1. O Coliseu Micaelense abriu portas a 10 de maio de 1917, em plena Primeira Guerra Mundial, tornando-se na primeira casa de espetáculos dos Açores. “Abrir uma casa desta envergadura nessa altura nesta pequena ilha, que em 1917 ainda mais pequena era, foi um grande feito de doidos”, disse a guia Marisa Vale, responsável pela visita.

2. O seu projeto arquitetónico ficou a cargo de António Ayala Sanches que se inspirou no Coliseu dos Recreios – que foi a primeira casa de espetáculos a abrir portas em território português - para a construção deste edifício. “Ele seguiu o modelo de Lisboa, mas numa escala mais pequena”, explica sobre o espaço que conta com 1.034 lugares sentados e 2.020 em pé.

3. Pedro Lima Araújo foi um dos empresários envolvidos na construção desta sala de espetáculos e que viria a tornar-se no primeiro diretor do Coliseu Micaelense. Depois da reinauguração deste espaço, em 2005, o cargo foi entregue ao José Andrade.

4. Ao longo da sua história, este local destacou-se pela programação que dedicou à sétima arte dentro de portas. No ano da sua inauguração iniciou-se a projeção de filmes mudos, sendo que em 1932 foi exibido o primeiro filme sonoro nos Açores. Até à década de 1980, a aposta cinematográfica, tanto de produções portuguesas como estrangeiras, teve um grande peso na programação desta casa de espetáculos.

5. O ano de 1921 marcou o arranque dos Grandes Bailes de Carnaval que, a par do Grande Baile de Réveillon, é considerado um dos eventos mais emblemáticos a ter lugar neste espaço. Esta tradição centenária – que foi interrompida nas décadas de 1960 e 1970 - continua a atrair ponta-delgadenses, micaelenses e açorianos ao longo de duas noites de festa direcionadas para públicos distintos.

6. Tanto os Bailes de Carnaval como os de Réveillon obedecem a um dress code rigoroso e obrigatório que tem de ser cumprido por todos os convidados. “Os senhores vêm de smoking e laço e as senhoras de vestido curto ou comprido”, refere Marisa Vale.

7. Com capacidade para 2.020 pessoas, existem diferentes tipologias de bilhetes para os Grandes Bailes de Carnaval que podem atingir os 330 euros. “Quem tem bilhete de mesa e camarote pode trazer a sua cesta com o seu farnel para ao longo da noite”, explica sobre este utensílio de artesanato que tem um papel importante nesta festa.

8. Todos os anos, os Grandes Bailes de Carnaval promovem o Concurso das Cestas que tem como objetivo desafiar os convidados a dar largas à sua imaginação e a decorar a sua. Os três exemplares mais criativos são escolhidos por um painel de jurados externo ao Coliseu e a quem são entregues diferentes prémios.

9. Uma curiosidade prende-se com o nome deste edifício histórico que já teve outra designação. Em 1917 foi inaugurado como Coliseu Avenida – Teatro Circo, em homenagem à Avenida principal que ali existe. Só na década de 1950, e após ter sido adquirido pela sociedade detentora do Teatro Micaelense, é que foi rebatizado como Coliseu Micaelense.

10. A partir da década de 1980, este edifício atravessou aquela que foi uma das fases mais conturbadas da sua história. As dificuldades financeiras levaram a que, durante os 20 anos que se seguiram, só abrisse portas para a realização dos Grandes Bailes de Carnaval. “Já não era seguro ter cá pessoas”, refere a guia sobre o estado de degradação que ditou o encerramento deste espaço, cujo último baile aconteceu no ano 2000.

11. “Chegou a hora do Coliseu” foi o slogan utilizado por Berta Cabral para dar uma nova vida a este edifício emblemático. A presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada teve um papel fundamental na reabilitação desta sala de espetáculos que, após ter sido adquirida pela autarquia em 2002, foi alvo de obras de recuperação e restauro que se prolongaram durante três anos.

12. Durante o processo de restauração, avaliado em seis milhões de euros, houve a preocupação de manter alguns dos elementos originais do edifício. Um deles foi o pavimento do espaço. “O chão é igual ao de 1917. Foi encomendado especialmente para reinauguração e é um tipo de azulejo curioso porque é bastante grosso e ao longo dos anos tem sempre o mesmo desenho”, salienta a guia.

13. A reabertura teve lugar a 30 de janeiro de 2005 com uma gala temática inspirada nos Loucos Anos 20 e onde os convidados foram vestidos a preceito. “Houve uma passadeira vermelha na Avenida e os convidados e a Presidente chegaram de choche e cavalos.”

14. Este edifício histórico, cujo interior é maioritariamente feito em madeira, foi pioneiro no arquipélago no que diz respeito à sua construção. “Foi a primeira vez que se usou ferro na construção civil nos Açores”, conta.

Coliseu Micaelense
Coliseu Micaelense créditos: DR

15. O proscénio – também conhecido como frente do palco - conta com uma escultura da autoria de Canto da Maia. “[À esquerda] Era um soldado que cá estava e à direita a esposa do Canto da Maia.”

16. A tela que se encontra por detrás do pano de boca é da autoria Domingos Rebelo e foi criada especificamente para o Coliseu Micaelense. “É um coche com figuras representativas do teatro. Tem a Colombina, o Arlequim, o Pierrot…”, refere a guia sobre esta tela oferecida pelo pintor aquando da sua inauguração.

17. Os camarotes, que de todos os lugares eram os que possuíam uma vista mais elevada da sala, estavam reservados apenas para a elite. Durante o espetáculo, as empregadas que acompanhavam estas famílias abastadas ficavam nas galerias, sentadas num banco de metal criado especificamente para si, à espera de que o patrão lhes fizesse sinal para lhes levar o farnel.

18. A disposição do espaço pode ser alterada consoante o espetáculo a decorrer, existindo quatro opções possíveis: a versão teatro, que é a mais tradicional e com lugares sentados, a versão arena, onde o palco é colocado ao centro da sala, a versão baile, onde são montadas diferentes mesas, e a versão livre, que possibilita fazer jantares e concertos em pé.

19. “Tinha muito mais o formato de arena [com o palco ao centro da sala] quando abriu em 1917”, refere a guia mostrando numa maquete em criptoméria da autoria da arquiteta Sónia Pereira, encomendada a propósito do seu centenário, que onde é possível ver o antes e depois do Coliseu.

Coliseu Micaelense
Coliseu Micaelense créditos: Coliseu Micaelense

20. Em mais de 100 anos de história, o concerto da banda D’ZRT foi um dos momentos musicais mais marcantes desta sala de espetáculos. “A casa estava lotada”, refere a guia, mostrando uma imagem desse dia. Devido à procura elevada, essa foi a única vez que o Coliseu Micaelense vendeu bilhetes para a galeria em pé, onde atualmente está instalado o Polo Museológico.

21. No último piso está localizado o polo museológico que será reinaugurado em breve e poderá ser visitado pelo público, dando a conhecer a história desta casa de espetáculos.

22. Exemplares de cadeiras antigas, projetores, arquivo fotográfico dos espetáculos mais emblemáticos e exemplares das cestas utilizadas nos Grandes Bailes de Carnaval são alguns dos artefactos que é possível encontrar neste local.

23. O espetáculo da Festa do Emigrante é outro dos marcos da sua programação cultural que se realiza durante as festas do Santo Cristo dos Milagres e são uma tradição local. Este evento foi criado a pensar nas diferentes comunidades de emigrantes que, todos os anos durante o mês de maio, vinham até aos Açores para esta festividade religiosa.

Coliseu Micaelense
Coliseu Micaelense créditos: DR

24. A história centenária do Coliseu Micaelense ficou marcada por duas mulheres: Berta Cabral, a primeira mulher Presidente da Câmara de Ponta Delgada e impulsionadora do projeto de reestruturação deste edifício histórico, e Cila Simas que, em 2022, se tornou na primeira mulher a integrar a Presidência do Conselho de Administração deste local.

25. Ao longo da sua atividade, esta sala de espetáculos sempre teve a preocupação de diversificar a sua programação cultural onde se destacam a projeção de filmes, teatro de revista,  arte circense, concertos, bailados, óperas, desfiles de moda, comícios políticos e espetáculos de comédia.