Entender a história e a razão do pensamento de Confúcio é entender a história da China clássica e medieval, com os seus princípios e valores. E estes perduraram até à revolução comunista no século XX, apesar de se terem degradado bastante pelo caminho. Tanto a história da China dessa altura, como a de Confúcio, são muito complexas e ricas. Talvez, por isso, se tenham fundido com tanta tranquilidade.
K’ung Fu-tzu (K’ung o mestre, latinizado como Confúcio) nasceu no reino de Lu em 551 a.C. e morreu em 479 a.C..
A cultura chinesa tinha já um passado longo, desde a Dinastia Hsia (2183-1752 a.C.), passando pela Dinastia Shang (1752-1112 a.C.) e a Dinastia Chou (1111-249 a.C.).
Conforme o poder dos senhores feudais ia crescendo, ultrapassaram o próprio imperador e estabeleceram uma nova capital, marcando o início do período Chou Oriental em 770 a.C. Durante os três séculos seguintes do período Primavera e Outono (até 481 a.C.), os diversos estados lutaram entre si para expandir as suas fronteiras. Os estados periféricos enfrentaram e puderam civilizar os bárbaros exteriores, enquanto os estados mais pequenos, mais cultos, eram permeáveis à invasão por todos os lados. Alguns homens destes estados, cultos e vulneráveis, começaram a desenvolver filosofias de paz e felicidade enquanto os estados periféricos enfatizavam a força e disciplina.
Estes conflitos continuaram após Confúcio e durante o período dos Estados Guerreiros até à unificação da China, pela forte mas efémera Dinastia Ch’in (221-206 a.C.).
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Os tratados de paz eram estabelecidos e rapidamente quebrados. A religião e a ética decaíam perante a eficácia da força. Lu era um estado pequeno e culto, constantemente atacado pelo vizinho Ch’i a norte. Dentro do estado existiam também conflitos e intrigas políticas entre as “três famílias,” com os direitos hereditários para governar, e os ministros e oficiais a desejar mais poder. Assassinatos, subornos, adultério e outros crimes eram comuns, apesar dos castigos serem severos.
Nesta sociedade feudal, os aristocratas começaram a multiplicar-se até serem demasiados para serem suportados pelo estado em posições governamentais e levarem o país à bancarrota. Assim, os aristocratas mais baixos, que eram cultos e educados, começaram a viver na pobreza como os agricultores ignorantes. O que poderiam fazer para resolver isso? Confúcio nasceu como uma luz nestas circunstâncias.
Como membro de uma família aristocrática, Confúcio deve ter tido a oportunidade de estudar os clássicos e de praticar a música e os desportos, como a pesca e o tiro ao arco. Que ele fez estas práticas, é-nos indicado num analecto: “Confúcio pescava, mas não com uma rede; ele disparava, mas não a uma ave no ninho.” Confúcio amava a música, como pode ser percebido num incidente aos 36 anos de idade, quando abandonou o perene caos político em Lu e viajou para Ch’i, o estado a norte. Aí, ele escutou a música da Dança da Sucessão comemorando o investidura do lendário Imperador Shun. Encontramos noutro analecto: “O mestre disse, ‘Não me tinha apercebido que poderia existir música que alcançasse tanta perfeição como esta,’ e durante três meses não conheceu o sabor da carne.”
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No entanto, ele teve a oportunidade de aprender os hábitos e a conduta que distinguiam um aristocrata. “Quando era novo, vivi em circunstâncias humildes, e aí adquiri a habilidade de fazer as muitas e simples práticas do povo. Precisa um cavalheiro de ter tantas habilidades? Não precisa.” Confúcio deu esta resposta a um oficial de alta patente, que duvidava de um homem de hábitos simples poder ser um sábio. O seu discípulo Lao devolveu esta resposta ao oficial: “O mestre disse ‘Não me deram emprego oficial e, assim, adquiri a habilidade para as artes mais simples.” Estas experiências ajudaram Confúcio a desenvolver uma sabedoria mais prática, percebida por mais pessoas. “Mas, a experiência prática, por si só, não é suficiente para se adquirir a sabedoria; tem de ser manipulada correctamente.”
Mencius descreve dois dos trabalhos de Confúcio e os objectivos a que se propôs em cada um. “Confúcio foi uma vez fiel de armazéns, então disse ‘só é necessário que as minhas contas estejam certas.’ Outra vez, esteve pastos a seu cargo e disse: ‘o meu dever, é o de simplesmente verificar que os búfalos e as ovelhas crescem bem e robustos.” A humildade e a habilidade de Confúcio eram um bom exemplo e deram-lhe um profundo conhecimento das pessoas mais simples.
Apesar das suas habilidade práticas e da sua reputação como sábio, Confúcio teve dificuldade em encontrar uma posição adequada no governo durante toda a sua vida, mesmo percebendo-se que ambicionava uma oportunidade dessas. Estava disposto a realizar qualquer tipo de trabalho, desde que fosse ético. Mas se o trabalho honesto não se encontrava disponível, sentia-se feliz continuando os seus estudos.
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Parece ter dedicado a sua vida à aprendizagem desde tenra idade. Reflectindo sobre a sua vida, muito próximo da sua morte, disse que aos quinze anos tinha preparado o seu coração para a aprendizagem. Nenhum professor é mencionado como tendo influência nele. Tem-se a noção de ter ficado sobretudo impressionado com as escrituras dos antigos, nos clássicos chineses. Mas um, despontava-lhe um interesse especial, O Livro das Mutações ou I Ching, ao qual dedicou os seus últimos anos: “Dêem-me um pouco mais de anos, para poder dedicar cinquenta anos ao estudo da Mutação, e estarei livre dos grandes erros.”
A família de Confúcio é raramente mencionada. A tradição diz-nos que ficou órfão muito novo e que o seu irmão mais velho era deficiente. Ele casou e teve um filho e uma filha. Escolheu um marido para a sua filha e também um para a filha do seu irmão. Dadas as dificuldades do irmão, Confúcio chamou as responsabilidades deste a si próprio. Uma das coisas que declarava, era que tinha servido o Duque e os seus oficiais na corte, e o seu pai e o seu irmão mais velho em casa.
Após ter servido o governo em diversas posições de pouca importância e as raras oportunidades de dar conselhos políticos, que fez Confúcio? Aparentemente, e conforme os seus conhecimentos e sabedoria iam crescendo, começou a atrair estudantes e discípulos. Ele era provavelmente mais suportado pelos seus estudantes, apesar de algumas vezes ter recebido um salário do governo. Disse que nunca se recusou a ensinar alguém que lhe trouxesse qualquer coisa, por muito pobre que fosse. Confúcio é o primeiro professor profissional de que há registos na China antiga.
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Pouco se sabe das actividades de Confúcio como conselheiro político ou professor até aos cinquenta anos de idade. Foi por cerca desta altura que Confúcio se deu conta da sua missão divina. É edificante perceber que quando ele olhou para trás, para a progressão da sua vida, mediu-a em termos do seu desenvolvimento interior, em vez das posições ou compromissos assumidos. “Aos quinze, a minha mente estava preparada para aprender. Aos trinta, o meu carácter estava formado. Aos quarenta, já não vivia perplexidades. Aos cinquenta, conheci a Vontade do Céu. Aos sessenta, estava tranquilo com qualquer coisa que ouvisse. Aos setenta, pude seguir os desejos do meu coração sem transgredir os princípios morais.”
Os cinquenta devem ter sido um momento de viragem na vida de Confúcio. Muito pouco tempo depois de ter assumido uma posição no governo em que era consultado para decisões importantes. Um incidente fez com que os seus conselhos não fossem levados a sério. Ironicamente, alguns dos seus discípulos conseguiram posições chave e progrediram no governo. Chi K’ang-tzu, que se tornou o líder das três famílias que governavam Lu, foi aconselhado pessoalmente por Confúcio para desenvolver uma boa governação.
Chi K’ang-tzu perguntou se havia alguma forma de motivação, pela qual ele pudesse induzir as pessoas comuns a serem respeitosas e leais. Confúcio disse: “Aproxima-as com dignidade, e elas respeitar-te-ão. Mostra piedade aos teus pais e delicadeza aos teus filhos, e eles ser-te-ão leais. Promove os que são capazes e treina os que são incompetentes; essa é a melhor forma de motivação.”
Percebemos facilmente que os conselhos de Confúcio davam bons exemplos e, por isso, as pessoas seguiam-nos. Mas este conselho deu poucos resultados na sua própria vida. De facto, as suas recomendações para seleccionar oficiais baseando-se nas suas habilidades e educação representam uma mudança importante na cultura chinesa, longe dos privilégios hereditários. Confúcio esteve, sem dúvida, não só ocupado a preparar-se a si próprio, mas treinando e educando os que vinham até si, para poderem servir um governo mais consciente.
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Com cinquenta e muitos anos, Confúcio abandonou o estado de Lu, viajando por outros estados, para verificar se conseguia aconselhar outros governantes a porem em prática os seus princípios. Mencius diz que ele partiu porque o Duque não seguia os seus conselhos.
Nesta viagem, e apesar dos seus muitos esforços e riscos corridos, inúmeros incidentes demonstraram-lhe o desinteresse dos governantes dos diversos estados. E regressou a Lu.
Poucos conselhos seus foram ouvidos pelo Duque. Para além de ensinar, Confúcio dedicou os seus últimos anos a trabalhar sobre alguns dos clássicos. Adicionou, inclusivamente, um grande número de comentários ao I Ching.
Os seus dois últimos anos de vida devem ter sido pesados, considerando o número de mortes entre os seus mais próximos. Primeiro morreu o seu filho e de seguida o seu discípulo favorito, Yen Hui. O seu discípulo de mais alta estirpe aristocrática, Ssu-ma Niu, teve uma morte trágica em 481 a.C.. No ano seguinte, Tzu-lu foi morto quando heroicamente tentou resgatar o seu líder em Wei.
Confúcio aparenta ter encarado tranquilamente a sua própria morte. Uma vez, quando estava muito doente, Tzu-lu perguntou-lhe se não podia orar por ele próprio, aos espíritos dos mundos superior e inferior. O mestre respondeu: “A minha prece é de há muito tempo”. Confúcio sobreviveu a Tzu-lu cerca de um ano e morreu aos setenta e dois anos de idade.
A devoção da sua vida foi a sua prece ao à Vontade do Céu.
Por Ishi
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