Se gosta de arranjos florais diferentes e de criações originais de inspiração étnica, então baseie-se nesta proposta de origem oriental. O shôka pode ser de estilo clássico (shôka shin), de estilo semi-clássico (shôka gyo) ou de estilo livre (shoka sô) e, dentro de cada um deles, temos três tipos diferentes consoante o tipo de recipiente, jarro, jarra ou vaso, que usamos, o que permite a elaboração de 27 arranjos florais diferentes. Em cada um deles, são definidos tamanhos precisos para a dimensão dos três galhos principais.
Três galhos que representam, segundo os entendidos, o céu, o homem e a terra, assim como a sua localização precisa de colocação no pica-flores. Estes arranjos florais decorativos, muito populares nalguns países orientais, podem ser realizados em jarras altas (fabricadas em bambu, em cerâmica ou em porcelana), em vasos ou recipientes médios (os clássicos são de bronze mas também podem ser usados vasos em cerâmica ou até mesmo em vidro) e vasos rasos (fabricados em vidro, em cerâmica ou em porcelana).
Ikebana shoka isshu ike de estilo gyô do tipo shin
Este é um símbolo celeste e deve ser encarado como tal. A montagem de um arranjo floral ikebana é, garantem os seus apologistas, um ato de amor ao universo, à simplicidade e à beleza. Deve, pois, ser realizado serenamente, como se estivesse a meditar de olhos abertos. Nele, será espelhado o seu estado de espírito quando escolhe o vaso/jarra, a base e as plantas e realiza o arranjo.
Sendo uma arte essencialmente simbólica, ao contrário de outras, é sempre o universo no seu todo que está presente. Incluindo o que nos rodeia. Embora muitas vezes pensemos que não, nós também fazemos parte de um todo harmonioso e é exatamente isso que esta arte de origem oriental celebra, nomeadamente a pertença, a harmonia e a simplicidade dentro da complexidade e a beleza.
Conselhos para o corte das plantas
A missão do artista floral ikebana é a de um cirurgião das flores. Quando cortamos uma planta, fazemos, no caule, uma ferida pela qual se escapa a seiva que ainda possui de reserva. O corte da flor, do ramo e/ou do galho deve ser feito dentro de água para que o ar seja impedido de entrar e a água penetre com mais facilidade na planta. Os vasos devem ser muito bem lavados com água e sabão e o kenzan, a ferramenta tradicional usada para o efeito, desinfetado com um jorro de água fervente antes de ser utilizado.
Materiais, ferramentas e utensílios necessários
Estes são os instrumentos de que vai necessitar para conceber o seu arranjo floral de inspiração oriental:
- Três pés de agapantos azuis ou outro espécime floral ou planta da época, pois os arranjos devem ser elaborados com as flores próprias da estação do ano em que se encontra. Assim que chegar a casa, coloque de imediato as plantas num recipiente com água fresca para que não murchem
- Um pedaço de carvão vegetal
- Uma tesoura de poda de tamanho médio em aço inoxidável. É indispensável para cortar as plantas e para lhes dar boa forma, sem as magoar muito. O corte é, posteriormente, feito dentro de água
- Um pulverizador para borrifar as plantas
- Um furador para dar entrada inicial num galho que seja mais duro com o objetivo de fixá-lo no pica-flores
- Uma bacia em plástico ou em inox para colocar água fria, onde serão cortados galhos, flores e plantas
- Um pica-flores, também conhecido como kenzan, palavra que significa montanha de espadas em japonês. Pode ser adquirido em drogarias e existe em diversos tamanhos
- Um vaso de cerâmica de tamanho médio
- Uma base. É parte integrante do ikebana e realça o arranjo floral. Pode ser de madeira, em laca, em charão, em esteirinha ou em bambu. Podem ser redondas, quadradas e/ou retangulares
- Arame de florista em várias espessuras e flexibilidades
- Uma toalha turca
- Uma base de plástico
- Um avental. Plastificado, de preferência
Como se processa a montagem do arranjo
1. Coloque o avental e, numa mesa, uma base de plástico e, em cima dela, o vaso que escolheu para realizar o arranjo.
2. De seguida, insira o kenzan já desinfetado no centro do vaso e deite água límpida até dois terços da altura do recipiente.
3. O passo seguinte é cortar os galhos que representam o céu, o homem e a terra dentro de uma bacia com água fresca. O céu deve ter quatro vezes a altura do vaso, o homem deve estar a dois terços da altura do galho do céu e a terra a um terço da altura do galho do céu.
4. Por fim, coloque de novo os galhos em água fresca e fixe-os no kenzan em linha reta, unidos de forma a que, quando olhamos para o arranjo, tenhamos a sensação de que os três galhos têm um tronco comum.
Texto: Maria Isabel Pereira
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