Melhores espaços verdes envolventes tornam as pessoas mais felizes e também mais produtivas. No caso das crianças, sempre ávidas de correrias e de brincadeiras ao ar livre, esse aspeto revela-se de uma importância ainda maior.
A remodelação dos espaços exteriores do Colégio de Nossa Senhora
do Alto, em Faro, permitiu compatibilizar a valência escolar com o valor cénico e patrimonial da quinta, criando novas condições de usufruto.
O projeto de reformulação do recinto desenvolvido implanta-se num
local caracterizado por um agradável
enquadramento cénico, mas onde se
identificava um espaço desarticulado
funcional e culturalmente relativamente ao edifício
escolar, ao palácio e aos jardins existentes. A quinta é um amplo espaço de recreio apelativo
e interativo, sem condicionantes e sem estereótipos
à imaginação do aluno, facilitando a liberdade de
movimentos e atitudes que acabam por marcar
positivamente um período fundamental de aprendizagem
das suas vidas.
Referimo-nos, por exemplo, à zona
da mata onde, quase por magia, as fantasias nunca
se esgotam. A terra, as folhas e as pedras comunicam e interagem num cenário protetor onde cada um é o
realizador cinematográfico da sua própria aventura. Relativamente à situação existente, além da
desorganização geral do conjunto, os equipamentos
infantis existentes encontravam-se aleatoriamente
localizados, evidenciando sinais de envelhecimento.
Um exemplo é o parque infantil da pré-primária, que se
localizava dentro do lago do palácio.
Veja a GALERIA DE IMAGENS DO PROJETO
Como estratégia de intervenção para a conceção do
projeto destacam-se os seguintes pontos:
- Compatibilizar a valência escolar com o valor cénico e
patrimonial da Quinta do Colégio.
- Criar áreas preferenciais de recreio dos 3 aos 6 e dos 6 aos
10 anos, sem as individualizar.
- Valorizar o enquadramento cénico da mata em relação
ao eixo de simetria, com destaque para uma peça original
da construção do palácio, que há algumas dezenas de anos
que se encontra descaracterizada, o Lago dos Leões.
- Estruturar o espaço de modo a compatibilizar a
funcionalidade com a fruição lúdica.
- Implementar espaços com identidade própria,
diversificados e apelativos na forma e no conteúdo,
capazes de interagir com o aluno.
- Potenciar espaços livres não proibitivos, sem
condicionantes onde a criança possa potenciar e valorizar
a descoberta, a imaginação a liberdade de escolha, as suas
ações e as do grupo e sobretudo a aprender a relacionar-se
a respeitar os colegas, a criar laços de amizade.
- Interpretar o recreio da escola como uma sala de
aula exterior, com características lúdicas mas também
pedagógicas.
- Criar condições de conforto e segurança a todos os
utilizadores (educadoras de infância, professoras, crianças
e eventualmente pais.
Veja na página seguinte: A solução encontrada para requalificar o recreio
A solução encontrada pela equipa de projetistas obrigou à reformulação
profunda da atual área de ocupação, implicando a
ampliação do recreio.
Considerou-se a transformação
de um espaço anexo ao recreio, localizado a nascente
do Lago, com bom coberto vegetal, mas com deficiente
drenagem hídrica.
Este espaço encontrava-se ocupado por diversos equipamentos e infraestruturas, algumas abandonadas
e outras mal implantadas, descaracterizando o conceito de mata
de enquadramento.
A área que afeta ao recreio para os mais novos (dos 3 aos 5/6
anos) terá uma área aproximada de 750 m2. Em relação à
área que será afeta aos alunos do ensino básico (6 aos 10 anos)
rondará os 670 m2, valor a que se poderá ser somar mais
1350 m2 se incluirmos a área envolvente do lago e o espaço de
interligação contínuo.
Pela dimensão dos trabalhos a realizar e os elevados custo,
foi necessário definir uma calendarização adaptada às funções
pretendidas.
Recreio do jardim de infância
Promoveu-se à reformulação
da topografia local, com a conciliação com as infraestruturas
existentes. Criaram-se novas áreas informais e duas
caixas de areia, com targets diversos. Implantaram-se
novos equipamentos, privilegiando-se a sua polivalência e
multifuncionalidade.
Utilizou-se a terra batida como pavimento
dominante, pela sua interatividade nos jogos e brincadeiras
das crianças, adquirindo novas formas plásticas praticamente
inesgotáveis, nomeadamente desenhar, riscar, modelar, entre muitas outras. A nível da vegetação,
fizeram-se diversas transplantações, podes e alguns abates, de
forma a compatibilizar o novo uso com a situação existente de
mata abandonada.
Recreio do ensino básico
O atual recreio, em terra batida,
possui um excelente enquadramento em relação ao edifício escolar, palácio e jardins. Sendo destinado a
crianças entre os 6 e os 10 anos, e tendo um
público-alvo de mais de 100 alunos, houve que
reformular o espaço existente, aumentando
a área útil disponível. Criou-se uma nova
centralidade, um espaço de referência da escola,
polivalente na sua forma e função, facilmente
adaptável às diversas valências escolares e
protegido dos ventos frios.
Recorreu-se ao
desenho de pavimentos como estrutura de
organização do espaço, potenciando usos
e apropriações espontâneas. Recorreu-se
assim ao betão poroso como material na
zona central, com desenhos geométricos à
base de quatro cores. As calçadas existentes
foram mantidas. Foram feitos alguns abates, por razões
de segurança, tendo-se utilizado os troncos como um
mobiliário urbano improvisado.
Zona envolvente do lago
A centralidade do lago em relação ao
palácio e espaços de recreio, faz desta área o ponto de encontro e distribuição estratégico para os dois leques etários previstos.
Dessa forma, pretende-se recriar antiga ambiência do lago,
recuperando-se a funcionalidade do lago, reconstruindo-se a
zona verde que outrora envolvia o lago e o restauro do elemento
escultórico central, formado por uma taça de pedra calcária,
suportada por três leões de bronze, de onde brotam três repuxos
de água.
Texto: José Brito e João da Costa Rodrigues
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