À medida que países europeus e estados norte-americanos consagram na lei os chamados “direitos LGBT”, como o casamento ou as várias dimensões parentalidade, mais as atenções se viram para regiões em que a vaga está ausente. Mas nem sempre essa atenção é estrangeira, como muitas vezes criticam os visados. O realizador e escritor Afdhere Jama é um exemplo do ativismo LGBT que não vem de fora.

Afdhere Jama nasceu em 1980 na Somália, país de maioria muçulmana sunita. A guerra civil obrigou-o a deslocar-se para o Quénia e, aos 15 anos, a radicar-se nos EUA, de acordo a Internet Movie Database. Foi aí, já depois dos 20, que se converteu ao Islão. Atualmente vive em São Francisco e está a preparar “Hearts”, com estreia prevista para 2015.

O filme é descrito como um retrato de casais gay nos EUA, na Alemanha, no Brasil e na Índia. O objetivo é o de “ir para além dos estereótipos”, escreve a publicação ativista indiana “Gaylaxy”.

Outros filmes do mesmo realizador, como “Angelenos” (2013), “Apart” (2010) ou “Rebound” (2009), giram em torno da identidade homossexual dentro de minorias étnicas.

É de referir, colateralmente, que a BBC emitiu em outubro do ano passado um documentário em dois episódios sobre a vida dos homossexuais no Uganda, no Brasil, nos EUA, na Rússia e na Índia. Intitulado “Stephen Fry: Out There”, o documentário baseia-se em entrevistas feitas pelo ator e comediante Stephen Fry, que em 1997 encarnou Oscar Wilde no filme biográfico “Wilde”, de Brian Gilbert.

Para além do cinema, Afdhere Jama dedica-se à literatura. Assinou em 2008 “At Noonday with the Gods of Somalia”, antologia de poemas homoeróticos. E no ano passado publicou “Queer Jihad: LGBT Muslims on Coming Out, Activism, and the Faith”, livro sobre muçulmanos que tentam viver a homossexualidade ao mesmo tempo que se mantêm fiéis à religião. O título, lê-se na introdução, é inspirado no de um blog que Afdhere Jama descobriu em 1997 e que o ajudou a assumir-se.

Há dias, o escritor-realizador anunciou no seu perfil do Facebook que está prestes a publicar um livro sobre a homossexualidade entre somalis: “Being Queer and Somali: LGBT Somalis at Home and Abroad”.

Bruno Horta