As plantas, como seres vivos que são, fazem parte de um ecossistema mais vasto que inclui muitos organismos prejudiciais mas também muitos organismos auxiliares. Todos os que auxiliam o homem na atividade agrícola ou paisagística, defendendo as plantas de pragas e/ou doenças. A maioria dos auxiliares que podemos ver em jardins são insetos, como as joaninhas, as crisopas e as vespas parasitoides, entre outras.

As aranhas, não sendo insetos, são também bastante comuns e desempenham um papel muito importante. A importância da presença destes organismos no jardim ou na horta é, por isso, essencial. É altamente desejável já que muitas vezes tornam desnecessária a utilização de pesticidas ou outras intervenções menos corretas com o ambiente. A sua presença é muito representativa da riqueza de biodiversidade de um sistema.

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Os jardins são frequentemente espaços muito artificiais, com demasiadas plantas exóticas e sem biodiversidade. Muitas vezes, existe demasiada preocupação em controlar as infestantes, havendo muito pouca desordem.

A biodiversidade gosta desta desordem, gosta de variedade. Este fenómeno nota-se particularmente bem em jardins urbanos, envolvidos por zonas edificadas, com pouca variedade de espécies vegetais.

As pragas desenvolvem-se melhor em jardins urbanos relativamente a plantas iguais em zonas rurais. A razão é a menor quantidade de auxiliares e os tratamentos com inseticidas que por vezes se realizam em ambiente urbano. Mas, tal como transformamos a paisagem para planear e desenvolver um jardim, podemos intervir para favorecer as espécies que nos ajudam a controlar pragas.

Para que os auxiliares se mantenham num jardim, é necessário criar condições. É importante saber quais são as espécies mais importantes, quando costumam aparecer, que plantas preferem habitar e por aí fora... O jardim deve ser entendido como um ecossistema que, ao mesmo tempo, seja esteticamente agradável e que forneça as condições necessárias para que os auxiliares sejam atraídos e aí permaneçam.

Os insetos mais importantes para o jardim

No caso dos insetos, estes são os principais e mais comuns auxiliares que surgem de forma espontânea num jardim ou numa horta. As crisopas são insetos delicados em que apenas as larvas são predadoras de vários tipos de pragas, incluindo afídeos, ácaros e cochonilhas. Os adultos alimentam-se de néctar e pólen em flores, põem os ovos perto de colónias de presas, costumam voar de noite e são atraídos pelas luzes das casas.

As vespas parasitóides, por seu lado, são auxiliares muito pequenos que põem os seus ovos no interior do hospedeiro. A larva da vespa desenvolve-se no interior do hospedeiro e no final emerge uma vespa perfeitamente formada, pronta a atacar a próxima vítima. Raramente conseguimos ver a vespa em si, mas os afídios parasitados são fáceis de identificar. Estes incham e ficam dourados e a este estado chamamos múmia.

Insetos úteis para o jardim e para as plantas

Os parasitoides são muito eficazes no controlo de algumas pragas devido ao facto de, num curto período de tempo, conseguirem pôr muitos ovos. Apesar das características de cada um, os grupos de auxiliares apresentados beneficiam com a presença de pólen e néctar perto da sua fonte de alimento principal, a praga. As fêmeas que se alimentam deles conseguem pôr mais ovos e, assim, gerar maior número de auxiliares.

Como atrair insetos auxiliares para o jardim e para a horta

Num jardim, é fácil fornecer pólen e néctar aos auxiliares, bastando para isso plantar espécies produtoras. Uma delas é a alisso. A Lobularia maritima é um excelente exemplo que, em plena floração, atrai grandes quantidades de insetos, tal como as margaridas e os malmequeres. A maioria das asteráceas são também muito boas opções para este fim.

O truque para o conseguir é criar zonas ou manchas de plantas que atraem os insetos auxiliares. Além disto, é importante garantir a presença de flores durante todo ano, o que pode ser difícil se contarmos apenas com espécies anuais ou vivazes. Outra solução passa pelo recurso às sebes. Estas têm aqui um papel muito importante dado que nos permitem fornecer alimento na forma de pólen e néctar enquanto fornecem abrigo aos auxiliares.

Durante o inverno, muito insetos hibernam em arbustos perto de fontes de alimento e o mesmo acontece no verão, quando alguns auxiliares se abrigam durante as horas mais quentes do dia. As espécies autóctones são ideais para atrair auxiliares, uma vez que estes insetos estão perfeitamente adaptados às mesmas. Além disso, existem na flora portuguesa muitas espécies de grande qualidade estética e adaptadas ao nosso clima.

Os tipos de sebes que deve privilegiar

As sebes deverão, sempre que possível, o que nem sempre sucede, ser variadas para fornecer vários tipos de alimento e em alturas diferentes do ano. Além de abrigo, pólen e néctar, algumas das variedades botânicas deste tipo fornecem presas alternativas aos auxiliares. Um exemplo é o loendro (Nerium oleander) que hospeda o afídeo Aphis nerii. Esta espécie apenas ataca o loendro e a dipladénia.

Na primavera, é frequente observar grandes populações de Aphis nerii nos rebentos jovens e nos botões florais. Estas colónias, por sua vez, atraem auxiliares que se alimentam dos afídios. Algo muito parecido pode conseguir-se com espécies anuais ou hortícolas. Na agricultura biológica é frequente a utilização de favas com um objetivo muito parecido com o dos loendros.

Insetos úteis para o jardim e para as plantas

As favas são atacadas por um afídio específico, o Aphis fabae, que prefere alimentar-se de leguminosas e, por isso, não constitui ameaça para a maioria das nossas ornamentais ou hortícolas mais comuns. Podem semear-se manchas de favas que, ao crescer, vão atrair Aphis fabae e este vai estabelecer colónias antes que haja colónias de afídios nas plantas que queremos proteger.

As colónias de afídios nas faveiras vão, depois, atrair auxiliares cedo, que é o que realmente interessa. Esta técnica tem várias vantagens, como sublinham muitos dos especialistas desta área. A primeira é atrair os auxiliares para perto das plantas a proteger. As favas enriquecem o solo, uma vez que capturam o azoto atmosférico. Além disso, têm ainda a vantagem de produzir… favas!

A criação de pontos de água

Além das plantas atraentes, é muito importante contar com a água para atrair auxiliares. Criar pontos de água permite a presença de alguns insetos predadores como as libelinhas e libélulas, mas também de anfíbios, répteis e aves. O essencial é criar um ecossistema que forneça as melhores condições possíveis aos seus habitantes para que estes cumpram as suas funções com eficácia.

Texto: Gonçalo Duarte (engenheiro agrónomo)