Durante séculos, as violetas, pequenas flores, utilizaram-se em medicina como anti-inflamatório ou antiepilético e foram integradas em códigos de simbologia cristã, nos quais se encontravam ligadas à Virgem Maria, à humildade e ao comedimento. Os primeiros registos históricos do uso de violetas, como plantas ornamentais e aromáticas, foram feitos na Grécia, na "Odisseia" de Homero no século XII da era anterior à cristã.
Quando se descreve o jardim que circunda a gruta da ninfa Calipso, diz-se que "floriam suaves pradarias de aipo e violeta". Séculos depois, surgem quando o poeta Píndaro, no século V dessa mesma era, se refere ao início da primavera, escrevendo que "as flores perfumadas trazem a primavera de doce fragrância". "Então brotam, sobre a terra imortal, os amáveis tufos de violetas", pode ler-se. E, também, num poema de Safo, no século VI da era antes de Jesus Critos, refere que "vós, donzelas, pelos belos dons das musas, de violeta cingidas".
As violetas pertencem ao género Viola (família Violaceae), que tem cerca de 400 espécies, das quais cerca de 90 na Europa e 15 em Portugal. As suas sementes têm um elaiossoma, uma estrutura nutritiva externa, rica em óleo, destinada a atrair os insetos, em geral formigas. Estes animais transportam, depois, as sementes para os seus ninhos ou para outros locais, e, deste modo, promovem a sua dispersão.
O que caracteriza as flores
As violetas-de-parma correspondem a um grupo morfológico bem definido, pertencente à espécie Viola alba Besser. E, em condições ideais, podem produzir flores fragrantes durante cerca de sete meses. Raramente produzem frutos e sementes. As flores podem ter mais de trinta pétalas, têm uma fragrância singular e delicada, distinta da fragrância das violetas comuns e as suas folhas (em forma de coração) são mais pequenas e fortes.
Origem e factos históricos
Existem várias hipóteses que tentam explicar a origem das violetas-de-parma. Um tratado italiano do século XVI refere a existência de violetas com inúmeras pétalas que cresciam nos arredores de Constantinopla, hoje Istambul, antiga capital do Império Bizantino. Alguns investigadores referem mesmo um documento que compara estas suaves e sedutoras flores a pequenas rosas com muitas pétalas.
As violetas-de-parma foram muitos populares no final do século XIX, na Europa e na costa leste dos EUA, quando existiam centenas de produtores que abasteciam os mercados das grandes metrópoles europeias, como Paris, Londres, Roma, Berlim ou São Petersburgo, além das norte-americanas, como Nova Iorque ou Los Angeles. Em França, existiam três grandes centros de produção. Nos arredores de Paris, em Toulouse e na Riviera.
As violetas na perfumaria
As flores eram vendidas em pequenos buquês ou comercializadas já cristalizadas e das suas folhas extraía-se o óleo essencial de violeta, que se utilizava na indústria de perfumes, quase toda situada em Grasse, uma pitoresca cidade francesa que é conhecida como a capital da perfumaria. No final do século XIX, a indústria de perfumes começou, também, a usar ionona, em substituição do óleo essencial de violeta.
A ionona tem uma fragrância semelhante à das violetas, embora tenha sido inicialmente obtida a partir dos rizomas de lírio Iris x germanica L. var. florentina (L.) Dykes. Ainda hoje, se podem adquirir rizomas de lírio desidratados e pulverizados, conhecidos nos países anglo-saxónicos como orris root, para conferir o aroma natural de violeta a pots-pourris, potes com uma mistura de pétalas de flores secas e especiarias que perfuma o ar.
As violetas e a aristocracia
No Reino Unido, durante o período vitoriano, estiveram muito ligadas à aristocracia. Quando, nos jardins do Castelo de Windsor, se mantinham cerca de 3.000 vasos destinados ao cultivo de três tipos violetas, duas delas eram violetas-de-parma (Marie Louise e Lady Hume Campbell). A terceira era uma violeta comum (Viola odorota L. Princess of Wales). Ainda hoje, a rainha de Inglaterra é uma grande apreciadora de buquês de violetas.
As violetas na atualidade
Atualmente, em Toulouse, em França, ainda existem alguns produtores, mas raramente se encontram buquês para venda. Quase toda a produção é para venda de plantas em vaso. O município organiza, anualmente, no início de fevereiro, uma festa de violetas e tenta manter viva a tradição, existindo mesmo uma Confraria das Violetas. No passado, as violetas-de-parma também se cristalizavam, mas esta prática desapareceu.
Atualmente, as violetas cristalizadas que se encontram no mercado são manufaturadas a partir de violetas comuns (Viola odorata L.) e a sua produção está centrada em Tourrettes-sur-Loup, nos arredores de Nice. Aí residem os últimos agricultores europeus que se dedicam, quase exclusivamente, à produção de violetas, sobretudo para buquês, para a cristalização, para o fabrico de xaropes e para a produção de óleos.
As violetas na literatura portuguesa
Em Portugal, as violetas foram muito populares, como se pode comprovar na literatura. Nas obra de Eça de Queirós ou de Florbela Espanca, abundam referências a violetas mas, tal como ocorreu em outros países, a sua produção e venda praticamente desapareceram.
Foram, parcialmente, substituídas pelas violetas-africanas, que são plantas muito distintas. Pertencem a um outro género (Saintpaulia) e família (Gesneriaceae) e são originárias da África Oriental, em especial da Tanzânia.
Como cultivar as suas violetas
As violetas-de-parma, que muitos jardineiros amadores e profissionais tanto apreciam, podem manter-se em vaso ou no solo. Contudo, não podem estar expostas a temperaturas muito baixas, nem ao sol direto e o solo deve ser bem drenado. Estas plantas produzem muitos caules longos e finos, que se devem cortar, para evitar o excessivo crescimento vegetativo e, deste modo, estimular a produção de flores.
Os exemplares desta variedade produzem um outro tipo de rebentos, arrosetados, que se podem cortar e plantar para produzirem novas plantas. As violetas são atacadas por pragas (afídios e ácaros) e algumas doenças (fungos). As primeiras combatem-se com o auxílio de produtos químicos adequados ou com luta biológica (joaninhas). As doenças podem evitar-se se as plantas não estiverem sujeitas a stresse hídrico.
As variedades que homenageiam condes e duquesas
No início do século XX, existiam dezenas de cultivares de violetas-de-parma, mas muitos extinguiram-se após a I Guerra Mundial. Atualmente, ainda se encontram disponíveis alguns dos cultivares mais populares. As variedades Duchesse de Parme e Marie Louise, homenageiam Maria Luísa de Áustria, segunda esposa de Napoleão Bonaparte, a quem, após a abdicação do imperador, foi oferecido o ducado de Parma.
Essa foi a região à qual o nome das violetas ficaria ligado. As violetas Conte di Brazza devem o seu nome ao conde italiano Filippo di Brazza, que as cultivava na região de Udine e as violetas Lady Hume Campbell evocam o nome da inglesa que as descobriu em Itália e as introduziu no comércio inglês. Um famoso floricultor francês, Armand Joseph Millet, escreveu, em 1898, sobre a importância das violetas-de-parma.
"Todos os que vivem em Paris, mesmo os que por aqui passam, em março e abril, admiram os magníficos vasos e buquês de violetas-de-parma (….) que enchem o ar da nossa metrópole com o seu doce perfume", redigiu. No início do século XX, partia, diariamente, da cidade de Toulouse um comboio que levava, para Paris, centenas de caixas com violetas dessa região, muito valorizadas pela sua fragrância e pela durabilidade.
Texto: Luis Mendonça de Carvalho (diretor do Museu Botânico da Escola Superior Agrária de Beja do Instituto Politécnico de Beja)
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