Há quase 40 anos que um grupo de voluntárias da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) mantêm a funcionar um pequeno cabeleireiro, onde as mulheres “choram mais do que antes de serem operadas”.

"O cabeleireiro começou a funcionar em 1972 porque considerávamos que era importantíssimo ter este espaço uma vez que durante a quimioterapia a perda de cabelo é muito traumatizante”, contou à Lusa a presidente da LPCC do Sul, Manuela Rilvas.

Todas as terças e quintas-feiras, uma pequena equipa de voluntárias ajuda a criar uma nova imagem às doentes.

“Oitenta por cento das mulheres vêm cá para rapar o cabelo e pôr peruca”, estimou Dinas Dias, coordenadora do espaço que funciona num dos pré-fabricados da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa.

Mas este é um espaço onde se tenta aperfeiçoar a imagem exterior mas, acima de tudo, melhorar o estado de espírito. “Estas mulheres sentem necessidade de desabafar e não há melhor sítio para o fazer do que num cabeleireiro”, acrescentou Dina Dias.

A teoria é corroborada pela psicóloga clínica da liga, Albina Dias, que salienta a “influência positiva a nível psicológico” daquele espaço onde “as pessoas sentem que estão a ser ouvidas por quem percebe bem o que estão a dizer”.

Teresa Pereira é cabeleireira voluntária há três décadas e está habituada ao ambiente, onde "as clientes desabafam" e as profissionais "puxam para cima".

“Os médicos dizem que elas choram mais connosco do que quando estão com os médicos e vão ser operadas”, revelou Teresa Pereira, contando que há dias em que tem dificuldades em abandonar o IPO: “Muitas vezes não conseguimos sair porque nos agarram a mão”.

As voluntárias tentam sempre recordar as histórias felizes, como a da paciente que apareceu com o marido para rapar o cabelo e, no final, ele também pediu para ficar careca ou das mulheres que fizeram tratamento quando tinham filhos pequenos e mais tarde aparecem com fotos dos netos.

Mas quando saem do cabeleireiro para fazer serviço nas enfermarias as histórias são sempre mais duras. Todas apontam a pediatria como o sítio mais difícil. Teresa Pereira salienta a força das mães “que choram sem lágrimas".

No final do dia, “sinto que dei qualquer coisa de mim mas que recebi muito mais em troca”, diz Teresa, que na sexta-feira comemora 31 anos de voluntariado no cabeleireiro da Liga.

Fonte: Lusa

16 de novembro de 2011