Quando um animal de estimação entra na nossa vida, fá-lo incondicionalmente, passa a fazer parte da nossa família. É por isso que a sua morte nos abala de forma tão profunda. Millie Jacobs, pseudónimo de uma terapeuta britânica especializada em luto e trauma, deteve-se sobre o tema da perda para escrever o livro O luto por um animal de estimação (edições ASA). A autora recorre a testemunhos de pessoas que passaram por uma dor semelhante, assim como à sua própria experiência pessoal com animais e experiência profissional no processo de luto. Um dos públicos visados neste guia é o infantil, com palavras para os pais ajudarem os mais pequenos a lidarem com as emoções, superar a perda e honrarem os pequenos amigos. Isso mesmo percebemos no excerto da obra que aqui publicamos.

O que se diz a uma criança?

Seja honesto com o seu filho. Sim, pode ser tentador contar‑lhe uma mentira, como por exemplo, que o seu animal de estimação foi morar para outro lugar, mas isso pode realmente deixar a criança mais zangada. A sociedade muitas vezes sente necessidade de proteger as crianças da realidade, mas os acontecimentos desafiadores da vida ajudam a equipar uma criança para se tornar um adulto amável e compassivo, por isso, por favor, não caia na tentação de mentir.

A linguagem que escolhe é importante, por isso não tente suavizar as palavras dizendo algo como: “O teu gato adormeceu e não acordou”. É melhor ser franco com o seu filho e afirmar: “O teu gato morreu”.

Porque engordam e como emagrecem os animais (e a analogia que podemos fazer com os humanos)
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Quando usamos uma linguagem suave como “não acordou”, isso pode fazer com que as crianças tenham medo de ir para a cama e adormecer, por isso é de vital importância que sejam usadas as palavras corretas.

Tente não complicar a situação em demasia ou sobrecarregar uma criança com muita informação. Elas não precisam de pormenores. Dizer que o animal estava muito doente e depois morreu pode ser suficiente para algumas crianças.

A culpa de trazer dor e sofrimento à vida de uma criança

Como pais, temos uma vontade enorme de proteger os nossos filhos de qualquer dor e sofrimento, por isso é natural que nos sintamos culpados se a morte de um animal de estimação perturbar profundamente uma criança. Peço‑vos que se lembrem de que a morte faz parte da vida, tal como o nascimento, e todas as crianças precisam de aprender isso. Simplesmente não podemos proteger as nossas crianças de sofrerem perdas. Ao explicar‑lhe as coisas, estamos efetivamente a prepará‑las para a vida.

Como ajudar uma criança a lidar com a dor

Permita que o seu filho chore pela perda do seu animal de estimação sempre que sentir necessidade. Sim, pode ser tentador encorajá‑los a deixar de chorar e tentar fazer com que se concentrem noutras coisas, mas ao fazer isso não está a permitir que expressem a dor que estão a sentir.

Quando o nosso querido cão morreu, eu disse à minha filha: “Chora quanto quiseres, as lágrimas vão ajudar‑te a superar a dor”. Assim que ela soube que tinha permissão para chorar alto ou baixo, como quisesse, conseguiu passar rapidamente pelo processo de luto. Depois de algumas semanas, raramente chorava pela perda, só conseguia falar sobre o nosso maravilhoso animal de estimação e sorrir.

Sim, havia dias em que desatava a chorar de modo espontâneo, mas os episódios duravam pouco tempo e passavam rapidamente. A maioria das crianças lida com o luto muito melhor do que os adultos, pois elas permitem‑se sentir toda e qualquer emoção. A nossa dádiva como pais é dar a mão aos nossos filhos enquanto eles fazem a sua jornada através da dor.