Não se faça rogada e entre nesta propriedade privada na Trofa.
É um espaço de reduzidas dimensões repleto de condicionantes que prova que é sempre possível ter um jardim desde que se goste de viver no exterior e do contacto com a natureza.
Quando me pediram para seleccionar um projecto para a revista Jardins, lembrei-me de imediato deste recanto. Dificilmente um projectista tem a oportunidade de desenhar espaços e de fazer parte de processos que se revelem tão gratificantes.
Este jardim, dada a complexidade técnica que envolve as diferentes soluções e a óptima relação de entendimento que se estabeleceu entre projectista, cliente e jardineiro, é um caso de sucesso,
revelando-se hoje e apesar das suas pequenas dimensões, um pouco do pedaço de paraíso que todos desejamos.
Quando visitei o local pela primeira vez encontrei a casa ainda numa fase de construção e, confesso, fiquei um pouco apreensiva sobre o que fazer num espaço com tantas condicionantes. As zonas permeáveis eram relativamente pequenas, os solos quase inexistentes e resultantes de xistos, logo cheios de argila e pedra, e ainda acrescia restos de materiais de obras, um sem número de caixas e tubagens, vistas para tapar e um cliente que pouco acreditava na hipótese de ter realmente um jardim.
Apesar das muitas dúvidas (orientações solares, espessuras disponíveis de solo, localização de afloramentos rochosos, janelas do piso 1, etc.) e após horas de trabalho e vários esquissos, surgiu uma proposta para a organização e ocupação do espaço.
Primeiro localizaram-se os elementos arbóreos que se consideram fundamentais e que serão no futuro os elementos referenciais do espaço. As árvores vão marcar a entrada principal e criar pontos de transição ao longo do jardim. As espécies seleccionadas são de folha persistente e de grande impacto visual (pinheiro manso, cipreste e o eucalipto de flor).
Com estes elementos consegue-se obter contrastes de cor de folhagens entre o verde-escuro e o verde avermelhado tal como florações de grande beleza no fim da Primavera de tonalidade vermelha.
Ainda no que diz respeito à plantação de árvores colocou-se uma oliveira estrategicamente inserida no jardim central de modo a ser vista do interior a partir de diferentes locais da habitação (hall, biblioteca e sala) encontrando-se inserida num desenho de círculos de alfazemas sobre relvado. Este espaço assume especial importância no contexto do jardim funcionando como um apontamento de verde no meio da casa e faz a transição para a área da piscina.
Veja na página seguinte: Zona de refeições inovadora
Zona de refeições inovadora Um dos espaços mais usados e importantes numa habitação é a zona de refeições. Infelizmente o espaço exterior que confrontava com esta divisão correspondia a um terraço de grandes dimensões (sobre a garagem) sendo pouco acolhedor. A solução definida para este local passou pela colocação de um murete que permitia a aplicação de 40 cm de terra vegetal, o que viabilizou a instalação de um pequeno jardim que reduziu a área destinada a pavimentação. Neste canteiro plantaram-se arbustos e herbáceas de pequena volumetria e de diferentes tonalidades (festucas, santolinas e pitosporo anão) e um relvado de forma a garantir as vistas para o vale. Apenas uma oliveira-do-paraíso é colocada de forma pontual sendo o elemento de maior volumetria. O revestimento da laje na zona destinada a estadia fez-se com um ripado de madeira que garante a continuidade entre o interior e o exterior e dá uma grande sensação de conforto. Ainda nesta área foi implantada uma área de barbecue e mobiliário. Conseguiu-se desta forma oferecer uma escala mais acolhedora, levando a que os proprietários usufruam do espaço exterior de forma intensa. Ao longo do muro de vedação aplicaram-se buganvílias que são responsáveis por florações em tons de rosa carmim durante o Verão. Este espaço, antes considerado como pouco atractivo passou a ser um dos locais mais utilizados. Entre a entrada principal da casa e a piscina e situado entre paredes tornava-se necessário estabelecer um caminho que permitisse a circulação pelo exterior. Tendo novamente por preocupação o facto de que o espaço exterior era demasiado restrito para se perder área com a implantação de zonas pavimentadas, foi desenhada uma solução de jardim de inertes, que visualmente oferece a imagem espaço ajardinado, mas também permite a circulação de pessoas. Sendo a exposição solar favorável a aposta neste caso recaiu sobre espécies arbustivas e herbáceas de bonitas e prolongadas florações. Surgem da gravilha maciços informais compostos por acantos, malmequeres, gazaneas, carex, cornus, santolinas, pitosporos anão, fotinia, lírios e festucas. Na cota mais baixa (piso 1) tem-se uma área de maiores dimensões tendo-se optado pela instalação de um relvado que possibilita um maior número de actividades. Os remates laterais do relvado são feitos recorrendo-se mais uma vez a maciços arbustivos e herbáceos com distintas volumetrias e texturas. Veja na página seguinte: O que foi utilizado na zona mais ensombrada Privacidade garantida Na zona mais ensombrada e protegida dos ventos são aplicadas couves de Nossa Senhora e guneras que formam um canteiro de grande efeito plástico quer para quem se encontra no interior da habitação e relvado quer para quem espreita do terraço situado no piso 2. Também aqui se utilizam inertes como revestimento do solo que permitem a saída para o jardim a partir da habitação. A colocação do maciço de gunera é feito estrategicamente de modo a impedir as vistas directas do relvado sobre as janelas, o que permite criar recantos com privacidade no interior e no exterior. No outro extremo do relvado e tendo por objectivo tapar vistas para a envolvente são colocadas paquisandras, verónicas, madressilvas a trepar por muros e vedações e um metrosideros. Uma plantação informal de árvores recriam o conceito de mata sendo colocada na zona exterior imediatamente envolvente da casa e numa cota baixa de forma a diminuir o impacto visual provocado pelos muros de suporte e fazer um melhor enquadramento visual do conjunto. Também para quem está na casa ou no jardim a presença das copas dos pinheiros mansos, carvalhos, loureiros e choupos permitem ter a sensação de continuidade do jardim e de maior distanciamento em relação às habitações vizinhas. As acácias existentes no terreno foram preservadas dado que tendo um porte adulto poderiam cumprir desde já as funções pretendidas para o espaço. Na área envolvente à piscina surgiu outro espaço de tratamento difícil pois se por um lado se pretendia colocar um pouco de vegetação de forma a diminuir o impacto visual provocado pelo muro de suporte e por outro desejava-se manter um percurso em toda a periferia da piscina. A solução final apontou para uma linha de bambus. Este espaço de reduzidas dimensões e repleto de condicionantes prova que é sempre possível ter um jardim desde que se goste de viver no exterior e do contacto com a natureza. Ficha Técnica Texto e fotos: Laura Roldão e Costa (arquitecta paisagista)
Designação: Jardim Particular na Trofa
Localização: Trofa (Minho)
Autora do projecto: Laura Roldão Costa
Data do projecto: 2004-2005
Ano de construção: 2005
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