Era uma vez um homem que foi visitar um amigo. Assim que entrou na casa, viu que o amigo tinha um papagaio dentro de uma linda gaiola. O pássaro ao sentir a presença da visita gritou em plenos pulmões “Liberdade, Liberdade!”

O dono da casa ficou incomodado com a situação, mas decidiu ignorar o papagaio. Já o homem amigo ficou inquieto com a cena, mas, por respeito, manteve o silêncio. Uns dias mais tarde voltou a casa do amigo e o papagaio voltou a fazer exactamente a mesma coisa, gritou desalmadamente, "Liberdade, Liberdade!"

O coitado do homem ficou, desta vez, muito perturbado com o desespero do bicho. A angústia e a tristeza do papagaio não saíam da cabeça do bom homem. Um dia soube que o amigo, dono da ave infeliz, ia viajar e engendrou uma maneira de entrar na casa dele. Lá dentro foi direto à gaiola do papagaio e com um sorriso na boca e no coração, abriu a porta para, finalmente, o papagaio poder sair e desfrutar de sua tão desejada liberdade. A ave ao ver a porta aberta agarrou-se às grades no fundo da gaiola com um ar aterrorizado e gritou atabalhoadamente: "Liberdade, Liberdade…"

Vamo-nos colocar no futuro. Podem ser 20, 30, 40 anos à frente. Somos velhotes. Vamos fazer, inevitavelmente, um balanço sobre a nossa existência. As questões que nos vão assombrar são "Como é que vivi?", "Vivi com a intensidade que quis?", "O que é que conquistei?", "Vivi todas as aventuras que me fizeram estar acordado horas e horas com o coração a bater mais rápido?", "Amei o suficiente?", "Abracei todos aqueles que queria abraçar?", "Dei tudo o que tinha?", "Ajudei os que precisaram?", "Aceitei a ajuda dos outros em momentos delicados?", "Perdoei as fragilidades dos outros?", "Perdoei-me pelas minhas escolhas?", "Em que é que eu consegui melhorar, enquanto ser divino?", "Que legado deixo na Terra?" Sintetizando, perguntaremos: "Estou em paz para encerrar este ciclo de vida?"

Por norma, as respostas a essas questões são decepcionantes. O  silêncio responde a muitas delas, enquanto o nosso rosto perde o sorriso e o brilho. "E se?", "E se eu tivesse sido mais louca, mais espontânea, mais corajosa, mais livre?", "E se eu tivesse dominado o meu medo, a minha insegurança?" Tudo teria sido diferente… Deixei que as opiniões dos outros guiassem o meu destino, ou melhor, eu permiti que os outros tivessem esse poder sobre mim. Deixei de lado a minha responsabilidade pessoal, por isto ou por aquilo, mas sim, fui eu que permiti. (Uma não-escolha é também uma escolha). "Ai, se eu pudesse voltar atrás…!"

Nessa altura, vai ser tarde. Sabemos que há, em nós, formatações que são difíceis de superar. São ancestrais. Temos ultrapassando algumas, é certo, mas porque será que homens e mulheres sentem quase a obrigação de serem… normais?

Temos de casar antes dos 30 anos! Vamos ficar para tias! "As minhas amigas já casaram e eu fiquei para trás!" Depois, temos que ter filhos porque as primas já tiveram. Mais, temos que construir uma carreira brilhante, mesmo que isso nos custe vários sacrifícios, por norma emocionais. Porque é que eu tenho de…? Onde é que isso está escrito? Porque é que temos de ter uma vida idílica? Porquê?! Que exaustivo, Deuses! Que loucura! A nossa vida raramente é perfeita e se for é porque estamos em paz com o passado e com o presente. Algum de nós está?

Os filhos vão crescer e voar, a carreira acaba aos 65 anos e depois? Depois, restamos nós. "Era suposto sentir-me realizada? Mas não sinto. Só sinto que falta algo mais." Faltamos nós!

Quantas e quantas vezes, nessa altura da nossa vida ou noutras em que percebemos que estamos a fechar um ciclo, o vazio entranha-se e corrói a nossa vontade e até a nossa mente. Sentimo-nos perdidas. "O que é suposto fazermos daqui em diante? Quais são os objectivos agora? Novos objectivos, nesta altura?!"

Somos, de facto, seres estranhos. De forma consciente ou não, sonhamos com esta fase de teórica libertação (o entre empregos ou a reforma) para fazermos o que nos desse na real gana, verdade?! Somos livres! Finalmente, somos livres, mas o que fazemos com essa liberdade? Pouco. Somos todos papagaios fechados nas nossas gaiolinhas douradas que ansiamos, mais uma vez, de forma consciente ou não, por mais. Queremos tanto a liberdade, mas quantos de nós a vive genuína e plena?

A liberdade é irmã da responsabilidade. A liberdade, como qualquer outro ato, tem sempre repercussões, e isto assusta-nos. Sair de uma relação tóxica e abrir os braços à vida aproveitando novas oportunidades... Quantos de nós fazemos isso? Alguns, sim. Alguns heróis que superaram a curva do medo.

Medo - o arqui-inimigo da Liberdade

Ridículo - o arqui-inimigo da Criatividade

Segurança - o arqui-inimigo da Expansão da Alma

Reparemos, todos queremos ser bem-sucedidos, saudáveis, serenos, amados, mas, quantos de nós se entregam e vivem nessa frequência vibratória em consciência e de coração? Poucos. Queremos ser amados, mas construímos muros, "não vá eu magoar-me". Queremos ser elegantes e saudáveis, mas mantemos os mesmo hábitos alimentares e o ‘nhofe’ sentado mais de uma dezena de horas por dia. Este querer está apenas no plano das ideias. Então, e as ações, a vontade, a disciplina? Bom, isto seria matéria para outro texto.

Acerca também da liberdade vivemos numa época muito interessante em termos sociológicos: as mulheres são cada vez mais independentes (ou acham que são por estarem a sair do jugo do poder patriarcal, nomeadamente em termos financeiros. Muito bem, miúdas!"Um pequeno passo para as Mulheres, um salto gigantesco para a humanidade!”), mas e os homens? Eles estão perdidos. Senão são os providers que sustentam a família e a casa, então qual é o papel deles? (Um tema para um outro texto)

Então, vamos lá conversar acerca desta liberdade das mulheres. Será que elas são mesmo livres? A educação superior irá dar-lhes essa sensação liberdade que tanto ansiam - financeira e intelectual, sem dúvida. Sabemos que nas universidades de Direito, Medicina ou Engenharia, a maioria dos alunos é feminil. Seria interessante fazer uma sondagem para percebermos se a mulheres se sentem, de facto, livres.

Senão vejamos a pressão: estudam, casam, têm filhos, cuidam deles e do marido (sim, ainda), cuidam da casa, vão às compras, cuidam dos mais velhos. Por serem pragmáticas apanham fogos - logo, são Bombeiras -, assumem o compromisso consigo mesmas de se manterem jovens e bonitas - viva a autoestima! - então, que tempo resta para serem livres?

Mulheres e Homens deste mundo, temos tudo a aprender acerca do que é a verdadeira liberdade, porque a liberdade talvez seja termos estes compromissos e prioridades que nos preenchem o dia e a vida, mas ainda assim, sabermos que podemos mudar tudo no momento que quisermos. Eis, talvez, a tangível liberdade…

By Vera Xavier

Tarot & Life Coaching

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