Nestes dias em que se celebra o Equinócio da Primavera faz todo o sentido lembrar a história da primeira Primavera.

E esta história passa-se numa época em que os campos estavam inundados de flores todos os dias do ano e os homens desfrutavam de um tempo sem tempo, onde a natureza tudo lhes dava. Não havia, por isso, estações do ano e os dias eram todos agradáveis como convinha à condição divina.

A responsável por este feliz estado de coisas era Ceres, uma das esposas de Jupiter, filha de Crono e Reia e Senhora das colheitas, da terra cultivada e das estações do ano.
Mas, até para os Deuses, nem sempre tudo corre de feição...

Um dia, a sua filha, Proserpina, que brincava num campo cheio de belas e cheirosas flores, foi avistada por Plutão que, desde logo, se apaixonou pela sua beleza e, com um acordo secreto com Júpiter, se apressou a carregá-la no seu carro levando-a consigo para o seu reino. Desesperada, na sua dor de mãe, Ceres recusou-se a continuar a alimentar os campos e partiu em busca da sua amada filha. Entregues a esse abandono, os campos foram secando e nada voltou a crescer.

Vendo os homens padecer de fome, Júpiter resolveu interceder junto do poderoso Plutão e ajudar Ceres a resgatar a bela refém. Acontece que Proserpina já tinha comido alguns grãos deuma certa romã e já não era possível voltar à sua condição anterior, pois mantinha-se ligada a Plutão... Procuraram assim uma solução de consenso, a solução possível. Ela passaria 6 meses com a sua mãe na superfície e os restantes meses com o seu senhor no mundo das trevas.

Mesmo não conseguindo resgatar inteiramente a sua filha, numa demonstração de alegria, Ceres voltou a cobrir a terra de flores.

Como então, nesta época que vivemos celebramos esse momento de alegria em que a terra, paralisada pelo frio, renasce e floresce.

Nesta época lembramos que os ciclos se sucedem, que após a dor e a paralisia vem de novo a vida numa manifestação cheia de aromas e texturas que inunda os nossos sentidos.
Na nossa vida quantas dores nos fazem gelar os campos e paralisar? Lembremos assim que está na nossas mãos fazer como Ceres e não desistir de procurar o alívio da nossa dor.

E porque não fazer como Ceres que, mesmo perante uma vitória curta ou incompleta, dado que só podia abraçar a sua amada filha 6 meses em cada ano, usou o seu poder para a receber em alegria?...
Desta forma, nós, pobres e comuns mortais, podemos todos os anos, ao menos nesta época, celebrar a vitória da vida que explode e vence as trevas.

E em jeito de oferenda a Ceres, aqui ficam as palavras de Eduardo Leal…

Leia o poema na próxima página

Não sei se é das cores,

dos aromas frutados destes dias,

do frenesim dos pássaros

numa ilógica de voos improváveis...

mas, claramente,

antecipo outros sabores.

Proserpina regressando a casa...

a esta casa, outra,

onde ela volta

num caminho prometido, anunciado...

fugindo do silêncio escuro

do seu tempo de clausura.

Reclamando agora,

Rindo,

o despertar das flores,

a explosão dos frutos,

fazendo de si mesma, toda...

um corpo novo, lábios de mil cores.

E nós,

como Ceres,

aproveitando as horas, todas

e o seu cheiro,

forte, intenso

de animal com cio...

Traz consigo o fim do frio

de outras neves,

doutras águas prometidas.

Sementes à espera do momento,

do fazer do verbo,

da palavra acontecer!

O abrir dos olhos

o despertar

ainda tímido

deste bicho que nós somos...

feitos passos hesitantes

de desbravar caminho...

Ora vê como o sol brilha

e hoje aquece...

Sente os dedos de Proserpina

nos teus cabelos...

no teu peito...

em ti, como se fosses seu!

E relembra os ciclos todos...

os teus dias repetidos.

E transforma a Primavera

num novo ciclo.

Mais que um ciclo novo

um sentido por abrir...

ainda fresco como o dia!

Carmen Ferreira
Astróloga

Tel: 225028162 / 916324459

969607594 / 939224361
nemsodelua@gmail.com

http://nemsodelua.blogspot.com