Em 2007, a cidade de Nova Iorque, nos EUA,
teve um orçamento de 277 milhões de dólares apenas para
as ações de manutenção dos seus espaços verdes.

Nos
últimos 10 anos têm vindo a ser experimentadas diversas
abordagens e soluções que, por um lado, procuram diminuir
os custos de gestão destes espaços e, por outro, dotem os
espaços de iniciativas que gerem receitas.

Receitas essas que devem ser direcionadas
para cobrir essas mesmas ações de manutenção. Ao nível das tentativas de reduzir os custos de manutenção
identifica-se o recurso a vegetação que, se bem escolhida,
trará certamente uma menor carga de manutenção.
Outros esforços dizem respeito à captação de água
subterrânea ou superficial e ao uso de sistemas de rega otimizados,
reduzindo assim os encargos associados às regas.

Fomentar o processo de compostagem ou de vermiculação
é outra das ferramentas, usando assim os restos orgânicos
resultantes das ações de manutenção, criando-se um
composto orgânico, aplicado no terreno em vez de adubos
e fertilizantes. Trata-se, no fundo, do recurso a mecanismos
de proteção integrada, reduzindo drasticamente a aplicação
de fito-fármacos.

Iremos, assim, ao encontro das mais recentes
diretrizes comunitárias, que apontam para a inibição
de aplicação destes produtos em ambientes urbanos, pelos
riscos de contaminação que estes acarretam para as populações
que usam e que habitam na sua proximidade.

Proveitos económicos

Ao nível de soluções que constituam fontes de proveitos económicos
para as entidades de gestão dos espaços públicos,
houve historicamente uma primeira opção que passava pela cobrança de um determinado valor pela entrada. Contudo, e
perante a evolução que se fez sentir na sociedade na última
década e pelas exigências que tais alterações colocaram, esta
solução tem sido cada vez mais colocada de parte já que, indiretamente,
promove uma diminuição quer do público-alvo
destes espaços, quer dos seus utilizadores efetivos.


A realidade é que na última década quer os projetistas
quer as próprias entidades gestoras, um pouco por todo o
globo, têm vindo a apresentar ações que garantam estes
mesmos proveitos, sem restringir o acesso aos espaços
públicos. De entre estas ações destacam-se a exploração
de energias renováveis (com ênfase nas energias eólicas, pela pouco afetação de solo que acarreta e pelo efeito escultórico
que os aerogeradores ganham) ou a realização
de mercados com os produtos provenientes de explorações
agrícolas biológicas, em que uma percentagem variável dos
lucros gerados revertem para a entidade gestora.


Veja na página seguinte: Sustentabilidade versus compromisso social

Sustentabilidade versus compromisso social

É importante ainda estabelecer as correlações e iterações
que se estabelecem entre as diferentes componentes da
sustentabilidade.

Sendo a sustentabilidade ambiental
um dos temas centrais da temática dos espaços públicos
contemporâneos, esta não pode ser dissociada da sustentabilidade
social, já que atualmente um espaço público
acaba por ter como um dos seus objetivos corresponder
aos desejos e anseios de uma população.

Assinala-se ainda que o interesse ambiental expectável
destas áreas é que constituam mais-valias
pedagógicas, permitindo à população
urbana ter um suporte físico onde possam
assistir aos ciclos de adaptação dos ecossistemas
locais. E, associado a estas duas componentes,
surge a sustentabilidade económica, já
que sem meios financeiros para suportar
as ações de manutenção, estes espaços
caem no abandono, perdendo assim a sua
relevância, passando a constituir vazios
urbanos, desprovidos de interesse social e
ambiental, tal como o supramencionado.

Desafios atuais e futuros

Numa altura que os alicerces da nossa
sociedade começam a ser postos em causa
(escassez de água, aumento do preço do
petróleo, aumento da população mundial, a
afirmação das economias emergentes, entre outros), novas soluções
terão que ser desenvolvidas, visando espaços públicos
adequados à população e capazes de se diluir e resistir nas
dinâmicas de transformação da paisagem local.


Não só os grandes espaços como o Parque das Nações
(Lisboa), ou o Parque da Cidade (Porto) terão que ser reequacionados,
mas também os pequenos jardins de proximidade,
no qual os problemas apontados se farão notar muito
mais rapidamente e numa escala mais nítida.
Qualquer que seja a abordagem, uma realidade tem que
ser refletida. Ter espaços verdes que subsistam às crescentes
e inevitáveis mudanças do nosso globo.

Texto: João da Costa Rodrigues (arquiteto paisagista e membro da comissão de arquitetura paisagista da Associação Portuguesa de Espaços Verdes - APEV)