Duas inglesas, um gaulês, quatro russas, dois espanhóis, uma italiana, uma brasileira, duas francesas e dois portugueses… Podia ser o início de uma daquelas anedotas em que há sempre um português, um espanhol e um francês, mas não. São apenas as nacionalidades dos jornalistas, bloguers, influencers e assessores de comunicação que o InterContinental Hotels Group (IHG) convidou para virem viver in loco as festas dos santos populares na capital.

Muitos vieram a Lisboa pela primeira vez e ficaram deslumbrados com o que viram. «Pensava que Portugal era mais parecido com Espanha mas não tem nada a ver. A língua é muito diferente e a comida também. É muito mais histórico do que imaginava. As pessoas são muito simpáticas e muito educadas», afirma Becky Cope, jornalista freelancer, colaboradora habitual do site Dose.

«São muito alegres e bem-dispostas», acrescenta Asya Klyushnikova, assessora de comunicação da Hill+Knowlton Strategies, russa, que acompanhou as três jornalistas de Moscovo que participaram na ação. Amalia Zordan, jornalista italiana da revista do jornal La Repubblica, também enaltece esse aspeto. «São calorosas», considera. «Têm uma forma muito tranquila de estar mas, ao mesmo tempo, melancólica e cheia de joie de vivre», refere ainda.

«Lisboa é uma cidade muito bonita e muito limpa, com gente muito educada. A comida é ótima. O vinho também», elogia, em plena Avenida da Liberdade, enquanto as marchas populares descem em direção à Praça dos Restauradores. Um corropio de gente que, para alguns deles, é uma autêntica novidade. «Não temos nada que se assemelhe a isto na Escócia», assegura Gareth Law, jornalista desportivo do jornal The Scottish Sun.

Uma noite quente também por culpa do vinho

O arranque formal das festividades foi dado no Holiday Inn Express Lisbon - Av. Liberdade Hotel, onde o grupo ficou hospedado, com um brinde com vinho do Porto. Depois, a comitiva, como qualquer turista comum, seguiu de metro em direção a Santa Apolónia. O destino final era um arraial em Santa Engrácia. Na ementa, como não podia deixar de ser, sardinhas assadas, bifanas, caldo verde, chouriço e caracóis.

Habituada a passar férias em Espanha, Anna Wright, assessora de comunicação, já tinha comido sardinhas assadas. Mas nunca como as nossas. «Nunca pensei que se comessem tantas, para ser sincera. São muito boas, com o pão e com aquele molho que escorre, além do sal. Ainda para mais, as minhas eram das grandes. Nem sequer tive problemas com as espinhas. Até os caracóis estavam bons», assegura a inglesa.

«Surpreendeu-me muito a vossa gastronomia, que é muito mais forte do que a espanhola. Nós temos o hábito de jantar coisas mais leves e ontem estivemos num restaurante junto à Sé onde comemos arroz de favas com chouriço de cebolada. Estava delicioso mas é uma bomba», afirma María José Cayuela, bloguer, que também ficou rendida à pastelaria portuguesa, enquanto ajeita o cabelo.

«Não esperava que estivesse tanto calor», desabafa. A noite era convidativa mas o vinho e a cerveja e a música de baile também ajudavam à festa. Tomados por meros visitantes nacionais, quase todos acabaram na pista, a dançar com os habitantes locais. «Gostei muito do ambiente. É muito familiar», descreve María José Cayuela. «Acho muita piada à hospitalidade portuguesa. Senti-me muito bem-vindo», assegura Gareth Law.

Acham piada à festa mas do que gostam mesmo é da comida e das pessoas. Como os turistas vivem os santos populares
Acham piada à festa mas do que gostam mesmo é da comida e das pessoas. Como os turistas vivem os santos populares

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A desilusão com as marchas populares

Depois de Santa Engrácia, o grupo dirigiu-se à Avenida da Liberdade para assistir ao desfile das marchas populares. Pela primeira vez, ouviram-se críticas. «Fiquei admirada por só dançarem em determinadas zonas. Se fosse em Espanha, dançavam ao longo de toda a avenida. As pessoas que estão nalguns sítios só ouvem a música ao longe. Como só fazem isto uma vez por ano, nunca deveriam parar de dançar», condena María José Cayuela.

«As marchas populares de Lisboa são muito diferentes das do Porto. Estou a achar estas mais tranquilas. Lá, há mais gente. Quase que não nos conseguimos mexer», garante Rita Branco, a bloguer brasileira que, há uma dúzia de anos, trocou a agitação e a insegurança de São Paulo pela tranquilidade e pelo sossego da Maia, onde escreve textos para o blogue O Porto... Encanta (E Outras Viagens).

Alheia a essa situação, Amalia Zordan estava fascinada com as bancas de manjericos. «Acho que vou comprar um. Será que mo deixam levar no avião?», interrogava a jornalista milanesa, admirada com a profusão de gente nas ruas. «É uma festa muito grande. E o que comem é parecido com o que se come nas festividades parecidas que temos em pequenas aldeias nalgumas das regiões de Itália», garantia.

Asya Klyushnikova, em contrapartida, estava muito surpreendida. «Acho a comida típica um bocadinho estranha», admite. «É muito diferente da russa», justifica. «Mas as festas são muito divertidas, sobretudo por causa das pessoas», assegura. A beleza arquitetónica da cidade também a seduziu. «É muito diversificada», refere. «É muito colonial e mais histórica do que eu pensava», admite também a inglesa Becky Cope.

Bifes a cavalo, pregos e outras confusões linguísticas

Antes de se estrear nas festas populares da capital, a comitiva do IHG iniciou o dia em Belém. Foram provar os pastéis, viram o Mosteiro dos Jerónimos, o Centro Cultural de Belém e o Padrão dos Descobrimentos e almoçaram no restaurante Portugália. À semelhança da beleza dos monumentos locais, também o famoso bife com molho e ovo foi muito elogiado, apesar das confusões linguísticas.

«Estamos a comer cavalo?», pergunta horrorizada Rosa Pel, bloguer francesa de origem asiática, depois de lhe explicarem que os portugueses gostam muito de bitoques e de bifes com ovo a cavalo. O mesmo se passa quando fazemos referência ao prego. «Mas põem mesmo um prego [metálico] dentro do pão?», questiona, muito surpreendido, Gareth Law, o único vegetariano do grupo.

No caminho do aeroporto para o hotel, o taxista que o transportou já lhe tinha dado algumas dicas. «Tenho de provar vinho do Alentejo e do Douro», explica com uma pronúncia meio atrapalhada. Antes de ir ver o desfile das marchas, teve oportunidade de o fazer. «Não tenho razões de queixa. São ambos muito bons», admitia, entre risos, ainda de copo na mão. «Sim, o vinho é muito bom», opinava também Amalia Zordan.

Acham piada à festa mas do que gostam mesmo é da comida e das pessoas. Como os turistas vivem os santos populares
Acham piada à festa mas do que gostam mesmo é da comida e das pessoas. Como os turistas vivem os santos populares

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A comparação com outras grandes cidades

Depois do desfile das marchas, o grupo, que também teve oportunidade de visitar o MAAT - Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia durante a tarde, separou-se. A maioria, pouco habituada a andar a pé e ao calor, estava cansada e as jornalistas russas tinham de levantar-se cedo porque queriam ir a Sintra na manhã do dia seguinte. Os resistentes, os dois portugueses, a inglesa e o gaulês, andaram de arraial em arraial até às tantas da manhã.

O reencontro do grupo voltou a acontecer no almoço do dia seguinte, dia de Santo António, feriado municipal, à mesa do restaurante SushiCafé Avenida, para um menu de degustação de uma gastronomia que nada tem a ver com a portuguesa. A ideia era mostrar que Portugal dispõe atualmente de uma gama de restaurantes internacionais capaz de seduzir quem não gosta de bifanas e de sardinhas assadas.

Uma oportunidade para um último balanço. «Lisboa é um sítio que nos inspira e que quero voltar a visitar», promete Asya Klyushnikova. «Senti que as tradições aqui são mantidas e são vividas», acrescenta. «Fiquei surpreendida porque encontrei um Portugal muito autêntico e até inocente, de alguma maneira», afirma Amalia Zordan. «Lisboa é muito mais história do que eu imaginava. Sinto-a mais aqui do que em Paris ou em Roma», admite mesmo Anna Wright.

Acham piada à festa mas do que gostam mesmo é da comida e das pessoas. Como os turistas vivem os santos populares
Acham piada à festa mas do que gostam mesmo é da comida e das pessoas. Como os turistas vivem os santos populares

Texto: Luis Batista Gonçalves