Erika Hilton, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), foi eleita em São Paulo com mais de 257 mil votos e Duda Salabert, do Partido Democrático Trabalhista (PDT), com cerca de 208 mil em Minas Gerais.

Salabert votou no domingo vestindo um colete à prova de balas, devido às ameaças que recebeu em resposta ao seu ativismo e carreira política.

As duas foram vereadoras: Hilton na cidade de São Paulo e Salabert em Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, no sudeste do país.

Keila Simpson, presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), celebrou o evento inédito e disse ter sido o resultado de uma campanha “extremamente intensa” e de muitas batalhas durante o processo.

“São duas pessoas que estiveram em cargos eletivos e agora vão num cargo de maior importância no Parlamento federal, onde continuarão a levantar as bandeiras que as elegeram, mas também a legislar em benefício do povo brasileiro”, disse, citada pela agência EFE.

Nas eleições de domingo, três deputados regionais transgénero também foram eleitos nos estados de Sergipe, Rio de Janeiro e São Paulo, neste último caso como parte de um coletivo.

Para Simpson, a participação política da população trans pela primeira vez no Congresso significará uma “batalha dura” pelos resultados do Senado, já que boa parte dos seus novos membros é de ideologia “ligada à religião e fundamentalista”.

“Embora o saldo seja positivo, as eleições remetem-nos para um quadro muito forte de angústia pela forma como o Parlamento e principalmente o Senado foram constituídos, por conta de alguns senadores que foram eleitos e que são pessoas que não conseguem conviver com a diversidade que temos no Brasil”, destacou.

A presidente da Antra ressaltou que os resultados são consequência da escolha feita pelos eleitores “e a democracia está aí para ser respeitada”.

Este ano, o número de pessoas trans que aspiravam a um cargo eleito popularmente bateu um recorde no Brasil, com 76 candidatos, 44% a mais do que os inscritos em 2018, segundo dados da Antra.

A primeira trans a ocupar um cargo político no Brasil foi Kátia Tapety, como vereadora de Colónia, no Piauí, em 1992.

Nas eleições de domingo, o partido do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro – conservador e ligado a setores fundamentalistas -, conseguiu eleger oito senadores dos 27 lugares que estavam em disputa e deverá iniciar 2023 com a maior bancada da câmara alta, o Senado brasileiro.

Ao todo, o campo político aliado ao ‘bolsonarismo’ conseguiu eleger 18 senadores.

No domingo foi a votos um terço do Senado.

Somente sete dos eleitos para o Senado, segundo a imprensa local, são simpatizantes do campo político do ex-Presidente Lula da Silva.

Os números das eleições são à imagem de um país do tamanho de um continente: além dos 11 candidatos presidenciais, concorreram ainda 224 a governador, 243 ao Senado, 10.630 a deputado federal, 16.737 a deputado estadual e 610 a deputado distrital, nos 27 estados (contando com o Distrito Federal) no país.

Dos mais de 29 mil candidatos, 1.323 procuraram a reeleição.

Com 99,99% das secções eleitorais apuradas, o candidato presidencial do Partido dos Trabalhadores, Luís Inácio Lula da Silva, tinha 48,43% dos votos, contra 43,2% de Jair Bolsonaro.

Os dois candidatos disputam uma segunda volta no próximo dia 30 de outubro.

Em terceiro lugar, mas com apenas 4,16% dos votos, ficou a candidata Simone Tebet, enquanto o candidato Ciro Gomes ficou foi o quarto mais votado, com 3,04%.

Soraya Tronicke (0,51% dos votos), Luís Felipe D’Ávila (0,47%), Padre Kelmon (0,07%), Leonardo Péricles (0,05%), Sofia Manzano (0,04%), Vera Lúcia (0,02%) e Eymael (0,01%) foram os restantes candidatos às presidenciais de domingo.

Mais de 156 milhões de eleitores brasileiros foram chamados às secções de voto, onde estavam instaladas 577.125 urnas eletrónicas, espalhadas por 5.570 cidades do país.