Também conhecida como Trissomia 21, a Síndrome de Down é uma alteração genética que resulta de uma anomalia no processo de divisão celular do óvulo fecundado e que provoca um desequilíbrio genético, afetando o desenvolvimento corporal e cerebral do embrião.
Em Portugal, o Dia Internacional da Síndrome de Down, é momento para uma campanha de consciencialização a decorrer em escritórios, retail parks e centros comerciais, geridos e comercializados pela consultora imobiliária CBRE. A campanha é marcada pela iniciativa #DiferentesMasIguais, que apela ao uso de meias desemparelhadas, de forma a destacar a beleza da diversidade e da tolerância para com as pessoas com esta condição. Para isto, criou-se uma parceria com a marca portuguesa Chulé, que desenvolveu uma edição exclusiva de meias com cores e padrões diferentes. Meias distribuídas, entre outros, aos clientes, equipas de limpeza, segurança e manutenção.
No âmbito deste Dia Mundial do Síndrome de Down e da campanha de sensibilização #DiferentesMasIguais, o LoureShopping acolhe a presença do Semear, um projeto de inclusão social para jovens e adultos, aos quais é ministrada formação no setor agroalimentar e promovidas competências sociais. O objetivo é a integração destes cidadãos no mercado de trabalho. “A principal mensagem que pretendemos passar, através desta parceria, é a de consciencializar a população para a condição de Síndrome de Down, mas também alertar para o facto de não ser impedimento para a realização de tarefas que todos nós concretizamos”, diz-nos Joana Santiago, fundadora e presidente do Semear em jeito de introdução à entrevista que aqui publicamos.
No vosso site apresentam o Semear como a “concretização de um sonho”. Que sonho é este, entretanto materializado?
É o sonho de tornar real a inclusão de pessoas com deficiência através do trabalho. O sonho de poder mostrar à sociedade e empresas que a participação ativa da pessoa com deficiência é possível, é real. É também o sonho de colocar no mercado produtos competitivos e carregados de valor social e ambiental. Finalmente, é o sonho de provar a enorme mais valia da Inclusão para todos.
Desenvolveram um programa sustentável de inclusão social para jovens e adultos com dificuldade intelectual e de desenvolvimento. Quer explicar-nos quais as bases deste programa?
As bases são a elevada taxa de desemprego, o enorme risco de pobreza associado, o agravamento da qualidade de vida, a doença e os elevados custos para o Estado, das pessoas com deficiência em Portugal, bem como a escassez de respostas inclusivas para estes cidadãos.
Da teoria à prática, como se consubstancia este programa?
Trata-se de um programa integrado que engloba a formação, capacitação e inclusão no mercado de trabalho de pessoas adultas com dificuldade intelectual e negócios sociais de produção, transformação e criação de produtos social e ambientalmente sustentáveis.
Em 2014, iniciou-se o Semear Academia com o desenvolvimento de um programa de formação e capacitação para a integração profissional de pessoas com DID a partir do qual foram criados três negócios sociais com vista à criação de emprego para estas pessoas e mudança de mentalidades na sociedade para a valorização destes cidadãos.
Referiu a criação de três negócios sociais. Quer explicar-nos quais são?
Sim, o Semear Terra, um negócio social inclusivo que tem como objetivo empregar pessoas com DID [Dissociative identity disorder] e desenvolver competências socioprofissionais dos formandos do SEMEAR Academia. Caracteriza-se por uma produção e exploração agrícola sustentável com certificação de produção biológica (Kiwa Sativa) e venda de produtos hortícolas biológicos em cabazes ao cliente final, em restaurantes e mercearias. Adicionalmente, promove ações de team-building e voluntariado corporativo, tendo a educação ambiental presente.
Temos também o Semear Mercearia, um negócio social inclusivo que tem como objetivo empregar pessoas com deficiência e combater o desperdício alimentar. Tem como atividades a preparação, confeção e embalamento de produtos alimentares de fabrico artesanal em risco de desperdício, com a participação dos formandos e colaboradores com DID. Os produtos são vendidos numa loja online, superfícies comerciais e outros espaços comerciais. Envolve voluntários corporativos e individuais.
O terceiro negócio social é o Semear Cerâmica, projeto inclusivo em fase de implementação onde jovens e adultos com DID produzem peças de cerâmica utilitárias e decorativas com vista a criação de emprego auto-sustentável e contributo para o desenvolvimento económico do país.
Entretanto, o mais recente negócio social que criámos é o Restaurante Único. Para além de ser o resultado de uma excelente parceria entre entidades públicas e privadas, como o Centro Cultural de Belém e o Grupo Sushi Café, é um espaço de relação direta de pessoas com deficiência e a sociedade, através de refeições confecionadas com produtos dos nossos negócios sociais. Aqui, empregamos pessoas com deficiência e contribuímos para a criação de uma comunidade mais inclusiva.
Promovem o estabelecimento de pontes entre famílias, o Estado e as empresas com vista à inclusão das pessoas portadoras de deficiência no mercado de trabalho. Quer dar-nos alguns exemplos de sucesso neste propósito?
São muitos. Através da rede de parcerias estabelecidas com as empresas e cidadãos na sua capacitação para o acompanhamento e integração desta população, o trabalho promovido pelos formandos e formados, o envolvimento das famílias em todo o processo de autonomia dos seus filhos e ainda através da mobilização de todas as redes de suporte à vida como o acesso à saúde, habitação e alimentação. Torna-se possível a plena inclusão ativa das pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
Como avalia as políticas públicas no que respeita à integração das pessoas portadoras de deficiência no mercado de trabalho, considerando que Portugal apresenta, neste âmbito, uma taxa de desemprego elevadíssima. Aliás, os números contrariam aquilo que se escreve na Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, nomeadamente a sua integração sócio profissional.
Apesar de termos uma boa legislação alinhada com a restante Europa, estamos ainda muito longe de a pôr efetivamente em prática. Faltam a vontade política, os recursos técnicos e financeiros e sobretudo o investimento do Estado nas Organizações que sabem fazer bem este trabalho e que lutam diariamente para que sejam ouvidas, tidas em consideração e valorizadas pelo enorme contributo que dão à nossa sociedade.
Enquanto cidadãos como podemos apoiar a Semear? No caso das empresas como se pode substanciar esse apoio?
De muitas maneiras. Empresas e pessoas em geral ganham em conhecer o Semear pois podem ter oportunidade de participar ativamente em toda a nossa atividade, conhecer esta realidade e assim reconhecerem o valor que estes cidadãos trazem para a nossa sociedade não só a nível profissional como de valores tão importantes como são a verdade, a simplicidade a resiliência, a partilha e a capacidade de superação de barreiras sem nunca esquecer o seu papel e lugar.
Em momento anterior, a Joana referiu que “ainda persistem muitos tabus em relação à deficiência”. Que tabus são estes?
Todos estes tabus advêm da falta de conhecimento e não são mais do que preconceitos e estigmas com centenas de anos de história de pessoas com deficiência escondidas e maltratadas. Somos responsáveis por mudar esta realidade provando o contrário e educando a população a todos os níveis.
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