Jardins mediterrânicos é uma expressão que consegue englobar paisagens de muitas culturas diferentes, com uma história e tradição riquíssimas. Países como a Itália, Grécia, Espanha, França ou Turquia habitam nas margens do Mar Mediterrâneo e têm em comum um clima temperado com verões quentes e invernos instáveis e húmidos.

Portugal, apesar de não ser banhado por esse mar, mas sim pelo Oceano Atlântico, é fortemente influenciado por este clima, sobretudo nas regiões centro e sul. Cor e luz são características essenciais do estilo mediterrânico. São frequentes as encostas ensolaradas, as colinas, as vinhas, olivais, pomares, pátios, terraços e varandas soalheiras decoradas com vasos de cerâmica.

Planeamento do jardim

Quando se está a planear um jardim, o primeiro passo é perceber a sua função, nomeadamente o que se pretende e o que é necessário para se criar o jardim de sonho. Depois, tendo em conta o espaço disponível, devem ser definidas áreas de descanso, contemplação, convívio e/ou recreio. Várias questões devem ser colocadas:

- Vai ter rega automática?

Os jardins sem rega automática podem constituir uma prisão, no tempo de férias, e significar maior gasto de água, porque a distribuição não é otimizada. A rega gota-a-gota é muito eficaz quando são só canteiros.

- As crianças vão utilizar o jardim?

Em caso afirmativo, pode optar por uma zona com relva ou com pavimento confortável, ou então fazer uma caixa de areia para eles brincarem, colocar um baloiço ou uma baliza.

- A manutenção vai ser assegurada por si?

Se não se tiver a ajuda de jardineiros profissionais, deve optar por mais áreas de pavimento, menos canteiros e escolher plantas que necessitem de pouca manutenção, como as espécies da nossa flora, catos ou suculentas.

A sustentabilidade ambiental e o uso racional da água é uma preocupação?

Então os jardins mediterrânicos são uma excelente solução. Um planeamento cuidado permite tomar as melhores decisões e criar um jardim funcional, económico, acolhedor e esteticamente agradável, de modo a incentivar a interação do homem com a natureza. Nos jardins mediterrânicos, as sombras são essenciais para reduzir a insolação e tornar os jardins mais frescos e confortáveis.

As pérgolas cobertas com trepadeiras podem ser excelentes soluções para proteger zonas de refeição ou de convívio, no jardim. As árvores e os telheiros também ajudam a criar uma atmosfera abrigada e confortável. No estilo mediterrânico, pode optar-se por um jardim mais clássico e formal com a presença de sebes de buxos, figuras topiadas, e simetrias, ou então por um jardim semelhante à paisagem natural, com a disposição das plantas feita de modo aparentemente aleatória.

A água é um elemento quase sempre presente neste tipo de jardins, seja através de uma fonte, de um tanque ou de um lago. Os rockgardens, os caminhos de pedra e gravilha, os pavimentos em pedra ou tijoleira, as paredes pintadas de branco ou ocre com apontamentos coloridos são também características que definem as paisagens mediterrânicas.

Vegetação

A seleção de plantas é certamente a parte mais importante e bonita do projeto de um jardim mediterrânico. As plantas tradicionalmente usadas durante séculos são sobretudo espécies autóctones ou perfeitamente adaptadas aos solos predominantemente calcários e a temperaturas escaldantes no verão.

A flora mediterrânica oferece-nos uma grande diversidade de plantas (árvores, arbustos e herbáceas) adaptadas a diferentes ecossistemas, de onde podemos selecionar as mais adequadas ao nosso jardim, sem esquecer as nossas preferências estéticas, como o porte, a cor e a textura da folha e da flor, época de floração e frutificação, o aroma e por aí fora...

Os tons cinzentos e verdes escuros predominam nas folhas, as flores mais abundantes são o azul, roxo e amarelo, mas os aromas são uma das características principais da flora autóctone. As árvores de fruto são, também, uma presença assídua neste estilo. Uma escolha criteriosa do elenco vegetal ajuda a diminuir a manutenção do jardim, a frequência das regas e a necessidade de tratamentos fitossanitários.

Relvado

Existem alguns tipos de relva mais adequados aos jardins mediterrânicos, pelas menores necessidades hídricas e maior resistência a temperaturas elevadas. São as chamadas relvas de verão. São três as espécies que podemos encontrar no nosso país:

- Bermuda (Cynodon Dactilon)

A sua textura fina e cor verde escura são os seus grandes atributos. Nos invernos frios, a bermuda fica completamente castanha (só no Algarve é que se consegue manter verde durante todo o ano). É uma variedade muito utilizada nos campos de golfe e pode ser implantada rapidamente, com estolhos ou em tapete.

- Escalracho (Stenotaphrum Secundatum)

Tem uma textura grosseira e é muito resistente ao pisoteio e aos animais. É a relva de verão mais comum em Portugal. Tem a desvantagem de demorar pelo menos seis meses a fechar completamente, porque tem de ser plantada pé a pé e não existe em tapete. Tal como a bermuda, também entra em hibernação com o frio, não sendo necessários cortes neste período.

- Zoysia (Zoysia Tenuifolia)

Tem uma textura fina e confortável, é a relva que necessita de menos manutenção, menos cortes e menos regas, porque desenvolve um sistema radicular muito denso e resistente. Como sobrevive com uma rega semanal e três cortes anuais, é a relva ideal para casas de férias sem rega automática e com pouca manutenção. Existe em tapete, mas é mais cara e difícil de encontrar.

Dentro das relvas de inverno disponíveis em tapete, a mistura mais resistente ao calor e à falta de água é a mistura que tem como gramíneas predominantes a Festuca Arundinacea e a Poa Pratensis. Alguns produtores chamam-lhe precisamente relva mediterrânica.

Texto: Tiago Veloso (engenheiro florestal)