O perigo do escaravelho da palmeira que está a provocar a morte de milhares de exemplares um pouco por todo o país com especial incidência no Algarve e na
zona centro.

A região do Algarve é uma das mais afetadas
pelo
gorgulho-vermelho-das-palmeiras, como a revista
Jardins já tinha revelado na sua edição de agosto de 2010, mas a
disseminação da praga já se estendeu a outras regiões
do país e está a assumir proporções de especial
relevância em Lisboa.

O prejuízo é incalculável. Só a câmara municipal da capital tem à
sua responsabilidade mais de 3.000 palmeiras. Em termos patrimoniais
cada palmeira com 8 a 10 metros de altura está avaliada
em pelo menos 40 mil euros. Em termos paisagísticos,
imagine-se, por exemplo, e este não é um cenário
de excluir asseguram os especialistas em botânica, a Avenida da Liberdade ou a Avenida da
República completamente despidas de palmeiras.

«É uma luta sem tréguas que vai evoluindo», explica à
Jardins Carlos Gabirro, engenheiro e sócio-gerente da Biostasia,
uma empresa especializada em tratamentos preventivos
e curativos dos efeitos do Rhynchophorus ferrugineus.
«Atualmente, temos Lisboa completamente contaminada
mas a praga está identificada em Sines, Setúbal, Cascais,
Espinho, Vila Nova de Gaia, Coruche, Coimbra, Grândola,
Santiago do Cacém, Álcacer do Sal, Setúbel e Montijo», refere.

A situação na Grande Lisboa ganhou porporções
muito superiores às verificadas no Algarve. Devido às
condições climatéricas da zona, em apenas dois anos os
danos são semelhantes aos registados no Algarve num
período de cinco anos. O escaravelho da palmeira entrou em Portugal em
2005 no Algarve por via de importações e exportações.
De acordo com este responsável, «basta um inseto num
contentor» para provocar a disseminação da praga.


O Rhynchophorus ferrugineus é uma praga muito resistente
e com elevada velocidade de propagação. A copa de
uma palmeira afetada pode albergar até 900 indivíduos.
Cada fêmea coloca entre 200 a 300 ovos que em média
têm uma inclusão na ordem dos 50%. «Mesmo que seja
apenas de 10%», alerta Carlos Gabirro, salientando que
não existe um método único de luta mas sim um conjunto
de várias soluções aplicadas em conjunto.

A disseminação do inseto na região da Grande Lisboa
já levou à morte de numerosos exemplares e a luta não
se está a afigurar uma tarefa fácil. Em fevereiro, Teresa
Antunes, do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa,
revelou ao Público a preocupação relativamente às cerca
de três centenas de palmeiras deste jardim histórico.
Nesse mês, o Jardim Botânico promoveu a aplicação de
um tratamento preventivo a 23 espécies mas admitia
«falta de dinheiro» para tratar mais palmeiras.


Veja na página seguinte: O problema das palmeiras mais pequenas

Este parece ser um dos principais problemas.
A empresa gerida por Carlos Gabirro trabalha com
diversos municípios com espécies afetadas e conhece
bem as limitações orçamentais.

Há que definir
prioridades, nomeadamente zonas e aplicar tratamentos
preventivos nas espécies mais emblemáticas ou mais
velhas. As palmeiras pequenas, explica este técnico, são muito mais difíceis de tratar.

«Era necessário haver
mais verbas e uma política bem definida. O Governo
canalizou as verbas para o combate ao nemátodo do
pinheiro e está a esquecer este problema», sublinha este especialista.

Como se trata de uma praga muito voraz, as
decisões e a atuação têm que ser rápidas. Isto é válido
quer para municípios com centenas ou milhares de
palmeiras quer para particulares. «No Algarve é possível
detetar a infeção precocemente. Em Lisboa, quando
detetamos, já se encontra numa fase muito avançada
e em muitos casos pouco há a fazer».
O tratamento preventivo de uma palmeira custa,
em média, 400 euros por ano. O mesmo tratamento
curativo atinge o dobro.


A Biostasia tem vindo a apostar no controlo
biológico do escaravelho da palmeira e utiliza a conjugação do Biorend R com o líquido aplicador
Quitosano no combate e prevenção da praga. De acordo
com Carlos Gabirro, a principal vantegem do Quitosano
é a promoção das defesas da planta. Trata-se de um
produto à base de quitina, o constituinte dos insetos. Além da morte das plantas, a disseminação do
Rhynchophorus ferrugineus arrasta consigo um problema
grave, a remoção dos resíduos de plantas abatidas.
Quando esta operação não cumpre os requisitos
de segurança, pode facimente provocar, por si só,
a dissseminação da praga.

O que fazer

Perante a suspeita de uma planta
infetada, a primeira opção deve ser chamar
os serviços camarários ou contratar
uma empresa especializada para fazer o
diagnóstico. A decisão tem que ser rápida:tratar ou
abater a planta. A recolha dos resíduos deve ser sempre
efetuada pelos serviços camarários para
evitar disseminação

Como detetar

Atualmente não é fácil detetar a
presença da praga. Existem palmeiras
afetadas sem qualquer sintoma
aparente. Até há poucos anos, era
suficiente observar as folhas da palma.
Se apresentassem uma espécie de
tesouradas, isso era sinal de que poderia
estar infetada. Quando uma zona se
encontra afetada, o mais provável é que
todas as palmeiras tenham sido atacadas
pelo Rhynchophorus ferrugineus.

Texto: Luís Melo