deste género é a estadia e os tratamentos complementares feitos com recurso à água termal, como a massagem Vichy que é o ex-líbris desta estância, e que são bons aliados nos resultados.
No fim da estadia e da cura termal, os termalistas residentes podem dar continuidade à dieta geresiana em casa durante um período semelhante. Uma vez que os resultados são visíveis, Susana de Menezes Basto refere que isso deve servir como estímulo e incentivo para os pacientes mudarem, de vez, os seus hábitos alimentares.
Mas qual o perfil de quem procura este tipo de tratamentos? Pessoas adeptas de um estilo de vida saudável e cada vez mais jovens. “Nós queremos ser geradores de saúde e, ao mesmo tempo, queremos praticar uma medicina holística, onde avaliamos a pessoa como um todo”, remata.
O SAPO Lifestyle viajou até Terras de Bouro no âmbito do projeto turístico ‘minH2O Wellness Experience by Terras de Bouro’
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