Lisboa recebe, entre os dias 23 de junho e 1 de julho, mais uma edição da FIA - Feira Internacional de Artesanato, a maior feira de multiculturalidade da Peninsula Ibérica e a segunda maior da Europa. Este ano, o evento, que atrai anualmente milhares de visitantes, é antecipado pelas FIA Talks, uma iniciativa da Associação Industrial Portuguesa (AIP) que visa pôr profissionais do setor a discutir temáticas que afetam o setor.
Fátima Vila Maior, diretora de feiras da Fundação AIP, refere a importância destas conversas numa antecipação àquilo que se passará este ano, já que nesta edição estará patente uma exposição que mostrará alguns dos trabalhos da artista plástica Joana Vasconcelos e dos estilistas Filipe Faísca e Nuno Gama. A primeira FIA Talks, que se realizou no atelier da designer, reuniu os três numa mesa redonda.
"A herança cultural no design contemporâneo" foi o tema que esteve em cima da mesa e os três refletiram sobre o impacto deste legado. Reconhecidos pela influência que o artesanato português tem no seu trabalho e pela reinterpretação que fazem dele nas suas coleções, os estilistas mostraram-se céticos quanto à continuidade destas artes e ofícios dado que são cada vez menos aqueles que se dedicam a estas atividades.
Nuno Gama refere mesmo que "as gerações de hoje são cada vez mais imediatas e não se preocupam com o aprender das tradições". Joana Vasconcelos, uma das artistas plásticas portuguesas mais reconhecidas internacionalmente, vai mais além e lembra que desde a realização da Grande Exposição do Mundo Português, em 1940, que não se estuda nem inventaria o património cultural português.
"Não existe um reconhecimento nem um apoio estatal e, se a situação não se reverter, será na nossa geração que se perderão uma série de tradições e de património", adverte a designer, que defende a urgência de políticas que os protejam. "Tem que se catalogar e classificar de forma organizada todo o nosso património cultural para que, depois, o possamos reinterpretar como quisermos", alerta a artista plástica.
Os três são unânimes na necessidade de manter vivas as nossas tradições, de as valorizar e de as levar além-fronteiras, até porque todos admitem não conseguir sobreviver sem o mercado internacional. "Para isso é preciso investir nelas, mostrá-las. Quanto é que investimos nos nossos artesãos para que possam ir lá fora mostrar o seu trabalho? Não é só pepetuar cá dentro", sublinha Joana Vasconcelos.
"Na FIA, estarão presentes 40 artesãos internacionais. Quantos artesãos nossos vão a feiras internacionais?", questiona a artista plástica, indignada com a fraca presença que habitualmente se verifica. "Queremos que o artesanato seja pensado, bem feito e bem elaborado para que possa ser levado a um patamar diferente e para que se possa dar continuidade a esse património ancestral", defendeu o estilista Filipe Faísca.
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