“E se houvesse uma maneira mais fácil de educar as crianças? Enquanto mães e pais, esforçamo-nos por conciliar as exigências profissionais e familiares, tentando encontrar tempo para nós e para desfrutarmos da companhia da nossa família, bem como contribuir para a comunidade, ao mesmo tempo que nos debatemos com sérias preocupações acerca da humanidade, do impacto das tecnologias e do futuro do planeta (...) Nós, (Junnifa e Simone) acreditamos que a filosofia Montessori é o antídoto para esta difícil conciliação. Podemos adquirir ferramentas para compreender os nossos filhos, adotar a sua perspetiva e criá-los com alegria. Mesmo, e especialmente, para um futuro cheio de incertezas”. Com estas palavras, as autoras do livro A Infância Montessori – A Criança dos 3 aos 12 Anos (edição Presença) dão-nos o mote para o terceiro volume de um guia que, como nos indica no subtítulo, chega para “educar crianças capazes, com mentes criativas e corações generosos”.

A educação Montessori é um método de ensino desenvolvido por Maria Montessori, educadora, médica e pedagoga italiana (1870-1952), focado na autonomia e na aprendizagem ativa da criança. O ambiente é preparado com materiais sensoriais e didáticos que incentivam à exploração. O professor atua como guia, observando e apoiando o desenvolvimento individual de cada aluno. A aprendizagem é baseada na liberdade com responsabilidade, permitindo que a criança escolha as suas atividades. A ênfase está no respeito pelo ritmo de cada estudante e na autoeducação. Este método procura formar indivíduos independentes, críticos e confiantes.

Simone Davies e Junnifa Uzodike são professoras Montessori certificadas pela AMI (Association Montessori Internationale) e autoras do blogue e conta no Instragram The Montessori Notebook.

No novo livro da série, o leitor encontra informação para educar e cuidar das crianças dos três aos 12 anos, incluindo um capítulo bónus sobre a fase seguinte: a adolescência. “A forma como as autoras incorporam os princípios Montessori neste guia prático permite usá-lo todos os dias, nas mais variadas situações, para tornar a nossa casa um espaço Montessori, despertar a curiosidade dos mais pequenos, incentivar a independência das crianças e proporcionar o melhor desenvolvimento social e moral dos nossos filhos”, lemos na sinopse à obra.

O guia conta com dezenas de atividades que promovem a aprendizagem e a progressão na leitura, nos números, nas artes e nas ciências, além de incentivarem a ligação com a natureza e ajudarem a construir um sentido de comunidade.

Da obra, publicamos o excerto abaixo.

Educar crianças curiosas

Enquanto guia de uma criança, podemos inspirá-la, deslumbrarmo-nos juntamente com ela e despertar a sua curiosidade. Podemos também proporcionar-lhe uma comunidade de pessoascom quem pode aprender, incluindo a nossa família, amigos, colegas, especialistas e pessoas da comunidade local.

Responder com curiosidade às suas perguntas

Em vez de dar sempre a resposta à criança, é divertido dizer: “Vamos descobrir juntos.” É fácil procurar algo na Internet, mas pode ser uma experiência mais rica procurá-lo num livro ou numa enciclopédia (podemos encontrar coisas maravilhosas enquanto estamos a pesquisar), telefonar a um especialista/profissional/avós/amigos da família com conhecimentos sobre o assunto, ou planear uma visita a um museu. As crianças aprenderão que, quando não sabem a resposta, podem descobri-la.

A criança de 3 a 6 anos tem uma mente absorvente consciente e, por isso, tem muitas perguntas. Pergunta-nos:"Que é isto?" e "Porquê?". Está à procura de explicações simples para as coisas que vê à volta. Podemos responder com paciência mesmo que faça repetidamente a mesma pergunta, porque queremos que nunca deixe de fazer perguntas!

Podemos responder: “Lembro-me de ter falado contigo sobre isso há pouco. Lembras-te do que te disse?” ou“Porque é que achas?”.

A criança de 6 a 12 anos tem uma mente racional e o poder da imaginação, pelo que as suas perguntas são agora em torno do “Como?” e do “Porquê?”. Quer saber não só os factos, mas a causa e o efeito das coisas. No livro A Mente Absorvente, a Dr.ª Montessori afirmou que a criança de 6 a 12 anos “não se contenta com uma mera coleção de factos: tenta descobrir as causas”.

Quando a criança faz perguntas sobre temas como raça, sexo, guerra ou violência nas notícias, pode ser difícil saber como responder. Britt Hawthorne, educadora, oradora, e ativista antirracismo e antipreconceito, sugere que façamos o seguinte:

  • Perguntar-lhe o que já sabe.
  • Perguntar-lhe em que está a pensar.
  • Dizer-lhe que estamos contentes por ter perguntado.
  • E se nós próprios não soubermos a resposta, combinamos uma altura para voltarmos a debater o assunto em Para mais ajuda para responder a perguntas difíceis, ver capítulos 6 e 7.

Uma outra ideia que adoramos é a "parede das perguntas". Vem do livro de Julie Bogart Brave Learner [Aprendiz Audaz], sobre o qual tomámos conhecimento através da educadora Montessori Pilar Bewley. Quando a criança faz uma pergunta, em vez de lhe darmos

a resposta ou de a procurarmos imediatamente na Internet, podemos escrevê-la numa nota autocolante ecolocá-la na parede das perguntas. Depois, estas perguntas tornam-se tópicos para aprofundar, para usar como inspiração ou para procurar respostas num momento posterior.

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montessori créditos: Presença

Responder com curiosidade às suas afirmações

Por vezes, a criança repete coisas que ouve, ou diz algo que sabemos não ser verdade, ou pensamos que está a dizer uma coisa quando quer dizer outra completamente diferente.

Nessas alturas, é fácil envergonhá-la ou corrigi-la, mas isso pode levá-la a dizer menos, ou a ter medo de falar sobre esses assuntos no futuro, ou fazê-la pensar que não falamos sobre aquelas coisas. BrittHawthorne sugere que, se, em vez disso, respondermos com

curiosidade, ela saberá que não há embaraço algum em errar; podemos ajudá-la a corrigir o erro, ou aperceber-nos de que simplesmente não percebemos o que estava a dizer. Aprenderá também a verificar se ela própria percebeu algo corretamente.

Montessori
Montessori créditos: Presença

Poderíamos perguntar: “Podes dizer mais sobre isso?” ou “Deixa-me ver se percebi corretamente; que querias dizer quando falaste em                                                                                             ?”. Ela pode precisar de maisinformação, de saber que não dizemos coisas desagradáveis sobre a etnia ou a cor da pele das pessoas. Parauma criança de 6 a 12 anos, podemos explorar mais, por exemplo, perguntando: “Podemos pensar sobre isto de uma forma diferente?” ou dizendo: “Vamos pensar como é que isto pode afetar         .” Ou podemos ter percebido mal o que queria dizer e descobrir que não estava a dizer nada de problemático. A curiosidade permite-nosesclarecer o apoio que é ou não necessário.

Desafie-a a questionar as coisas e a tornar-se uma pessoa com pensamento crítico

Podemos ajudá-la a ser uma criança com pensamento crítico relativamente aos meios de comunicação que consumimos, ajudá-la a aprender aencontrar fontes fiáveis e a questionar a informação de diferentes perspetivas. Isto aplica-se não só à informação, mas também às expectativas da sociedade e ao pensamento sistémico.

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