Um dos aspectos de maior fascínio e que mais perguntas costuma suscitar quando se fala de Astrologia é sem dúvida a questão dos relacionamentos.

E numa fase muito embrionária no estudo ou no interesse pela Astrologia a questão coloca-se sobretudo na comparação de signos. Quantas vezes não ouvimos perguntas do tipo: “os carneiros dão-se bem com os gémeos?” e por aí adiante.

Neste aspecto sempre surge a tentativa de clarificar que ninguém é apenas um signo, que quando se fala genericamente de signo se está apenas a apontar o signo solar e que um mapa astrológico é uma combinação de factores muito mais complexos e dinâmicos.

Que envolve mais planetas, que envolve mais signos, que envolve aspectos (uma espécie de diálogo) e outros factores, que combinados nos dão então uma espécie de retrato da personalidade, na Astrologia Natal.

E que muitas vezes a pessoa pode ser de um signo (solar), mas que nem é essa a energia mais enfatizada naquele mapa, e que isso tem a ver com uma série de razões, como por exemplo o posicionamento dos outros planetas, que casas estão ocupadas, que aspectos têm mais força, etc…

Este será talvez o primeiro ponto quando a componente dos relacionamentos é assunto na Astrologia, a tal ideia da combinação “quase que fictícia” e “enganadora” de signos.

O segundo ponto a ter em atenção surge num nível mais avançado – e sério - no estudo dos relacionamentos sob a perspectiva astrológica.

E isso acontece quando a análise e potencial de uma relação é trazida ao momento, com o estudo da comparação dos mapas, recorrendo a técnicas como a Sinastria (a análise individual e depois comparativa dos mapas) e o Mapa Composto.

De facto, aqui, entramos num campo mais "elaborado" da Astrologia (natal e relacional). Quando um relacionamento é possível de ser analisado, observado, estudado, sob o prisma astrológico e com ferramentas que contemplam os mapas na totalidade.

Mas antes deste processo e antes que o estudante venha a cair na tentação de uma análise quase microscópica de aspecto por aspecto (o que acontece muitas vezes), fazendo de imediato mapas compostos, trânsitos de relação e deslumbrando-se ou decepcionando-se com cada ponto da sinastria, convém ter em atenção o seguinte:
antes da emaranhada, e por vezes complicada, análise minuciosa dos pontos comparativos e compostos dos mapas, é antes de tudo importante olhar os campos energéticos de cada mapa.

De que material são esses mapas feitos? Algo tão simples como: que elementos predominam?

Como diz o astrólogo norte-americano Stephen Arroyo, antes de tudo importa referir que somos alimentados pelos vários elementos. Elementos esses que são canais de base na linguagem astrológica. Que são frequências vibratórias nas quais cada um de nós se sintoniza.

E por isto importa também ver antes de qualquer análise mais elaborada quais as frequências que maior ênfase têm?

Sabermos que quando o ar (Gémeos, Balança, Aquário) predomina precisamos de estímulo mental, de alimento intelectual, de variedade, de comunicação, e se for o Fogo (Carneiro, Leão, Sagitário) pode-nos ser mais familiar a energia, o dinamismo, o entusiasmo, a vitalidade, a alegria.

E quando se trata da Água (Caranguejo, Escorpião, Peixes) precisamos de nutrição emocional, de empatia, de sensibilidade, de ligação sentimental. Enquanto a Terra precisa de realismo, de estrutura, de uma sintonia na capacidade de construir, de ter algo sólido.

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Na relação, o estímulo dos elementos, a sintonia dos “campos energéticos” de cada um, é um segredo fundamental para o bem-estar e prazer na relação. Mas mais do que isto – e sem pretender complicar o processo – também existe lugar a uma outra coisa: “a compensação”.

Sentirmo-nos atraídos por aquilo que não temos ou pensamos não ter.

Por exemplo, imagine que não tem Terra no mapa e sintoniza-se com alguém que tem muito Terra, e isso pode funcionar muito bem, sobretudo se tiver grande ênfase de Água (Terra e Água estão numa sintonia similar, tal como Fogo e Ar).

Pode imaginar isto também para alguém com muito Ar e falta de Fogo, que entra numa espécie de fusão com o companheiro/a, amigo/a, que lhe apresenta todo aquele campo de Fogo, toda aquela vida.

É também incontornável a questão de que “somos atraídos por aquilo que não temos” - e em Astrologia sobretudo com os pares Terra-Água e Fogo-Ar (por serem diferentes mas compatíveis em essência e nas suas qualidades primitivas).

Contudo, Stephen Arroyo defende a ideia de que quando isso acontece, quando essa compensação/atracção existe, a mesma ocorre por duas condicionantes fundamentais ao relacionamento:

  • Na primeira, em situações em que existe alguma inexperiência (ou juventude) e, por isso, a pessoa é atraída exactamente por quem representa – na sua perspectiva – o que ela não é ou não tem, e que, segundo S. Arroyo, é um processo que representa algum tipo de experiência a aprender.
  • Na segunda perspectiva existe maior maturidade na relação e, de certa forma, maior objectividade. E neste caso a questão da “atracção pelo que não temos” coloca-se sob o prisma de apreciarmos as qualidades do outro, as qualidades que de alguma forma estão deficitárias em nós.E esta ideia “do que nos faz falta” ainda ganha maior complexidade e fascínio quando entramos no domínio do jargão psicológico do animus vs anima, ou da luz vs sombra. Um assunto que podemos explorar no livro “Relacionamentos”, da astróloga Liz Greene, e que nos remete, novamente, para as noções do “sistema deficitário de cada psique”.No ponto em que a nossa sombra persegue a luz do outro. O que tu tens e o que eu não tenho (ou penso que não tenho).No livro, Liz Greene refere: “os relacionamentos que contém um elemento de ‘apaixonar-se’ inevitavelmente contém projecções da anima e do animus, e a curiosa sensação de familiaridade que se tem em relação ao ser amado é facilmente explicável pelo facto da pessoa, na realidade, estar apaixonada por si mesma”.

    Estes são, todavia, princípios muito abrangentes, e que embora importantes só por si podem também não bastar.

    A Astrologia ou a análise de um relacionamento sob a perspectiva astrológica pode ajudar, pode ser um abrir de portas fantástico na forma como nos vemos e vemos o outro, mas não trará certamente qualquer componente de felicidade ao relacionamento que ele já não tenha por si, ou, aliás, como promessa de si.

    É ainda essencial ver cada pessoa, e, sobretudo, estar atento à velha premissa “se ela antes de outra coisa qualquer está apta em primeiro para se relacionar consigo”, antes de se relacionar seja com quem for ou dizer que a culpa é do Saturno ou do Plutão…

    por Rita Moura